Boaventura: 'O que mais custa aceitar é a participação do Judiciário no golpe'

Ao analisar os recentes acontecimentos na política brasileira, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos se mostra decepcionado com a atuação do Judiciário do país e pede união à esquerda para reagir ao que chama de “golpe constitucional-judicial” e a retrocessos defendidos pelo atual governo.; em entrevista, o intelectual disse ainda ver paralelos entre a onda conservadora que atingiu o Brasil e a situação de seu país em 2011

Boaventura de Sousa Santos
Boaventura de Sousa Santos (Foto: Giuliana Miranda)


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247 - Ao analisar os recentes acontecimentos na política brasileira, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos se mostra decepcionado com a atuação do Judiciário do país e pede união à esquerda para reagir ao que chama de “golpe constitucional-judicial” e a retrocessos defendidos pelo atual governo. Em entrevista à Carta Capital, o intelectual disse ainda ver paralelos entre a onda conservadora que atingiu o Brasil e a situação de seu país em 2011. 

"Houve interrupção democrática semelhante à que tinha sido ensaiada em Honduras e no Paraguai e, como nas anteriores, levada a cabo com a aprovação ativa dos Estados Unidos. Tratou-se de uma passagem brusca e sem respaldo constitucional de uma democracia de baixa intensidade, já que eram bem conhecidos os limites do sistema político e do sistema eleitoral em refletir a vontade das maiorias, para uma democracia de baixíssima intensidade, com maior distância entre o sistema político e os cidadãos, maior agressividade dos poderes fáticos, menor proteção social das classes mais vulneráveis, menos confiança na intervenção moderadora dos tribunais.

No caso do Brasil, o que mais custa a aceitar é a participação agressiva do sistema judiciário na concretização do golpe, tendo em vista dois fatores que constituíam a grande oportunidade histórica de o sistema judicial se afirmar como um dos pilares mais seguros da democracia brasileira. Por um lado, foi durante os governos PT que o sistema judicial e de investigação criminal recebeu o maior reforço não só financeiro como institucional. Por outro lado, era evidente desde o início que Dilma Rousseff não tinha cometido qualquer crime de responsabilidade que justificasse o impedimento. Estavam criadas as condições para encetar uma luta veemente contra a corrupção sem perturbar a normalidade democrática e, pelo contrário, fortalecendo a democracia. Por que é que esta oportunidade foi tão grosseiramente desperdiçada? O sistema judicial deve uma resposta à sociedade brasileira."

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