Agressão a Mantega: ou petistas reagem ou param de ir a redutos de rico casca-grossa

No início, em vez de comunistas e judeus se organizarem e reagirem, deixaram que o processo de ascensão de intolerância germinasse. Deu no que deu. O Brasil não pode cometer o mesmo erro



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Em cerca de uma semana, dois ex-ministros dos governos Lula e Dilma foram alvos de baixarias em restaurantes: Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde de Dilma e ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais de Lula, e Guido Mantega, ministro do Planejamento de Lula e ministro da Fazenda de Dilma até o ano passado.

Mantega já fora vítima de agressão verbal em público em fevereiro, quando foi ao hospital Albert Einstein visitar um amigo doente. Padilha foi agredido verbalmente na semana retrasada no restaurante Varanda Grill, no bairro paulistano do Itaim Bibi.

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As agressões físicas e morais em público por razões políticas não estão ocorrendo somente contra petistas de carteirinha ou membros de governos petistas. Cidadãos comuns vêm sendo agredidos mesmo que não tenham preferência pelo PT. Basta usarem alguma peça de roupa vermelha e passarem ao lado de grupos radicais de extrema-direita que deram de fazer ponto em bairros "nobres" de São Paulo com a finalidade de promoverem essas agressões contra qualquer um que seja "suspeito" de ser petista.

Desta vez, Mantega foi agredido em um restaurante, segundo reportagem da Folha de São Paulo:

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"(...) Ao ouvir as primeiras provocações, o petista parou e perguntou quem havia falado com ele. Um senhor assumiu a autoria do comentário e disse que só não falaria mais em 'respeito' à mulher de Mantega. O ex-ministro tentou responder, mas foi interrompido por vaias. Dois clientes saíram em defesa do petista, pedindo 'educação' aos demais. O primeiro pediu que Mantega voltasse ao restaurante e o cumprimentou. O ex-ministro foi vaiado novamente e então deixou o local. Em seguida, uma senhora pediu que parassem com a provocação (...)"

Qualquer semelhança com o que aconteceu com judeus e comunistas durante a ascensão do nazismo não é mera coincidência. Trata-se do mesmo processo de envenenamento social que desencadeou um dos maiores horrores da história da humanidade.

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Porém, aqui vamos nos ater a agressões a pessoas públicas que participaram de governos petistas, como Mantega e Padilha.

Durante as duas agressões a Mantega e a agressão a Padilha, a reação dos agredidos foi pífia ou não existiu. Padilha ainda respondeu alguma coisa, porém de forma absolutamente contida, como mostra o vídeo da agressão que sofreu por parte de um ricaço paulistano há poucos dias. Já Mantega, nas duas oportunidades em que foi agredido, não reagiu.

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Esses ataques a homens públicos petistas só ocorrem em São Paulo e em locais frequentados por uma classe média alta ou rica que é bastante conhecida dos paulistanos. Este que escreve, assim como qualquer paulistano, sabe muito bem que esse tipo de gente está sempre por aí fazendo barraco.

Os endinheirados da capital paulista adoram fazer barraco em locais públicos. Maltratam garçons, funcionários do comércio e até uns aos outros. São pessoas grandiloquentes, cheias de "razão" que acham lindo incomodarem as pessoas ao redor com seus discursos furiosos quando se veem contrariados de alguma maneira.

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Particularmente, eu reagiria. Gente que começa a dar "piti" em um restaurante está incomodando as outras pessoas. É gente mal-educada que não sabe qual é a opinião dos outros no entorno, mas que acha que sua opinião tem que prevalecer e, assim, não se peja em abusar dos ambientes em que está inserida. Essa gente tem que ser enfrentada, a meu ver.

Tanto em uma situação como a que enfrentou Padilha quanto nas que enfrentou Mantega, eu responderia à altura. Ao agressor de Padilha, diria que é deprimente alguém que está almoçando em um restaurante tão caro ser contra um programa que permite que pessoas pobres tenham médico. Aos agressores de Mantega eu exigiria que respeitassem pessoas que estavam no local e que não concordavam com eles ou mesmo as que concordavam mas não se sentiam bem com baixaria em público.

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No caso de Mantega, por visivelmente ser uma pessoa educada e sóbria nas duas agressões que sofreu acabou dando vitória aos agressores ao sair com o rabo entre as pernas, apesar de ter sido defendido por pessoas civilizadas que estavam no local da segunda agressão. No caso de Padilha, sua frase sobre o programa Mais Médicos atender 64 milhões de brasileiros foi claramente insuficiente.

Há pessoas que não têm condições de se meter em bate-bocas públicos. Claro que é extremamente desagradável e estressante. Porém, deixar que esses fascistas atinjam seu objetivo é estimular novas agressões. Um homem público tem que pensar na coletividade e ao coonestar atitudes como essa ao não reagir, estão sendo cúmplices de seus agressores.

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Uma outra alternativa aos petistas eminentes, que podem ser reconhecidos e agredidos em restaurantes chiques e outros redutos da elite é deixarem de frequentar esses lugares.

Não foi revelado qual foi o restaurante em que Mantega foi agredido no último sábado, mas parece bastante verossímil que tenha sido em um restaurante sofisticado de algum bairro nobre de São Paulo.

Muitas vezes, vale mais a pena ir a um bom restaurante – no sentido gastronômico – em regiões mais populares da cidade do que frequentar esses espaços gourmet e sair aborrecido, caso não haja disposição para enfrentamentos. O que não dá para fazer é insistir em ir a esses lugares e, uma vez agredido, sair com o rabo entre as pernas.

Na Alemanha dos anos 1920, os setores daquela sociedade que eram fustigados nas ruas pelos nazifascistas optaram por suportarem calados as agressões. No início, em vez de comunistas e judeus se organizarem e reagirem, deixaram que o processo de ascensão de intolerância germinasse. Deu no que deu. O Brasil não pode cometer o mesmo erro.

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