O fim da "dolce vita" de Marina

Marina precisará subir ao ringue e enfrentar o fogo cruzado da política. Nesse embate, são grandes as chances de que suas inconsistências, fraquezas e contradições as levem ao nocaute

Marina precisará subir ao ringue e enfrentar o fogo cruzado da política. Nesse embate, são grandes as chances de que suas inconsistências, fraquezas e contradições as levem ao nocaute
Marina precisará subir ao ringue e enfrentar o fogo cruzado da política. Nesse embate, são grandes as chances de que suas inconsistências, fraquezas e contradições as levem ao nocaute (Foto: Bepe Damasco)


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Em 2010, como candidata franco atiradora, sem nada a perder, ela foi incensada pela mídia para provocar o segundo turno. Até mesmo seus apelos obscurantistas, como a utilização eleitoral da questão do aborto, passaram incólumes pelos "formadores de opinião". De lá para cá, segue sendo tratada pelo establishment como um bibelô. Afinal, sobre ela sempre repousou a esperança conservadora de a disputa presidencial ser levada para o segundo turno. Mas agora chegou a hora da onça beber água. Marina precisará subir ao ringue e enfrentar o fogo cruzado da política, a luta encarniçada pelo poder, o jogo bruto da disputa. Nesse embate, são grandes as chances de que suas inconsistências, fraquezas e contradições as levem ao nocaute.

O retrovisor da história recente ajuda a entender a trajetória errática de Marina nos meandros da política real, despida das lantejoulas do seu discurso empolado. Com uma história de vida admirável, repleta de superações de toda ordem, Marina era uma estrela de primeira grandeza do Partido dos Trabalhadores. De deputada estadual no Acre ao Senado da República foi um pulo. Chegou ao ministério do presidente Lula, em 2003, praticamente como uma indicação unânime das entidades e dos militantes ambientalistas. Gozava também do carinho e da confiança irrestrita de Lula.

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Marina sempre sonhou em ser a indicada de Lula para sucedê-lo. Mas se queimou com o chefe depois de assumir posições públicas conflitantes com a linha desenvolvimentista adotada pelo governo, que se aprofundou desde que Dilma Rousseff assumiu a Casa Civil em 2005, em plena crise do mensalão. Reeleito em 2006, Lula fez de Dilma uma espécie de coordenadora do seu segundo mandato, já dando sinais de que pensava em escolhê-la como sucessora. Daí por diante foram vários os choques entre a ministra do Meio Ambiente e a chefe da Casa Civil.

Contrária à construção de obras de infraestrutura fundamentais para o desenvolvimento do país, como as usinas hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, na Amazônia, a ministra Marina não poupou esforços para dificultar as licenças ambientais necessárias às obras, levantando inclusive argumentos que beiravam o ridículo diante da importância estratégica dessas usinas, como a ameaça à procriação dos bagres.

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Foi quando trombou de vez com Dilma no ministério. Lula, não só se solidarizou com sua ministra da Casa Civil nessa queda de braço interna, como passou a dar reiteradas declarações à imprensa em favor da desburocratização das licenças ambientais, contra o excesso de questionamentos do Ministério Público em relação às obras e em defesa do caráter estratégico das hidrelétricas da Amazônia. Sem alternativa, Marina pede demissão. Sua ambição de chegar à Presidência a faz deixar, na sequência, o PT, partido que ajudou a fundar e onde era respeitada e muito querida.

Embora tenha alegado que o motivo da ruptura fora a insanável contradição entre seu idealismo ambientalista e o pragmatismo desenvolvimentista do governo e do PT, Marina foi movida fortemente por sua ambição de poder. Seu zigue-zague partidário dos últimos anos expõe a saga de uma política em busca de uma alternativa partidária que lhe sustente o sonho de chegar ao Palácio do Planalto.Nada mais tradicional.

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Primeiro concorre, em 2010, pelo PV. Mal os votos acabam de ser contados, sai do partido. Mergulha na aventura de criar a Rede e fracassa. Para se ter um ideia do vexame que significa a não criação desse partido, no mesmo período o polêmico, para dizer o mínimo, deputado Paulinho da Força criou o Solidariedade, enquanto descontentes desconhecidos de vários partidos obtiveram a legalização do Pros.Ganhou o reconhecimento da Justiça Eleitoral também um tal de Partido Ecológico Nacional. Moral da história : desde que haja um mínimo de disposição militante, está longe de ser difícil criar partido no Brasil. Ao contrário, só uma legislação frouxa e benevolente pode explicar a existência de mais de 30 partidos.

Para encurtar a história, depois de tentar valorizar ao máximo seu passe, a ex-ministra decide ingressar num partido tradicional, o PSB, e vira vice de Eduardo Campos. Rendida às injunções da política, insiste ainda com o discurso de que encarna o novo na política. Novidade cercada por economistas neoliberais. Novidade bancada pela Natura, empresa acusada de superexplorar trabalhadores do campo. Novidade que não tem compromisso republicano com o estado laico. Novidade financiada pele "revolucionário" Banco Itaú. Novidade libertária, mas defensora do creacionismo e contrária ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Novidade, mas com posições retrógadas e messiânicas no debate sobre comportamento.

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É esse "museu de grandes novidades" ( viva Cazuza !), que se apresentará ao eleitorado já a partir desta semana. Mas não terá como fugir à decodificação do seu discurso hermético. O que propõe no lugar da industrialização? Como um país de R$ 200 milhões de habitantes pode se desenvolver sem as hidrelétricas? Como fechar as contas do país sem o ímpeto exportador do agronegócio ? Se eleita, adotará a visão de Estado, segundo a qual o aborto é uma questão de saúde pública ?

A candidata do PSB tem menos de 50 dias para responder.

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Publicado no Blog do Bepe

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