Zuenir compara protestos atuais com os de 68

"De semelhante entre os dois momentos, permanece a disposição estudantil que parecia anestesiada, como também naquela época", escreve o jornalista, que destaca ainda "o sentimento difuso de insatisfação" dos dois fatos históricos

Zuenir compara protestos atuais com os de 68
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247 - Em artigo no jornal O Globo, o jornalista Zuenir Ventura compara as manifestações que ocorrem atualmente em diversas cidades do País com as de maio de 68, quando uma grande multidão de estudantes saiu às ruas de Paris, na França. "Vem vindo, vem vindo até que uma gota (ou alguns centavos) no pote até aqui de mágoa provoca o transbordamento", define Zuenir, em seu texto. Leia abaixo:

Lembrando 68

Uma das perguntas que mais ouvi nestes últimos dias foi sobre as semelhanças e diferenças entre as manifestações de agora e as de 1968. Seria a reedição 45 anos depois de um modelo-matriz ou um fenômeno de massa inteiramente novo? Ou seria um pouco de cada coisa? Talvez isso. Começando pelas mudanças: o país não vive mais numa ditadura (embora a polícia às vezes tenha agido como se vivesse); os jovens não pertencem mais a uma só geração, mas a diferentes tribos. E, sobretudo, existe hoje a onipresente internet, capaz da mobilização instantânea, viral e sem limites. Distantes os tempos em que a organização de uma passeata exigia longa preparação e intermináveis discussões em assembleias.

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De semelhante entre os dois momentos, permanece a disposição estudantil que parecia anestesiada, como também naquela época (na França, um sociólogo perguntava: "Por que não acontece nada por aqui?" No dia seguinte, Paris pegou fogo). De igual ainda, o sentimento difuso de insatisfação, que é cumulativo e não depende apenas de uma única motivação ou pretexto.

Vem vindo, vem vindo até que uma gota (ou alguns centavos) no pote até aqui de mágoa provoca o transbordamento. Os sinais emitidos nem sempre são captados, porque parecem desconectados, quando na verdade estão formando uma rede com poder de contágio. Só o governo talvez não tenha percebido que o fantasma da inflação, a corrupção desenfreada, a incerteza econômica, a alta no custo de vida, a queda de oito pontos na popularidade de Dilma, a vaia no estádio Mané Garrincha, tudo isso fazia parte do mesmo e crescente caldo de rejeição. Pelo menos uma lição de 68 não foi aprendida e assim não se evitou o incidente mais lamentável das manifestações do Rio: coquetéis molotov atirados contra a Alerj e carros incendiados na marcha dos 100 mil anteontem. Em julho de 68, na lendária Passeata dos 100 Mil, Vladimir Palmeira, o líder do movimento no Rio, convidou os participantes a se sentarem no chão, o que proporcionou a Nelson Rodrigues uma fina gozação. Segundo ele, médicos, poetas, atrizes, sacerdotes, todos obedeceram.

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"A única que permaneceu de pé e assim ficou foi uma grã-fina, justamente a que lera as orelhas de Marcuse".

Muito tempo depois, Vladimir explicou o que pretendeu com o gesto: demonstrar as "intenções pacíficas da manifestação para a polícia e para alguns companheiros". Assim, os "porraloucas" desistiram de invadir rádios, como queriam, e os policiais não ousaram bater em pessoas sentadas no chão, inclusive freirinhas.

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