De Rolim de Moura a Paris

A corrupção no metrô paulista é tão rasteira quanto os desvios do senador Ivo Cassol, condenado à prisão



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Se todos os brasileiros são iguais perante a lei, alguns tucanos de alta plumagem correm o risco de enfrentar destino semelhante ao de Ivo Cassol (PP-RO), o primeiro senador condenado à prisão no Brasil, nesta última quinta-feira, pelo Supremo Tribunal Federal. Cassol foi prefeito de Rolim de Moura, uma cidade com pouco mais de 50 mil habitantes e também governador de Rondônia. Os tucanos, bem mais sofisticados, são assíduos frequentadores dos salões europeus. A natureza dos desvios de um e de outros, no entanto, é a mesma: fraudes em licitações públicas, que geram benefícios pessoais, em dinheiro sonante ou em contas secretas da Suíça, e partidários, nos caixas clandestinos dos partidos políticos.

Cassol foi condenado por unanimidade pelos ministros do STF porque teria fraudado o caráter competitivo das concorrências que comandou. Segundo a relatora do caso, Carmen Lúcia, em doze licitações, os projetos foram direcionados para beneficiar construtoras locais, que tinham lotes divididos e eram eram convidadas a executar obras viárias, em contratos de R$ 2,7 milhões. Café pequeno perto dos bilhões negociados nas compras dos trens do metrô de São Paulo. Mas, na essência, os casos são semelhantes. Segundo o ex-secretário de Transportes de São Paulo, Cláudio de Senna Frederico, nunca houve uma licitação propriamente competitiva no metrô paulista.

O aspecto mais constrangedor para o PSDB é a constatação óbvia de que corrupção deste porte jamais seria executada por peixes pequenos. Ingenuidade suprema seria imaginar que a compra de equipamentos ferroviários em valores bilionários seria delegada a funcionários de segundo escalão da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, a CPTM. O que as investigações revelam, ao contrário, é a presença de operadores que fazem parte do chamado núcleo duro do PSDB.

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Da França, veio a informação de que a Alstom distribuiu propinas de US$ 20 milhões no Brasil. Um dos principais beneficiários teria sido RM, ou seja, Robson Marinho, homem de confiança do ex-governador Mario Covas, que foi nada menos que seu secretário da Casa Civil. Além disso, de acordo com as investigações, o suborno cobriria também a secretaria de Energia, ocupada, à época, por Andrea Matarazzo, outro grão-tucano.

Da Alemanha, outra revelação bombástica: a de que diretores da Siemens haviam negociado com o próprio ex-governador José Serra um acerto numa concorrência, numa negociação que passou pelo ex-secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella. Portelinha, como é conhecido no ninho tucano, sempre foi um dos principais operadores do PSDB. Protegido de Dona Ruth Cardoso e íntimo do já falecido ex-ministro Sérgio Motta, ele foi apontado como um dos articuladores da aprovação da emenda da reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, manchada pela suspeita de compra de votos.

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Com a presença de personagens como José Luiz Portella, Andrea Matarazzo e Robson Marinho no escândalo dos trens, cai por terra a hipótese de ação isolada de agentes de quinto escalão. O que se materializa são evidências de um esquema de corrupção sistêmica, destinada a alimentar a máquina política do PSDB, sem deixar de construir alguns bons pés de meia ao longo do caminho. Nada muito diferente da ação de Ivo Cassol.

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