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Ivan Guimarães

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Proletários e burgueses

Para a construção da teoria do valor-trabalho, Marx analisa os meios de produção e estabelece a grande distinção entre proletários e patrões ou burgueses

Karl Marx (Foto: Reprodução/Wikipédia)
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Quando cursei a graduação em Economia na PUC/SP, o currículo fora feito pelo saudoso Professor Paul Singer. Ele merece e terá um artigo exclusivo, mas aqui importa dizer que ele priorizava a leitura dos principais autores, e não dos manuais, comuns no ensino naquela época. Assim tive contato não com alguém que leu e interpretou, mas diretamente com as obras de Ricardo, Smith, Marx, Keynes, Marshal, Pareto e Schumpeter, entre outros. Foi uma parada dura, a cada semestre mais leituras. Mas inesquecíveis foram os dos dois tomos do livro I de o “Capital".  

Para a construção da teoria do valor-trabalho, Marx analisa os meios de produção. E estabelece a grande distinção entre proletários (que só tem sua força de trabalho para vender) e patrões ou burgueses (donos dos meios de produção).  

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Se na passagem do trabalho em oficinas para as indústrias isso fosse claro – quem era o trabalhador e quem era patrão, hoje há uma certa confusão. Isso por causa das empresas organizadas como sociedades anônimas (S.A.s), onde o controle do capital da empresa não tem "donos”, mas é exercido por estruturas financeiras. 

Como existem trabalhadores que detêm ações da companhia que trabalham (ou de outras empresas), e participam dessas estruturas, chegou-se a pensar que isso seria de alguma forma de socialismo. 

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Mas o tempo mostrou que as relações sociais estavam se adaptando e que se tratava de uma metamorfose do capital, que não altera a realidade dos trabalhadores. 

A conclusão dessa discussão foi que os trabalhadores eram claramente distinguíveis, e que os gestores, os "colarinhos brancos”, responsáveis pela administração dos negócios, eram os representantes dos patrões.  

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Esse raciocínio é válido até os dias de hoje, dentro do espectro do marxismo contemporâneo. Sindicatos de todo o mundo, marxistas ou não, não falam pelos executivos das empresas. Sindicatos são de trabalhadores, não de patrões. 

Mas o Sindicato dos Bancários de Brasília fez algo inusitado. Em seu portal de notícias (https://bancariosdf.com.br/portal/bb-queremos-negociacoes-para-um-plano-de-funcoes-justo/) eles comentam a notícia que a presidente do Banco do Brasil (BB) poderá ter uma correção salarial de 57%, atingindo mais de R$ 110 mil de proventos mensais. 

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O texto do esclarecimento parece ter sido produzido de afogadilho, com o objetivo de confundir os leitores, justificando envergonhadamente o aumento dos salários da presidente do banco. Não estou julgando o salário de um alto executivo do BB. Não é um papel que me deixe à vontade. Estou apenas olhando o papel do sindicato nesse imbróglio. 

Os dirigentes do sindicato são também dirigentes do Partido (PT). Se no passado essa dupla militância sustentou a resistência democrática, agora parece estar causando uma certa confusão. Esses dirigentes tiveram um peso enorme na indicação de principais dirigentes do banco. Como dirigentes políticos estão corretos. Mas não cabe ao sindicato defender a alta direção do banco. Um aspecto importante é que os salários da alta direção indexam os rendimentos de conselheiros, onde muitos desses dirigentes e políticos têm uma ou mais vagas.  Isso pode ser a ponta de um iceberg e o movimento sindical governista seu Titanic. 

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Executivos gostam de se distinguir dos demais trabalhadores das empresas, por suas supostas ideias criativas. No caso do BB, sem dúvida, são criativas em diversidade LGBTQUIA +, populações ancestrais e empoderamento de mulheres. Mas com certeza lhes falta criatividade e a compreensão de seu papel na reprodução da “economia da desigualdade”, da qual o Brasil é um dos campeões mundiais. 

Segundo o World Inequality Lab, no Brasil, os 50% mais pobres têm 1% da riqueza dos Pais e ganham 29 vezes menos que os 10% mais ricos. Me parece que a proposta em discussão reforça essa desigualdade. Afinal, entre o salário-mínimo dos terceirizados que fazem o trabalho braçal e os 110 mil propostos para presidente, existe um fosso por onde se perdeu a Esquerda neste governo.

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