Solidária ao Clarín, Globo teme Lei de Meios

Será que a Argentina é o Brasil amanhã? Se for, a Globo não terá o mesmo poder de que hoje desfruta; talvez por isso, editorial do Globo, de João Roberto Marinho, condena duramente a nova lei dos meios de comunicação no país vizinho

Será que a Argentina é o Brasil amanhã? Se for, a Globo não terá o mesmo poder de que hoje desfruta; talvez por isso, editorial do Globo, de João Roberto Marinho, condena duramente a nova lei dos meios de comunicação no país vizinho
Será que a Argentina é o Brasil amanhã? Se for, a Globo não terá o mesmo poder de que hoje desfruta; talvez por isso, editorial do Globo, de João Roberto Marinho, condena duramente a nova lei dos meios de comunicação no país vizinho (Foto: Leonardo Attuch)


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247 - Um fantasma assombra a Globo: a Argentina. Leia abaixo o editorial do jornal da família Marinho sobre a Lei de Meios validada pela suprema corte:

Tempos mais difíceis na Argentina

A derrota do Grupo Clarín na luta judicial com o governo de Cristina Kirchner em torno de uma legislação draconiana, a Lei de Meios, é apenas um capítulo — embora possa ser decisivo — de uma longa história de sufocamento da imprensa profissional argentina. Não é um fato isolado, mas parte de um projeto de garroteamento do jornalismo independente, aplicado já há algum tempo.

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Ainda com Néstor Kirchner na Casa Rosada, onde tomou posse em 2003, generosas verbas publicitárias oficiais passaram a ser manipuladas para favorecer empresários de comunicação “amigos”. Há copioso material levantado por auditores, publicado em reportagens, em livro e divulgado em denúncias pela oposição sobre o crescente gasto de milhões de dólares em dinheiro público com esta finalidade.

Em 2010, por exemplo, ano da morte de Néstor e com a presidente Cristina K. em campanha para a reeleição, a emissora de TV aberta Canal 9, simpática ao kirchnerismo, foi presenteada com US$ 18 milhões, ou 67,5% de toda a verba publicitária. Há incontáveis exemplos. Como o do jornal “Pagina 12”, outrora um marco na mídia impressa do país, receber em publicidade oficial US$ 4,7 milhões, quase o mesmo que o “Clarín”, com uma diferença: vendia apenas 10 mil exemplares diários, contra 300 mil deste último. Toda esta operação segue paralelamente à montagem de extensa rede de TVs e rádios públicas.

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Outra arma da Casa Rosada é a Papel Prensa, única produtora de papel de imprensa do país, em que estão associados o grupo Clarín, o La Nación — outro alvo do kirchnerismo — e o Estado. Pois em dezembro de 2011, Cristina K. aprovou no Congresso a intervenção estatal no mercado do insumo. Pôs de uma vez o laço no pescoço dos dois grupos e passou a atuar também na administração da empresa.

Agora, vem a decretação da constitucionalidade da Lei de Meios, contra a qual o Clarín lutou em instâncias inferiores da Justiça durante quatro anos. A lei é um instrumento inspirado no bolivarianismo chavista, construído sob o disfarce de uma ferramenta para estimular a “diversidade” e a “liberdade de expressão” nos meios de comunicação”, mas cujo objetivo real é acabar com a independência do jornalismo profissional, fazê-lo refém do poder público.

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Na questão central da constitucionalidade da lei que determina o desmembramento do grupo pela venda de concessões de TV por assinatura e rádio, e sua entrada imediata em vigor, o Clarín perdeu a disputa por quatro votos a três, na Corte Suprema de Justiça, presidida por Ricardo Lorenzetti, nomeado por Néstor. Na televisão por assinatura — na Argentina, mais forte que a aberta, ao contrário do Brasil — o Clarín detém 42% do mercado, e terá de encolher a fatia para 35%. Quanto ao meio rádio, falta definir na prática o que acontecerá.

De alguns votos dos juízes constaram advertências sobre a transparência na distribuição de verbas públicas de publicidade, o uso político dos meios e a necessidade de aplicação técnica da lei. Não se espera que surtam efeito.

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A derrota do jornalismo profissional é dupla: perde espaço e, como acontece há algum tempo na Argentina, o vácuo é preenchido por empresários ligados à Casa Rosada. Eles deverão ser os compradores das concessões a serem compulsoriamente vendidas pelo Clarín.

Chega a ser paradoxal: o governo K. obtém esta vitória no momento em que o kirchnerismo, com apenas 30% dos votos obtidos nas eleições parlamentares, é castigado pelos eleitores e se depara com riscos concretos de sair da Casa Rosada em 2015. A decisão da Corte Suprema prenuncia dois anos ainda mais difíceis para a sociedade argentina.

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