Todos os homens são iguais perante a mídia?

No momento mais importante da eleição, Vejinha protege, defende e encampa a administração de Gilberto Kassab em São Paulo, sem  uma linha sobre funcionário municipal chave Hussain Aref, aquele que acumulou mais de cem apartamentos nos últimos anos; pode-se esperar, na próxima semana, na mãe Veja, a mesma interrogação para José Dirceu e José Genoíno?

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247 - Uma piada que os jornalistas não gostam de ouvir, e muito menos contar, parece ter virado coisa séria na chamada grande imprensa. Ao menos, na revista Veja São Paulo, publicação anexa a Veja, da Editora Abril.

Neste final de semana, Vejinha brinda seus leitores com uma interrogação: Será que estamos sendo justos com ele?, encimada por uma cândida fotografia do prefeito Gilberto Kassab. A pergunta é respondida, no texto interno, com um sonoro 'não estamos sendo justos com ele'. Após mencionar que uma boa avaliação do trabalho do prefeito ocorre, atualmente, apenas entre pouco mais de vinte por cento da população da maior cidade do País, a publicação esforça-se em desfilar algumas estatísticas, fazer seguidas comparações com a gestão de Marta Suplicy, encerrada em 2004, e conclui que o prefeito não merece a crítica maciça dos maiores interessados numa boa gestão: os cidadãos paulistanos.

Para a Vejinha, está errado o público que tem de conviver dia após dia com pequenas montanhas de lixo acumuladas pelas esquinas em praticamente todos os bairros; assim como são injustos os que passaram a respirar, nos últimos anos, o ar de pior qualidade em todo o País; aqueles mal atendidos nos equipamentos municipais de saúde; as crianças que tiveram na rede oficial de ensino suas merendas rebaixadas em qualidade; os motoristas vítimas da verdadeira indústria de multas em que a cidade se transformou; os moradores dos bairros que perderam a chance de opinar nas antigas reuniões de orçamento participativo; os jovens que não têm mais ruas de lazer para brincar; os ciclistas que precisaram esperar por quase duas gestões consecutivas para obterem, apenas aos domingos, uma faixa exclusiva ao lado dos carros; os pedestres que não conseguem andar em linha reta em razão das crateras e demais acidentes de percurso nas calçadas; os viventes em ruas mal iluminadas; os notívagos que uma vez a cada ano descobrem que a chamada virada cultural é muito mais um momento de violência do que de apreciação; os cidadãos que nunca mais se depararam com campanhas públicas educativas sobre regras de urbanidade; os comerciantes que tiveram seus negócios arbitrariamente multados e até fechados; os pais e mães que assistem à transformação da capital paulista num campo aberto para o comércio de todas as drogas; os que não conseguem reconhecer, em razão do loteamento político, a serventia dos subprefeitos; os que sofrem com o crescimento desordenado da especulação imobiliária em razão da falta de um plano diretor; todos os que se chocaram com a centena de imóveis acumulada recentemente por alguém num cargo chave da administração, como Hussain Aref; os leitores que se recordam do nome de Gilberto Kassab na lista de principais beneficiários do chamado mensalão mineiro; e os que estranharam vê-lo constituir em tempo recorde um partido de amplitude nacional, o PSD, pela cooptação direta quadro a quadro, mesmo com tantas tarefas em aberto no seu próprio quintal.

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Todos estes, a julgar por Vejinha com suas contas comparativas a anos e décadas atrás, estão errados, ou melhor, estão sendo injustos com Kassab. Afinal, há alguns números que mostram que ele foi, sim, um bom prefeito nos últimos seis anos e meio. Por exemplo, construiu um hospital. Um. Em quase sete anos de gestão. Frise-se: um!

Na próxima semana, quando tiver sido iniciado, finalmente, o julgamento, pelo STF, dos ex-presidentes do PT José Dirceu e José Genoíno, Vejinha ou sua mãe Veja poderão dedicar suas capas à mesma pergunta para estes outros personagens? Contra a maré, as revistas do Grupo Abril terão a ousadia editorial demonstrada agora, então para apontar que, por exemplo, não se construiu uma única prova concreta contra Dirceu em todo o julgamento, a não ser ilações baseadas em, no máximo, indícios? Que Genoíno mal foi citado nos autos? Há chances de seus repórteres e redatores levantarem mais da história de ambos, eles que, goste-se ou não, foram artífices de primeira hora de um partido político que se formou por núcleos e bases, perdeu uma série de eleições e, dentro das regras do jogo democrático, se transformou na única agremiação de massas do período da redemocratização? Linhas sobre seus talentos políticos, de oradores, de convencimento? Talvez lembrar que o réu número 1 do chamado mensalão nunca tentou uma virada de mesa, e que seu sucessor no comando do PT andou pela mesma linha?

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Difícil, ou melhor, impossível. Reportagens, neste momento, que derem a Dirceu e Genoínio o simples benefício da dúvida teriam, contra os mantras editoriais do Grupo Abril, uma chance de atenuar junto ao público o verdadeiro massacre de informações negativas ao qual eles vêm sendo submetidos. Nesta chuva de pedras, a simples pergunta 'Será que estamos sendo justos com eles?' já soaria como um abrigo, ainda que efêmero. E eles não merecem, do ponto de vista da maior editora do País, nem mesmo uma sombrinha contra o temporal.

A pergunta é cabível porque, ao mesmo em que mantém em fogo alto a fritura de Dirceu, especialmente, e Genoíno, por extensão, a Editoral Abril estimula, para o delator Roberto Jefferson, a concessão das benesses dos que aderiram à delação premiada -- ainda que ele jamais tenha feito essa opção. Na delação de Jefferson, o grupo opinativo vê justos motivos para atenuantes. Quanto a Dirceu e Genoíno, só há agravantes. Às favas a ausência de provas contra eles.
Gilberto Kassab, que deveria ter cumprido o papel de principal cabo eleitoral do candidato tucano a prefeito de São Paulo José Serra -- e só não o fez porque sua gestão é rejeitada pelos paulistanos --, bem ao contrário, foi contemplado pela Abril não apenas com o benefício da dúvida, mas com a resposta editorial para um indagação que vem a calhar na reta final da eleição: "Será que estamos sendo justos com ele?", repita-se. Dá até vontade de chorar. dá não?
Com a reportagem trazida ao público esta semana, de franco viés favorável aos interesses do próprio Kassab (e, claro, de seu criador Serra), o prefeito passou a ter, no momento mais importante da eleição em que é julgado, uma peça em sua defesa. Daquelas para emoldurar e colocar na parede da sala. O mesmo Kassab qiue não pode atravessar o Viaduto do Chá a pé sem correr risco em sua integridade física é aquele que, pelas páginas da Vejinha, mais parece um herói da administração pública -- e uma grande vítima da incompreensão geral. Foi defendido, protegido, encampado por uma das principais máquinas de produzir opinião da Editora Abril. Consumou-se, assim, uma matéria boa para um prefeito ruim. É, com o sinal trocado e outro personagem, a piada concretizada em texto jornalístico que os jornalistas repelem:

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Num teste para a contratação de um redator para uma grande publicação, pede-se como prova de boa escrita um texto sobre Jesus Cristo. Ganhou a vaga, após uma série de entregas com elogios rasgados ao fundador do cristianismo, o candidato que, antes de começar a escrever, perguntou ao homem que parecia ser o chefe dos examinadores: 'é para ser a favor ou contra esse cara?'

 

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