O mimimi de Reinaldo contra as cotas

Blogueiro neocon questiona resultados de pesquisa que aponta que 62% dos brasileiros são favoráveis à política de inclusão nas universidades; atento a essa realidade, até o governo de São Paulo aderiu à onda transformadora e lançou seu próprio programa de cotas, mas ele prossegue com sua cruzada perdida

O mimimi de Reinaldo contra as cotas
O mimimi de Reinaldo contra as cotas


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247 - A resistência à política de cotas no Brasil viveu vários momentos. O primeiro foi o lançamento do livro "Não somos racistas", pelo jornalista Ali Kamel, da Globo, que obteve farta repercussão em meios conservadores, como Abril, Estado e até a Folha. Depois disso, editoriais na imprensa alimentaram discursos do parlamentar que simbolizava a resistência: o então senador Demóstenes Torres, de triste memória.

Com o passar do tempo, pesquisas demonstraram que alunos cotistas tinham desempenho acadêmico tão bom ou melhor do que os demais. E várias famílias foram transformadas depois que seus filhos entraram em universidades. Resultado: uma pesquisa publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, no último fim de semana, revelou que 62% dos brasileiros são favoráveis à política de cotas.

Antes mesmo disso, o próprio governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, começou a se afastar dos porta-vozes do neoconservadorismo na imprensa e lançou sua própria política de cotas – sem a qual, dificilmente teria chances de se reeleger.

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Este debate, portanto, já teve vencedores no Brasil. Os neocons perderam.

No entanto, nesta segunda, Reinaldo Azevedo, prossegue com seu mimimi neocon. Leia abaixo:

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A pesquisa sobre as cotas raciais e o falso consenso. Ou: “Você é contra a bondade ou a favor? Você é contra o câncer ou a favor?”

Os países condenados ao atraso não o foram da noite para o dia. Para tanto, concorrem o esforço de gerações e a dedicação de muitas pessoas — como já afirmou alguém sobre  subdesenvolvimento. Quem disse que uma estupidez não pode contar com o apoio da esmagadora maioria da população? Quem dera só as coisas boas fossem endossadas pela torcida! Tantos desastres teriam sido evitados na história humana, né? A maioria é um bom critério para formar governos — é um dos requisitos da democracia (seu irmão gêmeo e espelhado é o respeito às minorias), mas não é critério de verdade. Ainda que a maioria acredite quem é o Sol que gira em torno da Terra, a Terra continuará a girar em torno do Sol.

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O Estadão publicou neste domingo dados de uma pesquisa Ibope segundo a qual 62% dos brasileiros apoiam cotas para negros, pobres e egressos das escolas públicas nas universidades. Só 16% se mostram contrários a qualquer expediente do gênero. Alguns bananas resolvem encher o seu saco: “E aí? O que você vai dizer agora?” Ora, vou dizer o óbvio: os 62% estão errados, e os 16%, certos. Simples, não? Nem por isso sou contra a democracia e a eleição de governos pela maioria. Confesso: antes, eu era contra as cotas; depois, mudei um pouco: fiquei mais contra ainda.

Eu explico. Vários fatores formam a nossa opinião, certo? No homem racional, o preponderante é sempre o mérito da coisa e, nas matérias que ensejam escolhas, a sua moralidade intrínseca — a noção que temos de “certo” e de “errado”. Mas não é só isso: a opinião dos outros também influencia a nossa. Há ainda a qualidade do debate. Os embates intelectuais sobre cotas nas universidades são marcados por tal grau de vigarice intelectual e de patrulha — com a demonização dos argumentos dos que se opõem à medida — que aquela minha oposição de mérito se radicalizou: agora eu sou contra cotas porque as considero uma estupidez em si (a minha oposição de origem) e porque se transformaram em proselitismo obscurantista e irracionalista.

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As cotas foram transformadas em sinônimo de justiça social — e, por óbvio, ninguém vai se opor a isso, ainda que essa seja uma das expressões de sentido mais aberto e incerto de que se tem notícia. Oferecer uma escola decente aos pobres, por exemplo, é fazer “justiça social”? Caso se entenda por isso a garantia de condições para que os indivíduos possam aprender e progredir na vida, então respondo: “É!” A implementação da política de cotas jogou as três esferas de governo para a zona do conforto. Em vez de incentivar a melhoria da escola pública, vai acabar retardando o processo. É mera questão de lógica elementar.

Ora, as cotas são vistas — e com razão — como um benefício para os mais pobres. É certo que a maioria vai dizer “sim”. Imaginem o ibope a fazer esta pergunta: “Você é favorável a que todos os brasileiros comam carne todo dia?” Creio que só alguns vegetarianos diriam “não”. É claro que uma larga maioria dirá “sim” ao que entende ser um fator de correção de injustiças.

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A questão, desde sempre, é saber se o melhor lugar para responder à ineficiência da escola pública é a universidade, lugar em que o único critério válido a distinguir as pessoas tem de ser o saber. O Ibope poderia testar esta pergunta: “Você e favorável a que um aluno que sabe menos ocupe, na universidade, o lugar de aluno que sabe mais?” Qual você acham que seria a resposta? O único critério de acesso justificável numa universidade é o saber, pouco importa qual seja o método de seleção: o vestibular propriamente dito ou o megavestibular chamado Enem.

Encerro notando que nem poderia ser outra a opinião da maioria. Nos últimos anos, bem poucas vozes ousaram se insurgir contra a medida. As oposições passaram longe do tema, com raras exceções, como o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Pior: um dos críticos da proposta no Senado era Demóstenes Torres. Lembro isso porque a desonestidade intelectual desse debate chega a tal ponto que se procurou associar o envolvimento do então senador com um bicheiro à sua opinião sobre cotas raciais. Na cabeça perturbada de alguns, esses elementos estavam associados. Ou por outra: ser a favor de cotas é coisa “do bem”; ser contrário é “coisa do mal”. E assim será por muitos anos.

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Por Reinaldo Azevedo

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