Jovem jornalista lamenta crise na grande mídia

"Semana passada vi a alegria de amigos que perderam o emprego. E vi a depressão, o choro dos que sobraram na redação, agora acumulando funções, fazendo o trabalho de 3, repetindo uma rotina que não parece ter qualquer propósito senão o precarizado salário. As demissões são, na verdade, Ficaralhos. Se fode quem fica", escreve Bruno Torturra; leia

Jovem jornalista lamenta crise na grande mídia
Jovem jornalista lamenta crise na grande mídia


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

247 - Após mais um 'passaralho', que levou 10% da redação da Folha de S.Paulo, o jornalista Bruno Torturra publicou seu desabafo. Não pelos que foram demitidos, mas pelos que ficaram. Leia

O Ficaralho

Publicado em 05/06/2013 por Bruno Torturra 24 Comentários

continua após o anúncio

"Semana passada vi a alegria de amigos que perderam o emprego. E vi a depressão, o choro dos que sobraram na redação, agora acumulando funções, fazendo o trabalho de 3, repetindo uma rotina que não parece ter qualquer propósito senão o precarizado salário. As demissões são, na verdade, Ficaralhos. Se fode quem fica"

Um Passaralho só não traz o inverno: Estadão, Trip, Folha de S. Paulo, Record. Todas empresas demitindo de uma vez dezenas de jornalistas e profissionais de mídia nas últimas semanas... e ainda aguardamos o profetizado Passaralho da Abril que, pelos rumores, vai decepar até 1000 funcionários e 10 títulos da editora. O que, tantos acreditam, vai levar à mendicância os já paupérrimos frilas. "RIP Jornalismo", é o que tenho lido e escutado dos colegas nas redes e botecos.

continua após o anúncio

Mas vamos apurar essa história direito...

É o jornalismo em si que está moribundo? Ou o modelo comercial de distribuição de informação?
É o ofício de catalizar o diálogo público com fatos e opiniões que está com os dias contados? Ou o pensamento analógico, ganancioso, baseado em números de circulação e venda de publicidade?
Não estaremos confundindo, reféns da tediosa periodicidade de publicações e salários, jornal com jornalismo?

continua após o anúncio

Para mim, há uma maneira mais interessante, e realista, de entender a revoada dos Passaralhos.

Já vi e vivi demissões coletivas. E, aos poucos, deu para notar uma mudança crucial no Day After. Antes os deprimidos, os arrasados, os desamparados eram os que perderam a vaga. Eram como se tivessem sido explusos de uma festa que iria seguir sem eles. Hoje, a tristeza está bem mais do lado de quem ficou. Como se a festa estivesse, e está, do lado de fora.

continua após o anúncio

Semana passada vi a alegria de amigos que perderam juntos o emprego, animados pela fronteira aberta. E vi a depressão, literalmente o choro dos que sobraram na redação, agora acumulando funções, fazendo o trabalho de 3, repetindo uma rotina que não parece ter qualquer propósito senão o precarizado salário. Ficou claro para mim.
As demissões são, na verdade, Ficaralhos. Se fode quem fica.

Creiam... Não é uma tragédia ter tantos, e bons, jornalistas na rua sem muita chance de voltar a um emprego tão cedo. É, ao contrário, uma excelente notícia. O ambiente perfeito, na ausência de gabinetes e editores, para o jornalismo se reencontrar na rede e nas ruas. Há o potencial de uma idade de ouro da reportagem hoje em dia.

continua após o anúncio

A consolidação das redes sociais, o hiperfluxo de informação, o streaming e a emergência de uma massa conectada pronta para repercutir e compartilhar notícias e histórias, deu ao veículo tradicional um papel cada vez mais dispensável. Mas pede ao repórter, ao fotógrafo, ao designer, ao colunista um papel cada vez mais ativo de oferecer matéria-prima e contexto para o diálogo público. Ao se confundir com um nome no expediente, ao se condicionar ao falso conforto de um salário, o jornalista vira às costas ao seu maior ativo, a autonomia. E acaba no confortável e cínico papel de vítima da "morte do jornalismo".

Para mim uma coisa é clara: a rede vai matar o jornal para salvar o jornalismo.

continua após o anúncio

Ok. Tudo muito bonito, muito estimulante. "Mas e o dinheiro", perguntam os colegas, "onde está?". Uma coisa eu garanto: não está nas redações. O pouco que sobrou não vai dar nem para a janta.

Eis a parte mais arriscada, e inevitável, da missão dos filhos do Passaralho. Criar um novo mercado para sustentar suas famílias e reportagens a partir da lógica de compartilhamento. Sem o antes conveniente e inevitável, a agora parasitário e dispensável, publisher.

continua após o anúncio

Tenho certeza que é esse o sentimento, intuitivo ou não, de riscos e possibilidades que está dando essa felicidade súbita aos demitidos.

A esses eu faço o convite:

Semana que vem, terça-feira, dia 11 de junho, vou ajudar a promover junto com o Fora do Eixo e do Existe Amor em SP, uma reunião aberta com profissionais de mídia, desempregados ou a fim de se desempregar, para apresentar um projeto que vem sendo elaborado em fogo brando há mais de um ano. E que agora está no ponto para receber todos os que se animarem com a ideia: NINJA (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação).

Um grupo de comunicação amplo e descentralizado, a fim de explorar as possibilidades de cobertura, discussão, repercussão, remuneração e da radical liberdade de expressão que a rede oferece. Streaming, impressos, blogs, fotos, debates públicos sem o fantasma do lucro e do crescimento comercial como condições primordiais para o trabalho. Por enquanto, nosso melhor investimento é entender a frequente e saudável relação inversa entre saldo bancário e propósito.

Quem estiver a fim de conversar por favor me escreva e fique de olho nas minhas redes. Logo divulgo local e horário dessa primeira reunião.

 

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247