Diretor de Veja vê internet como terra sem lei

No encontro que discutiu a morte lenta dos veículos impressos, Eurípedes Alcântara definiu a web como “mundo selvagem”, quase um faroeste; diretor do El Pais mostrou-se cético em relação à cobrança pelo conteúdo distribuído na internet

Diretor de Veja vê internet como terra sem lei
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247 – Terminou, neste domingo, em São Paulo, o encontro da Sociedade Interamericana de Jornais, que discutiu a morte gradual e lenta dos veículos impressos, na era digital. Nele, diretores dos jornais O Globo, Estado de S. Paulo e Folha debateram, sem apontar uma saída para o futuro dos jornais, diante do avanço do jornalismo online. Diretor de Veja, Eurípedes Alcântara definiu a internet como “mundo selvagem, sem lei”. Principal palestrante do evento Juan Luis Cebrián, do El Pais, jogou um balde de água fria nos executivos do setor, ao dizer que duvida do sucesso dos modelos de cobrança por conteúdo, como foi implementado pela Folha e pela Zero Hora.

Leia, abaixo, reportagem do Valor:

A imprensa discute transição do modelo impresso para o digital

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A apresentação de Juan Luis Cebrián no sábado último estava rodeada de grande expectativa na 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa - SIP, na sigla em espanhol -, que reúne em São Paulo 450 jornalistas e executivos de mais de 20 países. Cebrián foi o primeiro diretor de "El País" e fez dele um dos mais importantes jornais do mundo e o de maior circulação da Espanha. Hoje, é presidente do conselho de administração de Prisa, o maior grupo espanhol de comunicação, que controla "El País".

Cebrián apresentou um cenário deprimente das tendências da mídia impressa no mundo.  

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Enquanto os meios digitais crescem exponencialmente, os tradicionais mal conseguem manter suas posições, quando não estão em queda. Esse mau desempenho se deve, em parte, à crise econômica que começou em 2008, mas sobretudo a uma questão estrutural, que aponta para um contínuo declínio da circulação e das receitas publicitárias dos jornais.

Mas a plateia pareceu mais interessada em ouvir detalhes sobre a experiência e a situação de "El País", que poucos dias antes anunciara profundos cortes na redação. Cebrián disse que as demissões anunciadas são difíceis e dolorosas, mas necessárias para enfrentar a crise. O jornal perdeu uma grande parte de sua receita nos últimos anos e não pode continuar com uma estrutura de custos montada num período de bonança. Sem as medidas de ajuste, o diário teria prejuízo em 2012. Em cinco anos, os principais jornais espanhóis perderam em média 60% da renda com anúncios. Em "El País", a publicidade caiu de € 184 milhões para € 62 milhões. Em seu maior concorrente, "El Mundo", de € 135 milhões para € 50 milhões, e no "ABC" de € 89 milhões para € 38 milhões. A circulação de "El País" caiu 25%.

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Considerando todas as receitas, "El País" fatura por ano € 200 milhões menos do que no passado. Nos últimos anos, já tinha feito um grande esforço de contenção, cortando € 100 milhões, mas não foi suficiente. Teve que aprofundar os cortes. O jornal tinha 478 pessoas na redação; na semana passada foram anunciadas 128 demissões e 21 aposentadorias antecipadas para quem tem mais de 59 anos, além de um corte linear de 15% dos salários fixos da redação; o salário médio anual é de € 88 mil (R$ 232 mil). Como comparação, "Le Monde" de Paris tem 320 jornalistas. As demissões de "El País" estão concentradas nas edições locais, a maioria das quais será fechada. Seu concorrente "El Mundo" demitiu 170 pessoas no ano passado. Na Europa, outros jornais de referência, como "Le Monde", "La Repubblica" de Roma e "The Guardian" de Londres fizeram ou estão fazendo ajustes. Desde 2008, no início da crise, mais de 7 mil jornalistas espanhóis perderam o emprego. Todos os jornais gratuitos do país desapareceram, com exceção de um, "20 Minutos", que está em crise.

Olhando para o futuro, "El País" pretende consolidar sua posição como "o jornal global em espanhol". Quer reforçar sua presença nos países de língua espanhola e portuguesa. Está investindo na América Latina onde já é impresso em cinco localidades diferentes - uma delas São Paulo - e onde tem uma circulação de 40 mil exemplares. No ano passado, instalou uma redação no México.

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Cebrián disse que "El País" investe em sua plataforma digital; hoje é o maior jornal digital em língua espanhola do mundo, com 12,5 milhões de usuários únicos, dos quais 31% estão na América Latina. Atualiza a informação na rede 24 horas por dia com as redações de Madri, Washington e Cidade do México. Mantém gratuito o acesso ao conteúdo. Só cobra de quem quer em PDF ver a imagem do jornal impresso, modalidade que tem 20 mil assinantes, dos quais de 10 mil a 12 mil pagos. No passado, "El País" cobrou pelo acesso ao conteúdo e chegou a ter 90 mil assinantes. Desistiu ao ser ultrapassado por seu concorrente "El Mundo" em número de usuários únicos. Cebrián disse estar preocupado com a falta de proteção para os direitos autorais na América Latina, onde não existem garantias legais para conteúdo colocado na rede.

Por enquanto, os elevados investimentos de "El País" na mídia digital não têm uma receita que compense a queda de faturamento da edição impressa. Entra só um euro pela internet para cada dez euros que o jornal deixa de faturar no papel. Cebrián lembra que nenhuma empresa de mídia no mundo migrou bem para o mundo digital; nenhum grupo tradicional conseguiu até agora ganhar dinheiro na internet. O modelo atual de negócios está desaparecendo sem que tenha sido encontrado outro para substituí-lo.

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Ele observa que na América Latina a mídia impressa continua com boa saúde. Acha que ainda tem cinco anos para adaptar-se às novas tendências. Aconselha que as reformas mais difíceis devem ser feitas agora, para não ter que fazê-las, de maneira muito mais difícil, como é o caso de "El País", em momentos de crise. Quanto a ele, Cebrián disse: "Vim fazendo durante 50 anos jornais em papel e vou morrer fazendo jornais em papel".

O jornalista brasileiro Rosental Calmon Alves, professor da Universidade do Texas, afirmou que o grande problema dos jornais não é o declínio da circulação, que nos Estados Unidos começou há 60 anos, mas a queda da publicidade; a receita dos anúncios classificados praticamente desapareceu. Os jornais terão que procurar outras fontes de receita. Ele mostrou-se cético em relação à cobrança pelo acesso ao conteúdo na internet. Matías M. Molina

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