Wyllys: "Wagner é mais carlista do que ACM"

Deputado do PSOL avaliou "novo momento" vivido pelo Brasil diante da força popular mostrada nas ruas e concluiu que "a maioria dos deputados e do Congresso está alheia às manifestações e à juventude"; Jean Wyllys comentou a postura do governador Jaques Wagner (PT) diante do movimento na Bahia e comparou o petista com o falecido ACM; "Jaques Wagner fez um governo carlista. Embora tenha sido eleito com a promessa de que enterraria o carlismo. Mas fez um governo carlista, mais do que os próprios carlistas"

Wyllys: "Wagner é mais carlista do que ACM"
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Bahia 247

Eleito pelo Rio de Janeiro, mas baiano de nascimento e de criação, o deputado Jean Wyllys (PSOL) avaliou o momento pelo qual passa o Brasil com a onda de manifestações iniciada há duas semanas com origem no Movimento Passe Livre.

Para Wyllys, o país não será mais o mesmo depois dos protestos que levaram milhares de pessoas às ruas pedindo melhoria no transporte público, na saúde e na educação.

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O socialista avalia ainda que o Congresso, em sua maioria, está ultrapassado e, de fato, não representa nem de longe o anseio do povo.

"A maioria dos deputados é alheia... Alheia aos novos tempos. É alheia ao fato de que essa juventude está em rede, que ela está articulada em rede. Os deputados não perceberam essa mutação, não estão nas redes sociais, não dialoga no Twitter com essa gente, não sabe o que está atravessando o corpo social, portanto, foram pegos de surpresa".

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Jean Wyllys fez comparativo e concluiu que o governo do ex-presidente Lula foi melhor do que o de Dilma Rousseff e comentou ainda a postura do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, Marco Feliciano (PSC-SP) e de Jair Bolsonaro.

Entre s alvos da metralhadora giratória, está o governador Jaques Wagner (PT), a quem o socialista atribui ter "traído seus eleitores". Para Wyllys, "embora tenha sido eleito com a promessa de que enterraria o carlismo", Wagner " fez um governo carlista, mais do que os próprios carlistas. Não só incorporando pessoas no seu governo mas se comportando, muitas vezes, de maneira autoritária e arrogante, tal qual o antigo cabeça branca. E olha que Jaques Wagner sequer aproveitou o que havia de bom no carlismo - sim, porque havia uma coisa de bom no carlismo. O carlismo, com toda a política paternalista que ele invocava tinha uma coisa bacana que se incorporava nas letras ACM - Arte, Cultura e Memória".

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Abaixo a íntegra da entrevista de Jean Wyllys ao A Tarde deste domingo.

A Tarde - Você julga representar os manifestantes?

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Jean Wyllys - Eu represento parte dessas pessoas que estão nas ruas. Representação não é uma coisa fácil, direta, dada. Representação é uma coisa difícil. E dinâmica, permanentemente sendo revista. Eu represento as pessoas que foram as ruas com uma pauta direta de reivindicação. As pessoas que defendem, por exemplo, um objetivo concreto, como o que aconteceu inicialmente em São Paulo e Rio, a questão das tarifas de transporte urbano e os gastos com a Copa do Mundo. Mas a manifestação foi se estendendo, as repressões policias foram crescendo e incorporando outra pauta, a questão da moralidade pública, ou seja, um uso adequado, republicano dos recursos públicos. Isso também tem a ver comigo. Mas aí quando foram crescendo ainda mais, se tornando espetáculo na televisão, elas começaram a atrair segmentos assustadores, dos fascistas.

Mas evidencia uma insatisfação geral, não é?

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Isso é fato. Mas evidencia mais do que isso, evidencia um povo que sempre se colocou à parte de uma participação política mais ativa, de acompanhar os mandatos, de ter participação política. E uma vez convocada, não sabe como é participação política, não saber fazer. E aí o que aconteceu? Os equívocos. Um, primeiro os fascistas foram para as ruas. Por exemplo, eu publiquei um manifestante que segurava um cartaz dizendo 'Não à corrupção, intervenção militar já! Impechment de Dilma já! Isso é uma defesa do golpe! Como ele tinha outras pessoas fazendo isso. A inabilidade, a falta de hábito da grande maioria de lidar com a participação política se expressou muito no antipartidarismo. Numa manifestação política, sem centro e sem líderes, impedir a participação dos partidos é totalitarismo. Na medida em que são antidemocráticos as manifestações também atraíram esses setores antidemocráticos, de colorido fascista, de uma direita que não admite de hipótese alguma um governo dos trabalhadores - com todos os problemas que tem.

As falas de algumas pessoas denunciam um certo descompasso sobre como agir de forma direta na sociedade, para além das ruas...

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Nós somos uma democracia jovem ainda. Os governos Lula fizeram alguma coisa que é inegável é que houve que é fato inegável, um mérito, houve de fato redução da pobreza durante o governo de Lula. E emergiu uma nova classe média que é a classe C. Ela teve acesso às redes sociais... Mas ela já vem sendo alijada há muito tempo do direito à Educação de qualidade. Ausência de educação para a cidadania, impediu que as pessoas participassem da política, no sentido assim, da fiscalização sobre o poder, impediu que elas fizessem a democracia participativa. A democracia é representativa e participativa. Agora, como estamos num a democracia jovem, chegou a hora dessas pessoas fazerem a democracia participativa. Essas manifestações foram o primeiro momento dessa democracia participativa. Eu acredito que com a experiência negativa as pessoas vão aprender, na próxima, elas terão objetivos mais claros, coisas mais concretas. Mas essa colcha de retalhos não funciona. A única que foi apresentada concretamente foi a do MPL e essa foi atendida. Com essas experiências dos fascistas, dos vândalos, elas vão ver que democracia participativa não é só ocupar as ruas sem um objetivo concreto - uma democracia são suas instituições democráticas. Acho que foi bonito, foi um primeiro movimento. E eu vou ser nesse momento positivista: sem ordem não há progresso. O caótico é bacana para o espetáculo, para a pauta da TV. Eu defendo, por exemplo, que o partido esteja lá, é um direito dele. Quando você perguntava para um desses meninos nas ruas, diziam: "A gente é contra tudo isso que tá aí". Mas eu perguntava: mas contra tudo isso que taí o que? Não sabiam dizer. A gente é contra partidos. Sim, mas você quer colocar o que no lugar dos partidos? O que eu percebo é que essa juventude foi pra rua sem alfabetização politicamente, foi só com a vontade e isso é bom. Eles pediam por exemplo explicação pelos gastos da Copa. É tarde, deveria ter sido discutido antes, E quem estava discutindo eram os partidos de esquerda. Houve discussões, capitaneadas por partidos. Não me venham agora dizer que os partidos tem de estar fora porque quem estava discutindo isso enquanto o gigante dormia eram os partidos.

Como isso respinga no Congresso e em 2014?

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Isso já respingou lá no Congresso. Após a grande manifestação de segunda-feira, tivemos uma reunião grande do colégio de líderes. Ivan Valente que é líder do PSOL não estava então eu como vice-líder fui. Antes de a agente abrir a reunião nós estávamos conversando entre nós e eu vi que a grande maioria dos deputados não entende o que está acontecendo mesmo. Por que? Porque a maioria dos deputados é alheia... alheia aos novos tempos. É alheia ao fato de que essa juventude está em rede, que ela está articulada em rede. Os deputados não perceberam essa mutação, não estão nas redes sociais, não dialoga no twitter com essa gente, não sabe o que está atravessando o corpo social, portanto, foram pegos de surpresa. Eu fui o primeiro a falar e eu disse: a gente precisa dar uma resposta. E a resposta que as pessoas querem é que a pauta legislativa reflita os seus interesses. São interesses difusos e há pautas que não tem consenso. Mas é possível identificar o que é de consenso. E o que é de consenso tem de estar nessa pauta. Por exemplo: educação é um consenso. A nossa pauta poderia esboçar esse consenso votando os 10% dos royalties do pré-sal. Isso é função do Legislativo. Nós poderíamos atender à essa reivindicação colocando em prática o PNE - Plano de Educação e Metas, que passou pela Câmara dos Deputados e parou no Senado - Renan Calheiros não põe na pauta. Havia consenso em relação à segurança também. Então, a gente podia votar a PEC 300. E no bojo dessa votação discutiríamos que polícia nós queremos. Uma polícia que não faça como a polícia da Bahia na quinta-feira. A polícia da Bahia foi uma das mais truculentas em todas as manifestações, a que mais reprimiu durante os manifestantes.

Como você avalia a resposta que governador Jaques Wagner deu?

Jaques Wagner quando se elegeu, em campanha, apresentou o contracheque de um policial e dizia que na Bahia os policiais eram desvalorizados e ganhavam muito mal e que a má remuneração levava a problemas como a corrupção policial, da constituição de milícias e grupos de extermínio e parte da população negra na periferia. (pausa). Nos dois mandatos a polícia baiana quase que duplicou a quantidade de assassinatos (nova pausa). Isso significa que Jaques Wagner não cumpriu a promessa dele, não foi por acaso que houve uma greve das polícias durante o governo dele. Logo, um governador que traiu sua promessa de campanha e cuja polícia continua matando a população negra, não seria sensível a manifestantes de rua e, numa nota oficial não falaria da violência da polícia. Outra coisa: a Copa das Confederações acontece sem que o metrô esteja funcionando. Porque cargas d'água não se fez uma CPI na Assembleia Legislativa ou na Câmara para apurar o escândalo do metrô? Porque vai respingar lama - e eu digo sem medo de ser feliz - vai respingar lama sobre todos os grupos políticos que se enfrentam aqui.

Você sabe que aqui na Bahia o governador está em sintonia com o prefeito?

Não me espanta que o governador Jaques Wagner esteja em sintonia com o prefeito ACM Neto (DEM). Não me espanta de forma alguma. Jaques Wagner fez um governo carlista. Embora tenha sido eleito com a promessa de que enterraria o carlismo. Mas embora tenha prometido isso, fez um governo carlista, mais do que os próprios carlistas. Não só incorporando pessoas no seu governo, mas se comportando, muitas vezes, de maneira autoritária e arrogante, tal qual o antigo cabeça branca. E olha que Jaques Wagner sequer aproveitou o que havia de bom no carlismo - sim, porque havia uma coisa de bom no carlismo. O carlismo, com toda a política paternalista que ele invocava tinha uma coisa bacana que se incorporava nas letras ACM - Arte, Cultura e Memória. O carlismo investia no orgulho de si, orgulho de ser baiano. Esse orgulho de si, por mais que pareça uma coisa idiota num primeiro momento, ele tem uma coisa boa, gostar de seu lugar, cuidar do seu lugar. E esse gostar e cuidar implica uma abertura para o outro: mostrar para o outro a minha Bahia. E isso não é uma bobagem, tem implicações políticas e econômicas. Abrir a minha Bahia e mostrar como a minha Bahia é cuidada traz divisas, recursos para a Bahia. Mas também não gostaria que Jaques Wagner não agisse de maneira republicana com ACM Neto, devolvendo à ACM Neto aquilo que o avô dele fez com Lídice da Matta (PSB).

Por que se blinda a base do governo que deu a Comissão ao PSC de Marco Feliciano?

As pessoas escolherão Feliciano porque ele é um símbolo, ele encarna o fundamentalismo. Ele é vaidoso, narcisista, gosta de estar em frente aos holofotes. Mas as pessoas que fazem a crítica mais embasada não perdem de vista que Marco Felciano é da base do governo e que ele chegou à presidência graças a maioria da comissão de direitos humanos que é fundamentalista, pessoas do naipe do deputado Sargento Isidório...

Que está aguardando aprovação do projeto para criar os dele aqui, como o "consola corno", ajuda aos homens traídos...

Eu só não acho tão surreal que a Assembleia Legislativa da Bahia tenha alguém do naipe do pastor Isidório porque na Assembleia do Rio de Janeiro tem gente muito pior. E porque na própria Câmara dos Deputados existe Bolsonaro e Marco Feliciano. Porque se não existissem esses dois em Brasília eu diria que a presença de Isidório na Assembleia é uma aberração inadmissível.

E ele nem é de partido evangélico, é do PSB...

Pois é. A deputada Luiza Erundina, que também é do PSB, chegou par mim outro dia e disse: meu filho, eu fico envergonhada, depois de tudo o que passei e enfrentei, eu fico envergonhada de no meu partido haver uma pessoa daquela.

Eleições 2014. Você é candidato à reeleição?

Sim, sou, pelo Rio de Janeiro. Eu pensei inicialmente em não me candidataria porque há um custo emocional muito grande. O mandato federal me expõe demais. As pessoas que moram no Caminho das Árvores e na invasão do Pela-Porco, têm direitos humanos. E quando você advoga o direito dessa população pobre, negra, as pessoas acham que ela não tem direitos humanos. E então elas olham os direitos humanos como se fosse coisa de bandido. É uma estupidez pensar assim. Tocar nesses temas não é fácil. Tem um desgaste que vai do insulto à ameaça de morte. Foi tanto desgaste que já passei, tanto que eu pensei: não vou segurar essa onda mais uma vez. Mas ao mesmo tempo eu tenho responsabilidade com a representação que eu tenho hoje no Brasil. Eu não fui eleito em 2012 o melhor deputado do Brasil pelo Congresso em Foco por acaso.

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