Estadão vê PIB fraco, mas pede "alta significativa dos juros" e "tranco na economia"

Há sinais contraditórios no jornal da família; de um lado, o editorial aponta uma economia frágil, com baixo crescimento; de outro, o colunista Celso Ming cobra uma postura firme do Comitê de Política Monetária, comandado por Alexandre Tombini

Estadão vê PIB fraco, mas pede "alta significativa dos juros" e "tranco na economia"
Estadão vê PIB fraco, mas pede "alta significativa dos juros" e "tranco na economia"


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247 - O jornalista Celso Ming, principal colunista de economia do Estado de S. Paulo, pede em sua coluna deste domingo uma "alta significatica dos juros" para dar o que chama de "tranco na economia". No entanto, o editorial da publicação argumenta que a economia ainda cresce em ritmo lento. Afinal, o que querem os Mesquita?

Leia, abaixo, a coluna de Celso Ming:

E agora BC? - CELSO MING

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Até agora o Banco Central não saiu da moita. Em todas as suas manifestações, apenas deixou claro que estava especialmente preocupado com a mudança de patamar de inflação, com seu grau de espalhamento (índice de difusão) e com sua resistência. Mas o que fará para enfrentar o novo quadro ainda não ficou claro. O que ficou entendido é que manteria sua posição de vigilância e cautela até maio, para, só então, de posse de novos dados, elevar os juros básicos (Selic) - se fosse o caso.

Essa atitude pareceu coerente com a disposição da presidente Dilma Rousseff de não puxar pelos juros, a não ser em último caso, para não prejudicar a recuperação da atividade econômica (avanço do PIB) - objetivo que ela mais valoriza.

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Como esta Coluna apontou em outra oportunidade, os novos números da inflação carregam certa dimensão política. Há hoje a percepção de que a alta dos preços passou dos limites - algo que transpareceu não só da perfuração do teto da meta anual (4,5% mais 2 pontos porcentuais de área escape), mas também da reação da opinião pública. O tombo nas vendas do mercado varejista, de 0,4% em fevereiro, também sugere que a corrosão do poder aquisitivo pela inflação vai gerando impacto relevante na atividade econômica. É provável, ainda, que a necessidade de usar uma participação maior do orçamento doméstico nas despesas com bens e serviços de primeira necessidade esteja não somente derrubando a capacidade de endividamento das famílias, mas também incentivando a inadimplência (calote das dívidas).

Ainda subsiste dentro do governo e fora dele a opinião de que a mídia está turbinando a inflação. Não há risco de descontrole, diz essa gente; é deixar que a trajetória natural das coisas esvazie a inflação. É um ponto de vista que não leva em conta nem as novas incertezas provocadas pela alta dos preços nem a atividade remarcatória dos agentes econômicos (fator inércia), que passarão a prevalecer se não vier o contra-ataque.

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Um dos traços do governo Dilma é a complementação de políticas. A política monetária não é um instrumento independente de outros. Muito provavelmente, a atitude de esperar para ver a decisão tomada pelo Banco Central, conduzido pelo presidente Alexandre Tombini, está relacionada à espera de definições dentro do governo sobre o manejo de outras alavancas, como a política fiscal (receitas e despesas do governo) e a velocidade com que serão tocados os investimentos em infraestrutura.

Novas altas dos juros, por exemplo, poderiam ser dispensadas caso o governo se dispusesse a ser mais austero na condução de sua política fiscal e se deixasse valorizar mais o real (baixa do dólar) - hipótese improvável.

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Isso leva a crer que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para esta terça e quarta-feira, tem tudo para ser decisiva para redefinir o comportamento da economia nos próximos dois anos.

O Banco Central necessita de recuperar um mínimo de credibilidade que seja para reassumir a condição de gerenciar as expectativas do mercado. O melhor que se pode fazer é dar um tranco na economia por meio de uma alta significativa dos juros básicos. E o que tem de ser feito é melhor que venha o quanto antes.

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E o editorial do Estadão:

Maus sinais para 2013 - EDITORIAL O ESTADÃO

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O mau estado da economia foi confirmado por mais um indicador nessa sexta-feira. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB divulgado a cada três meses pelo IBGE, caiu 0,52% de janeiro para fevereiro. Desde 2005 foi o pior resultado nesse período. Foi também a maior variação negativa desde a queda de 0,84% em setembro do ano passado. O nível de atividade foi 1,88% mais alto que o de um ano antes. Em 12 meses, no entanto, o crescimento do índice, ajustado pelas condições sazonais, ficou em 0,83%, inferior, portanto, ao do PIB de janeiro a dezembro de 2012 (0,9%). Tomando-se o IBC-Br como referência para previsão, fica muito difícil acreditar em expansão econômica superior a 3% neste ano, embora a base de comparação seja baixa.

Por enquanto, só os dados da agricultura apontam algum resultado positivo em 2013, A safra de grãos e olea ginosas, calculada em até 184,04 milhões de toneladas, poderá ser 10,8% maior que a anterior. Um crescimento parecido, 11%, é estimado para a produção de cana pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para o café, o último levantamento indica uma redução entre 1,3% e 7,6% em relação à safra anterior, mas essa diminuição, esperada a cada dois anos, deve ser insuficiente para neutralizar o desempenho de outros segmentos da produção rural.

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O crescimento industrial deve continuar pouco expressivo. O PIB do setor deve aumentar 2,6%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), mas os números conhecidos até agora são pouco entusiasmantes. Segundo o IBGE, a produção industrial diminuiu 2,5% em fevereiro, depois de ter crescido 2,6% em janeiro.

A indústria de transformação continua com dificuldades para crescer, segundo o último relatório de indicadores distribuído pela CNI. O setor, de acordo com o boletim, ainda não encontrou sua trajetória de crescimento, como apontam as oscilações dos indicadores de desempenho. O faturamento real caiu 3,7% em fevereiro. Já havia caído em janeiro, O uso da capacidade instalada recuou 1,9 ponto porcentual e isso praticamente anulou o avanço registrado no mês anterior.

Os estoques estão ajustados e isso amplia o potencial de recuperação " disse o diretor de políticas e estrategia da CNI, José Augusto Fernandes. A tendência é de recuperação, segundo ele, mas os custos industriais já desceram 6,3% neste ano. O custo salarial, um dos mais importantes, continua em rápida elevação e no primeiro bimestre foi 2,2% superior ao de janeiro-fevereiro de 2012, descontada a inflação. Em fevereiro, a massa de salários foi 2,8% maior que a de um ano antes. No mês, o número de horas de trabalho foi 0,9% menor que em fevereiro de 2012.

Custos maiores com menos horas de trabalho e menor uso da capacidade instalada são incompatíveis com ganhos de eficiência e aumento da produção. O desempenho da indústria é fortemente vinculado ao comércio internacional, A produção industrial brasileira tem perdido espaço tanto no exterior quanto no mercado interno, por problemas bem conhecidos de competitividade. A escassez de mão de obra qualificada é um desses problemas e será "marca do mercado de trabalho em 2013", segundo o último informe conjuntural da CNI.

Essa escassez foi um dos motivos da retenção de pessoal em 2012, quando a produção do setor diminuiu 0,8% e a massa real de salários aumentou 5%. Com a perspectiva de reativação econômica em 2013, quem demitisse se arriscaria a disputar mão de obra num mercado mais apertado. O baixo desemprego em 2012, alardeado pela presidente Dilma Rousseff como sinal de sucesso de suas políticas, é explicável principalmente pelo fracasso da política educacional e pelo despreparo da maior parte dos trabalhadores. Não se forma capital humano com demagogia e populismo, as grandes marcas dos governos petistas no setor educacional.

Competitividade é a condição indispensável para conquistar espaços no mercado global e para manter contra os concorrentes o espaço conquistado. Não há, no comércio internacional, sistemas de cotas nem critérios sociais para atenuar a dureza da disputa. Se continuar incapaz de entender esses dados simples e evidentes, o governo brasileiro levará o País a um desastre comercial e cambial.


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