Política e religião

É legítimo que igrejas trabalhem para que fiéis sigam preceitos que determinam, mas não é legítimo tentar estendê-los a toda a sociedade

É legítimo que igrejas trabalhem para que fiéis sigam preceitos que determinam, mas não é legítimo tentar estendê-los a toda a sociedade
É legítimo que igrejas trabalhem para que fiéis sigam preceitos que determinam, mas não é legítimo tentar estendê-los a toda a sociedade (Foto: Wadih Damous)


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"Amigos, vamos a mais um dia abençoado de vitórias! Com fé em Deus e vocês do meu lado, me sinto revigorado a cada manhã para seguir firme na luta pelo povo. Que Deus nos abençoe e sempre!# Vote 22." Esta frase está na página do Facebook de Anthony Garotinho, candidato do PR ao governo do Estado do Rio.

Um pouco abaixo dele nas pesquisas está o doublé de senador e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Marcelo Crivela, cuja maior base eleitoral está nos evangélicos pentecostais e cujo discurso apela, com frequência, para citações bíblicas. Recentemente foi, mais uma vez, criticado por manifestar posições homofóbicas, apoiadas numa leitura literal do Evangelho.

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Garotinho e Crivella estão disputando a liderança das pesquisas de opinião no estado. Ainda que, até a eleição, muita água vá passar sob a ponte, têm possibilidades de chegar ao segundo turno.

Na disputa presidencial, aparece em quarto lugar o Pastor Everaldo, numa posição intermediária entre os três candidatos mais fortes - Dilma Roussef, Aécio Neves e Eduardo Campos – e os chamados nanicos. O fato de usar "Pastor" como seu "nome político" deixa clara a intenção de buscar votos nos segmentos evangélicos. Como seu crescimento eleitoral contribui para que haja segundo turno, sua candidatura tem sido incensada por segmentos que querem evitar a hipótese de uma vitória da candidata do PT já em 5 de outubro.

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Ora, muitos segmentos religiosos têm expressão no Brasil e é legítimo que candidatos e partidos busquem interlocução com eles. Em tese esse movimento não é condenável. Acontece, porém, que muitas vezes, no afã de agradar as bases evangélicas, os candidatos incorporam o discurso dos pastores – que, em sua maioria, são extremamente conservadores. Então, a busca de interlocução tem como consequência um maior conservadorismo nas propostas dos candidatos e na política em geral..

Já na eleição presidencial passada, em 2010, temas como direitos de gays e aborto foram tratados de forma extremamente conservadora por conta da busca do voto evangélico. Ao longo da campanha, Dilma e José Serra fizeram concessões e passaram a defender posições mais atrasadas do que as que tinham defendido anteriormente, de olho no voto evangélico.

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Este ano há um grave risco de que isso se repita, até em grau maior. Haverá não só a pressão dos pastores e bispos reacionários, que, em boa medida, têm o controle dos votos de seus fiéis, mas também a presença de um candidato, o Pastor Everaldo, que vai puxar o debate nesse sentido.

A defesa do Estado laico assume importância e não significa qualquer hostilidade à prática religiosa. Pelo contrário. Só um estado radicalmente laico é capaz de garantir a mais ampla liberdade religiosa. Esta é uma verdade incontestável. Quando se trata de um país, como o Brasil, com enorme diversidade de cultos e religiões, ela é mais importante ainda.

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Assim, como temos um Estado laico, deveria ser proibido, por exemplo, que serviços públicos de saúde realizassem atividades religiosas como parte do tratamento oferecido aos pacientes. Hoje não é assim. Clínicas mantidas por igrejas evangélicas exigem que os pacientes participem de atividades religiosas. Já houve, até, denúncias de privação de alimentos para pacientes que não se dispusessem a tal.

Por outro lado, as igrejas – todas elas – devem pagar impostos, como qualquer pessoa ou instituição na sociedade. Não se justifica o privilégio hoje existente. Chegamos a um ponto que prédios religiosos não pagam IPTU e automóveis em nome de igrejas estão isentos do pagamento do IPVA. Por que isso?

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Por fim, um alerta. É legítimo que as igrejas trabalhem para que seus fiéis sigam os preceitos que determinam, mas não é legítimo que tentem estendê-los a toda a sociedade.

Que se reflita sobre isso nesta campanha eleitoral.

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