Bancos públicos de olho na bolsa da Viúva

Técnicos do governo planejam transferir créditos podres do Banco do Brasil, da Caixa e até do BNDES para o Tesouro; dali, para a Empresa Gestora de Ativos; mercado vê estabelecimento de concorrência desigual na corrida para baixar juros e emprestar dinheiro

Bancos públicos de olho na bolsa da Viúva
Bancos públicos de olho na bolsa da Viúva (Foto: Edição/247)


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Marco Damiani _247– A Viúva, como todos chamam a União e seu Tesouro, não costuma reclamar. Quando a situação aperta, o governo, historicamente, acostumou-se a espetar dívidas na conta dela, transferir, assim,  prejuízos de barbeiragens financeiras para a sua fortuna e deixar com que o tempo obscureça responsabilidades. Neste momento, como aponta a manchete do jornal Valor Econômico desta quarta-feira 16, mais uma ação deste tipo parece estar em pleno curso. Estuda-se entre técnicos da área econômica a transferência de créditos podres de bancos públicos para a Empresa Gestora de Ativos (Emgea). Esses créditos chegariam até lá após serem comprados pelo Tesouro, que os repassaria à Emgea para cobrança no mercado. Entidades como o Banco do Brasil, o Banco do Nordeste, a Caixa Econômica Federal, especialmente, e até o BNDES entregariam carteiras inteiras de recebimento duvidoso para o Tesouro, obteriam dinheiro novo pela venda e abririam, desta forma, amplos espaços na rubrica provisões de seus balanços. Ficariam, portanto, mais fortes para continuarem a desenvolver as operações que, na prática, as levaram a necessitar desse tipo de mecanismo. A parte mal feita do que fizeram, transformada em créditos podres repassados ao Tesouro, primeiro, e à Emgea, em seguida, estaria, afinal, resolvida. 'Bota na conta da Viúva', ordena-se – e pronto!

Nas conversas entre os técnicos da área econômica, como informa o Valor, sem citar nomes dos envolvidos, os responsáveis pelo Tesouro já se posicionaram contra essa estratégia. Como se vê, há momentos em que até a Viúva reclama. Não se sabe ainda, de acordo com a apuração até aqui, de quanto é a conta que se procura transferir para os cofres públicos e deles para a Emgea, mas é claro que não será pequena. Num dado da semana passada, o Banco do Brasil já havia contraído cerca de R$ 400 milhões em créditos de recebimento difícil ou duvidoso vindos de outras instituições financeiras. Essa carteira está sendo formada por meio da atração de clientes de outros bancos, que estão recebendo do BB para quitar suas dívidas com o banco de origem e levar a própria dívida, com juros menores a pagar, para dentro do Banco do Brasil. Se esse crédito duvidoso puder ser transferido para a Viúva, como sugere o plano em gestão, o BB nem vai sentir o baque por praticar essa estratégia de alto risco.

O mesmo tipo de benefício, caso a conta vá para a Viúva, poderá ser experimentado pela Caixa. Hoje perto dos limites estabelecidos pelas regras internacionais de Basileia em relação a patrimônio, capital e volume de empréstimos, a instituição poderá repassar para o Tesouro e a Emgea carteiras inteiras de créditos considerados de recebimento mais difícil, ficar com um balanço mais leve e, portanto, melhor posicionado nos limites impostos pela convenção internacional, e pisar no acelerador de novos empréstimos. E com juros baixos, como quer o governo. No Banco do Nordeste, idem. Pelo que se ventilou até aqui, até o BNDES pode entrar na fila da bolsa da Viúva.

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Ao mesmo tempo em que empurra ao Tesouro uma dívida que não é sua, a estratégia desperta outra certeza no mercado financeiro: a do estabelecimento da concorrência desigual. Contando com a bolsa da Viúva para financiar suas elásticas políticas de empréstimos, os bancos públicos ganham um estofo inalcançável pelos bancos privados. Estes não terão a mesma condição para acompanhar o ritmo que as instituições públicas passarão a ser capazes de impor, na redução das taxas e concessão de empréstimos. Justamente por não poderem recorrer tão alegremente à Viúva. O problema seria só deles, mas é todo nosso, uma vez que os créditos podres serão, pela fórmula em discussão, comprados pelo Tesouro, formado pelos impostos pagos pela coletividade. O professor Delfim Netto tem avisado que os bancos privados não têm como enfrentar os públicos, tal a profundidade e recheio dos sacos de maldades e bondades que o governo controla. Ele é um dos caras que melhor conhecem a capacidade de arranjar as coisas que a Viúva tem.

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