Folha confunde dores de um golpe com dores da democracia

"São mais do que compreensíveis a insatisfação e a desconfiança dos brasileiros, captadas em pesquisa Datafolha, quanto às reformas previdenciária e trabalhista ora em tramitação no Congresso (...) A pergunta que se pode fazer, em todos os casos, é se um governo deve contrariar os desejos da maioria da população", diz editorial da Folha desta terça-feira, sem lembrar do ponto essencial: o Brasil não tem um governo legítimo, mas sim um que chegou ao poder por meio de um golpe e que tenta impor uma reforma contestada por 71% da população, segundo seu instituto de pesquisas

Presidente Michel Temer, em São Paulo. 03/04/2017 REUTERS/Nacho Doce
Presidente Michel Temer, em São Paulo. 03/04/2017 REUTERS/Nacho Doce (Foto: Leonardo Attuch)


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247 – Em editorial publicado nesta terça-feira, a Folha de S. Paulo reconhece a impopularidade das reformas de Michel Temer, rejeitadas pela absoluta maioria da população, mas sugere que a voz do povo deve ser ignorada, sem tocar no ponto mais importante: o Brasil tem hoje um governo sem legitimidade, que foi fruto de um golpe parlamentar.

Dores da democracia

São mais do que compreensíveis a insatisfação e a desconfiança dos brasileiros, captadas em pesquisa Datafolha, quanto às reformas previdenciária e trabalhista ora em tramitação no Congresso.

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Nenhuma das principais forças políticas do país, afinal, aproveitou as recentes campanhas eleitorais para esclarecer a população sobre o imperativo de tais medidas —muitas, sem dúvida, amargas.

Pelo contrário, o padrão tem sido seduzir os votantes com promessas de novas e generosas políticas públicas, ainda que o tom varie conforme as afinidades ideológicas dos candidatos.

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Da mesma forma, partidos das mais variadas tendências costumam bater-se por leis que ampliam despesas e direitos, sem nunca informar com clareza a dimensão dos custos impostos à sociedade.

Especialmente deseducativa foi a retórica vitoriosa no pleito presidencial de 2014, quando Dilma Rousseff (PT), contra todas as evidências, satanizou quem se atrevesse a apontar a premência de ajustes nas contas do governo.

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Pior, as más notícias são agora transmitidas por uma classe dirigente desmoralizada por assombrosos escândalos de corrupção, e na esteira de um dos ciclos recessivos mais traumáticos da história econômica do país.

Tudo considerado, resta o fato inescapável de que, desde a restauração da democracia, todos os que conheceram de perto a realidade da gestão pública acabaram convencidos da necessidade de reformas, em particular a da Previdência Social —hoje rejeitada por 71% dos brasileiros.

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Nesse rol estão governos tão diferentes quanto os de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), cuja proposta caiu por apenas um voto em 1998, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que em 2003 dedicou o início de mandato a redesenhar a aposentadoria dos servidores.

Até Dilma, depois de reeleita, tentou elaborar o seu projeto, na tentativa de salvar o Orçamento federal e sua administração.

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A pergunta que se pode fazer, em todos os casos, é se um governo deve contrariar os desejos da maioria da população —e a resposta talvez ajude a entender parte do fastio, que tem escala mundial, com a atividade política.

O aprofundamento da democracia desperta, ao longo da história, aspirações populares potencialmente infinitas e, não raro, contraditórias entre si. O progresso sob o regime, indiscutível, não se dá sem tensões e frustrações.

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Não por acaso, mesmo países mais desenvolvidos se viram obrigados a instituir freios legais para evitar que governantes, no afã de atender aos eleitores, comprometam a solvência do Estado.

No caso do Brasil, a tarefa é equacionar o financiamento do aparato de seguridade social, alicerce da redemocratização, e a necessidade de reerguer a economia. Ao menos neste segundo objetivo, o Datafolha já mostra menos pessimismo entre os entrevistados.

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