A burrice está vencendo

A burrice habita nas altas esferas do poder e da representação parlamentar, que já deu mostras de não ter limites para impor enormes retrocessos

A burrice habita nas altas esferas do poder e da representação parlamentar, que já deu mostras de não ter limites para impor enormes retrocessos
A burrice habita nas altas esferas do poder e da representação parlamentar, que já deu mostras de não ter limites para impor enormes retrocessos (Foto: Demian Melo)


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A última dos teocratas no Brasil é a cruzada contra o que chamam de "ideologia de gênero" nas escolas. Certamente, como todo tipo de burrice que circula no país é só mais um pretexto para buscar restringir a autonomia pedagógica dos professores e professoras e criar uma interdição para que nas escolas não sejam discutidos temas tão caros como o da violência doméstica (que majoritariamente atinge as mulheres) e a igualdade de gênero. Para esses cruzados, a ideia de que homens e mulheres tenham direitos iguais é "um atentado à família tradicional".

A burrice não pára por ai. Fala-se também em "acabar com a doutrinação marxista nas escolas", a partir de uma pregação estúpida que acredita poder haver neutralidade no conhecimento e que na verdade esconde por trás a mais doutrinária das concepções pedagógicas. Um dos alvos da campanha é o filósofo marxista italiano Antonio Gramsci, tratado como um verdadeiro diabo por uma legião de imbecis que nem devem saber dizer em que época e onde viveu o líder comunista. Mas a burrice não pára por ai. Nesse movimento sobrou até para o pedagogo cristão Paulo Freire, cuja obra é uma referência internacional não só em programas de alfabetização no âmbito da UNESCO, como sua obra é estudada nas maiores universidades do mundo.[1] Num país em que astrólogo é tomado como referência filosófica, podemos esperar coisa bem pior.

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Em 1925, nos EUA, precisamente no estado sulista do Tennessee, o professor John Scopes foi condenado em um tribunal insólito por ensinar a teoria da evolução de Charles Darwin. Os fundamentalistas cristãos não queriam que os estudantes tivessem acesso a outro tipo de explicação para o desenvolvimento biológico do ser humano que não fosse compatível com a explicação da Bíblia. O episódio ficou conhecido como "o julgamento do macaco", pois até um primata foi apresentado no tal tribunal por aqueles que argumentavam contra a tese científica darwinista. Curiosamente, o darwinismo social, uma teoria reacionária e conformista que buscava explicar a desigualdade de classe e entre os países a partir da ideia de "evolução dos mais aptos" foi bem recebida entre os teocratas estadunidenses.

Voltando ao Brasil do século XXI, agora temos um Congresso Nacional dominado por teocratas, a começar pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que promoveu alguns cultos pouco republicanos naquela casa que deveria prezar pela sua laicidade. A burrice habita nas altas esferas do poder e da representação parlamentar, que já deu mostras de não ter limites para impor enormes retrocessos.

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Outra atitude burra estimulada é a de que os estudantes devem recusar e no limite denunciar o ensino de noções tidas como "contrárias à fé cristã", como, por exemplo, o respeito aos direitos humanos e mesmo a mais tênue empatia pelo outro.

Brasil, 2015: a burrice está vencendo.

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