Um depoimento memorável de Lula a Augusto Nunes

No tempo em que ainda era jornalista, e não um profissional da agressão ao PT, Augusto Nunes produziu entrevistas memoráveis; neste fim de semana, a pretexto de criticar uma fala de Lula sobre a “hipocrisia” do STF no julgamento da Ação Penal 470, ele publicou uma entrevista que fez com o ex-presidente há 15 anos – e que só confirma a hipocrisia que marca o caso do mensalão

Um depoimento memorável de Lula a Augusto Nunes
Um depoimento memorável de Lula a Augusto Nunes (Foto: Edição 247)


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247 – Em 1997, qual era a visão de Luiz Inácio Lula da Silva sobre o Congresso Nacional? Um balcão de negócios, onde qualquer governante se vê forçado a oferecer moedas aos Judas da política (Jefferson, Valdemar...) em troca da governabilidade. E sobre Fernando Henrique Cardoso? Não um político que se uniu à direita para ganhar a eleição, mas um homem que foi ganho pela direita. Janio Quadros? Um populista típico, nocivo à democracia. Posições com as quais muitos concordariam e que revelam um Lula maduro politicamente -- o vídeo vale a pena ser visto (clique aqui).

Augusto, no entanto, publicou o depoimento de 15 anos atrás, feito no tempo em que ainda era jornalista, para acusar o ex-presidente de desconhecer o significado da palavra hipocrisia – tudo porque Lula considerou hipócrita a decisão do Supremo Tribunal Federal em relação à Ação Penal 470.

Ocorre, no entanto, que o depoimento prova apenas duas coisas: (1) que Lula expôs com clareza a natureza de cooptação das relações entre governos (não só do PT, mas todos) e os poderes legislativos e (2) que Augusto Nunes, quando era jornalista, conseguia ser um bom entrevistador.

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Convertido em profissional da agressão a Lula e ao PT desde que foi incorporado por Veja, Augusto Nunes publicou o que segue abaixo sobre a memorável entrevista que ele próprio resgatou (o vídeo é bem melhor do que o texto):

Para inocentar culpados, um hipócrita de carteirinha acusa o Supremo de hipocrisia

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Inconformado com a condenação dos companheiros bandidos pelo Supremo Tribunal Federal, Lula repete de meia em meia hora seu diagnóstico sobre o julgamento do mensalão: “É uma hipocrisia”. O ex-presidente nunca escondeu que foge de leituras como o diabo da cruz, o vampiro da claridade e Dilma Rousseff da verdade. Pode-se deduzir, portanto, que nunca viu um dicionário a menos de um metro de distância.

Se provavelmente ignora a grafia da palavra que anda recitando, Lula decerto desconhece seu significado. Alguma alma caridosa deveria fazer-lhe o favor de contar que, segundo o Aurélio, hipocrisia quer dizer fingimento, falsidade; fingir sentimentos, crenças, virtudes, que na realidade não possui. Derivada do latim e do grego, a palavra se aplicava originalmente à representação dos atores que usavam máscaras de acordo com o papel interpretado.

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Em 1997, por exemplo, Lula usava a máscara de chefe da oposição quando foi incluído no elenco de 52 protagonistas da História do Brasil entrevistados para um documentário patrocinado pelo BankBoston e produzido pela TV1. Numa das salas do Museu do Ipiranga, conversei por mais de uma hora com o então presidente de honra do PT. Ainda convalescendo da derrota que lhe impusera Fernando Henrique Cardoso três anos antes, já estava em campanha para o duelo de 1998.

Fiel ao script ditado pela máscara da vez, o entrevistado caprichou na pose de campeão da ética e da modernidade, pronto para erradicar a corrupção, o populismo e outras pragas que sempre infestaram a política brasileira. O vídeo mostra o que Lula disse sobre Jânio Quadros, FHC e o Congresso. “Enquanto o povo gostar de políticos como o Jânio, nós não saímos do atraso”, começa a discurseira. Confira três trechos:

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SOBRE JÂNIO: “Sabe, o populista barato, o autoritário, o que acha que as pessoas tem que ter um chefe que mande, que dê ordem, que use a chibata, sabe, que não tem respeito pelas pessoas, que grita com o jornalista, que ofende os adversários… Eu, pela minha formação política, jamais me prestaria a ser um político desse tipo”.

SOBRE FERNANDO HENRIQUE“Quando é que a pessoa começa a ficar ditador? É quando a pessoa se sente superior aos demais…sabe, quando a pessoa se sente superior às instituições, às organizações da sociedade civil, quando a pessoa começa a entender que não precisa ouvir mais ninguém, quando a pessoa só tem boca, não tem ouvido, a pessoa começa a ficar com atitude de ditador”.

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SOBRE O CONGRESSO: “Eu acho que o parlamento brasileiro funciona como uma espécie de bolsa de valores. A verdade é que as pessoas de boa índole, as pessoas sérias, as pessoas comprometida com as suas concepções ideológica são minoritárias no Congresso. Aquilo é um balcão de negócio”.

Passados 15 anos, o entrevistado incorporou o que Jânio tinha de mais detestável, enquadrou-se no figurino que atribuiu equivocadamente a FHC e faz o que pode para tornar o Congresso mais cafajeste do que era em 1997. O farsante que agora acusa o STF de hipocrisia é um perfeito hipócrita. Mas este talvez hoje seja um dos seus traços menos repulsivos. Os outros são muito piores.

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