A encruzilhada da Folha na era digital

Jornalista Suzana Singer, ombudsman do jornal, diz que os veículos impressos ainda não encontraram a fórmula ideal para rentabilizar seus negócios na internet e afirma que "enquanto a rede não se prova um ambiente rentável, as empresas tradicionais de comunicação não investem pesadamente para melhorar seus sites"

A encruzilhada da Folha na era digital
A encruzilhada da Folha na era digital


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247 - Maior jornal do País, a Folha de S. Paulo ainda não encontrou a fórmula ideal para atravessar a inevitável migração do papel para a era digital. Segundo a ombudsman Suzana Singer, a grande maioria dos internautas que acessam o site da Folha.com ainda não se convenceram a pagar pelo conteúdo. Leia abaixo:

A luta do momento

Suzana Singer

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Na dura travessia para um modelo de negócios que não dependa só do impresso, jornais precisam investir em qualidade para fidelizar o internauta

O "NEW York Times" anunciou na quinta-feira passada que, pela primeira vez em sua história, a receita de circulação ultrapassou a obtida com a publicidade. A ombudsman de lá saudou: "Aviso ao leitores: vocês importam. E importam agora mais do que nunca".

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Trata-se de uma mudança importante. Nos últimos anos, o "NYT", assim como a maioria dos jornais norte-americanos e europeus, viu diminuir lenta, mas continuamente, a venda dos exemplares impressos, ao mesmo tempo que a publicidade sofria uma queda vertiginosa.

A saída foi tentar convencer o internauta a pagar por informação. Deu certo para o "NYT", que em quase dois anos vendeu 640 mil assinaturas digitais.

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O problema é que a receita obtida da circulação virtual não cobre o rombo causado pela perda de anunciantes no impresso. A publicidade nos sites jornalísticos ainda é tímida, porque o dinheiro grosso vai para sites especializados e para o Google -daí os embates, em muitos países, inclusive no Brasil, entre as empresas de comunicação e o gigante da internet para forçá-lo a pagar pelo conteúdo indexado.

O resultado negativo dessa conta implica "cortes de custos", que se materializam em demissões sucessivas nas Redações, já sobrecarregadas com a produção on-line.

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Essa transição dolorosa do modelo de negócio baseado exclusivamente no impresso para um misto de papel com internet acontece também aqui, embora em um ritmo menos frenético.

Folha foi a primeira a importar o "paywall poroso", em que o internauta pode ler de graça uma certa quantidade de notícias, mas depois precisa se cadastrar e, por fim, pagar. A cobrança foi implantada em junho do ano passado e o jornal tem hoje 45 mil assinaturas digitais, o que corresponde a cerca de 15% da circulação total. É um bom número, considerando-se a grande oferta de notícias gratuitas na rede e o fato de os assinantes do UOL terem livre acesso ao conteúdo da Folha.

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Ao mesmo tempo, é um número ínfimo em comparação com os 20,5 milhões de visitantes únicos que o site recebeu em janeiro. Provavelmente, a maioria dos internautas não consome uma quantidade suficiente de notícias que o leve a ser barrado pelo "muro de cobrança".

Na Folha, dá para ler 40 textos por mês de graça -dois por dia útil, o que parece pouco. As notícias mais clicadas são geralmente as que falam de celebridades ou as que resvalam em sexo.

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A verdade é que, apesar de comemorarem as vultosas cifras de audiência on-line, os jornais ainda não descobriram o tamanho real do seu público na internet, aquele que, interessado em informação, acharia justo pagar por ela.

Enquanto a rede não se prova um ambiente rentável, as empresas tradicionais de comunicação não investem pesadamente para melhorar seus sites.

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Basta navegar pelas principais "homes" de notícias brasileiras para perceber que os textos parecem despachos de última hora. São poucos os "furos" (informações exclusivas), faltam grandes reportagens e a parte visual, de vídeos e infográficos, não foi feita pensando na internet. Em abundância, encontramos apenas opinião, graças à presença de dezenas de colunistas e blogueiros, que provocam algum barulho e custam pouco às empresas.

Se o caminho a ser seguido é o do "New York Times", empenhado cada vez mais em cativar o internauta, é preciso apostar no que diz o seu publisher, Arthur Sulzberger Jr.: "Jornalismo de qualidade atrai leitor de qualidade, que atrai anúncios de qualidade". Oxalá seja verdade.

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