Rico, elegante e afiado, Naouri dá lição em Abilio

61 homem mais rico da Frana, majoritrio no Casino e com uma estratgia de negcios diametralmente oposta do scio do Po de Acar, Jean Charles mostra no Brasil a importncia de ser polido, objetivo e respeitar contratos



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Roberta Namour, correspondente do 247 em Paris - Ele nasceu em 1949, na Argélia. Aos 18 anos, entrou na Escola Normal Superior, antes de emendar com um doutorado em Matemática e um master em Economia em Harvard. Fez uma breve passagem pela política no Ministério das Finanças, mas logo percebeu que seu lugar era outro - explorar o potencial de empresas em crise financeira. Criou o grupo de investimentos Euris com a cumplicidade de David de Rothschild e Marc Ladreit de Lacharrière. Seu primeiro alvo foi o distribuidor bretão Rallye. Convencido da capacidade do setor e de duas empresas reunidas, ele uniu Rallye ao Grupo Casino, onde se tornou o primeiro acionista em 1992. Cavaleiro da Legion d’Honneur e dono da 61ª maior fortuna da França, com 630 milhões de euros, Jean-Charles Naouri se tornou um dos executivos mais vivos e temidos de sua geração. Ele hoje possui, através de sua holding, 57,3% do Casino.

A rivalidade entre Casino e Carrefour na França nunca foi uma novidade. Por maior que o Carrefour seja (89 bilhões de euros de faturamento em 2010 contra 29 bilhões de euros do Casino), nos últimos anos a rede de Jean-Charles Naouri soube disputar por igual o mercado da distribuição. O pequeno é mais rentável e possui um acionista estável. Além disso, a especialização do Casino em alimentos, com uma cobertura completa do território francês e uma margem cada vez maior sobre a sua marca própria, o dá uma grande vantagem sobre seu rival, que tem sofrido com sua atividade não alimentícia que puxa a rentabilidade para baixo. O Casino está igualmente em fase de desenvolvimento mais avançado do que seu concorrente em regiões de forte crescimento, como Ásia e América Latina – nesse último continente, a proporção dos lucros para o resultado global é de 28% contra somente 17% para o Carrefour.

Quando os primeiros burburinhos entre a aproximação do Grupo Pão de Açúcar e do Carrefour surgiram, Jean-Charles Naouri se retirou de cena. Tomou recuo para surgir enfim com sua estratégia de ataque formada. Diante de um gigante da distribuição e da absurda ajuda do BNDES sugerida a Abílio Diniz, ele não se intimidou. Como um Davi, desembarcou no Brasil disposto a cortar a cabeça do Golias que atravessou seu caminho pelo controle do Pão de Açucar. Não tem feito isso de forma trapaceira ou suja. Entrou com um pedido de arbitragem na Corte Internacional denunciando a quebra de contrato do sócio brasileiro. Em seguida, chamou pessoalmente o presidente do BNDES para uma conversa direta.

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Depois de deixar claro a Luciano Coutinho que o Casino não irá aceitar a proposta de fusão feita por Diniz, o presidente do grupo francês soltou o verbo contra seu atual sócio, sem perder a razão. “Quando investi em 1999, o Grupo Pão de Açúcar era um negócio medíocre”, disse Naouri. “Encaramos isso (a proposta de fusão) como uma forma de expropriação do Casino, cujos direitos haviam sido estabelecidos em contrato em 2005”.

Mas seu contra-ataque mais certeiro foi a manifestação da crença do Casino de que o governo brasileiro se mantém a favor do respeito aos contratos assinados. “Consideramos a ‘Carta ao Povo Brasileiro’ de Lula, que falava do respeito aos contratos e que fazia disso a pedra angular do Brasil de amanhã”, disse, em referência à decisão do Casino de investir no Brasil.

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Abaixo, notícia publicada hoje por 247 sobre a movimentação de Jean Charles Naori no Brasil:

247 _ Depois de deixar claro ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que o Casino não irá referendar a proposta de fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour, feita por Abilio Diniz, o presidente do grupo francês soltou o verbo contra seu atual sócio. Em entrevistas concedidas no Rio de Janeiro, após o encontro com Coutinho, Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, deixou claro que a proposta representa uma “expropriação” de bens e direitos do grupo na sociedade firmada no passado com o empresário brasileiro.

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“Quando investi em 1999, o Grupo Pão de Açúcar era um negócio medíocre”, disse Naouri. “Encaramos isso (a proposta de fusão) como uma forma de expropriação do Casino, cujos direitos haviam sido estabelecidos em contrato em 2005”.

Para o presidente do Casino, Diniz agiu de forma ilegal ao abrir negociações com o Carrefour sem avisar, primeiro, o parceiro de sociedade. “A negociação secreta foi um ato ilegal”, disse Naouri. “Não está em conformidade com as boas práticas e a ética nos negócios. Contradiz o contrato”.

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Naouri manifestou a crença do Casino de que o governo brasileiro se mantém a favor do respeito aos contratos assinados. “Consideramos a ‘Carta ao Povo Brasileiro’ de Lula, que falava do respeito aos contratos e que fazia disso a pedra angular do Brasil de amanhã”, disse, em referência à decisão do Casino de investir no Brasil. Ele argumentou tecnicamente contra a proposta de Abilio para a fusão com o Carrefour. “Há, nela, dois erros estratégicos. Primeiro, reforça o peso dos hipermercados, que começam a perder importância. Outro é investir na Europa ocidental, onde o crescimento é lento ou negativo, e não em mercados emergentes”.

Por sua assessoria, Abilio Diniz divulgou nota em que nega ter pressionado Naouri a abrir mão do controle do Pão de Açúcar, como esta assegurado em contrato, a partir de 2012. “Essa obsessão dele de ter o controle da empresa faz com que nós tenhamos ações ordinárias e preferenciais”, registrou. “Só podemos emitir as ordinárias até dois terços das preferenciais. Estamos sempre esbarrando nesse limite. Uma companhia que quer crescer e não pode”.

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Abaixo, notícia de 247 sobre o encontro entre Naouri e Coutinho, no BNDES:

 

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247 _ Após 50 minutos de audiência com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, ontem, no final da tarde, na sede do banco, no Rio, o presidente da rede Casino, Jean-Maria Naouri, saiu sem falar com a imprensa. Mesmo assim, pelo que se deu a saber da conversa, em seguida, extraoficialmente, o fato é que ele foi intransigente quanto a não abrir do direito que o Casino tem, já em 2012, de assumir o controle do grupo Pão de Açúcar, como diz cláusula do contrato de acionistas. Assim, de maneira elegante, sem entrar diretamente na proposta de fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, feita por Diniz e rechaçada por seu grupo, que a considera “ilegal”, Naouri deixou claro que sua empresa não aprovará, no conselho da Wilkes, que controla o Pão de Açúcar, a proposta de Diniz. Dias antes, Luciano Coutinho informou o próprio Diniz que, sem consenso entre os sócios, o BNDES não participaria do negócio, no qual entraria com cerca de dois bilhões de euros, ou 85% do capital envolvido. Tudo isso significa, na prática, que o BNDES está fora do negócio. A proposta de Abilio, formulada pelo BTG Pactual, assim, não existe mais nos termos em que foi dada a conhecer. O BNDES ainda não se pronunciou oficialmente, mas fontes do Pactual já abrem, em off, aos jornalistas, a porta de saída. “Como projeto alternativo ao BNDES, a ideia seria ter sócios investidores que entrem com os recursos e sejam acionistas”, disse uma fonte ao jornal Valor Econômico. “Nós pensamos em caminhos alternativos”.

Ei, você ai, topa dar 2 bilhões de euros para Abilio Diniz e entrar com seu dinheiro numa briga global?, pode ser a pergunta que os executivos do BTG Pactual farão ao mercado para descobrir os tais “acionistas” que substituam o papel do BNDES na barulhenta jogada que está terminando no brejo.

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Abaixo, notícia publicada por 247 na sexta-feira 1:

Roberta Namour, correspondente do 247 em Paris - O presidente do Casino, Jean Charles Naouri, desembarcou esta manhã no Brasil para ser reunir com o pesidente do BNDES, Luciano Coutinho, na segunda-feira, no Rio de Janeiro. Sua intenção é deixar claro ao banco sua posição contrária em relação à fusão de Pão de Açúcar e Carrefour. O BNDES apoia a tentativa de Abílio Diniz de tornar-se sócio da outra empresa francesa, causando polêmica. A proposta apresentada nesta semana pelo BTG Pactual prevê um aporte de 1,7 bilhão de euros (R$ 3,8 bilhões). Para o Casino, essa negociação foi feita de forma “secreta e ilegal” pelo empresário.

O francês deve aproveitar a viagem para se encontrar com o presidente do Cade, Fernando Magalhães Furlan. Um face a face com Abílio Diniz não está previsto. O grupo tem evitado esse encontro, a exemplo do que fez em Paris nos últimos dias, quando Diniz veio pessoalmente ao País.

A imprensa francesa diz ainda que Naouri poderia aproveitar a ocasião para propor ao sócio brasileiro a compra de sua parte na CBD. Os recursos para a transação viriam da recente oferta de ações de sua filial colombiana Exito, avaliada em US$ 1,4 bilhão.

E mais:

Roberta Namour_correspondente 247 em Paris - Alertado dos contatos diretos de Abílio Diniz com o Carrefour, o grupo francês Casino deu entrada desde o final de maio num processo de arbitragem junto ao Tribunal do Comércio internacional. E na semana passada, o Tribunal de Comércio de Nanterre, na França, revelou a existência de nada menos que 22 documentos sobre o futuro da Companhia Brasileira de Distribuição (Pão de Açúcar) apreendidos com o Carrefour.

A rede Casino não descarta ampliar o cerco jurídico a respeito do vazamento de informações estratégicas, para o seu principal concorrente, em novas ações judiciais na defesa de seus interesses.

A irritação da rede francesa com a articulação de Abilio Diniz com seu adversário comercial francês ainda é maior porque o diretor executivo de finanças do Carrefour, Pierre Bouchut, é um ex-diretor geral do Casino. Ele também poderia estar por trás desse caso, cumprindo, na França, o papel de “quinta coluna” – inimigo infiltrado – que, acreditam neste momento os executivos do Casino liderados pelo CEO Jean-Charles Naouri --, Diniz também teria exercido no Brasil, a partir do Pão de Açúcar.

 

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