Um debate bizarro na Globonews sobre Yoani

Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, argumenta que a jornalista Mônica Waldvogel se uniu a um dos debatedores, Sandro Vaia, ex-Estadão, para tentar cassar a palavra do outro, que era Breno Altman, do Opera Mundi; Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, também defende Altman

Um debate bizarro na Globonews sobre Yoani
Um debate bizarro na Globonews sobre Yoani


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247 - Eis, abaixo, duas análises sobre o polêmico Entre Aspas, sobre a cubana Yoani:

Globonews exibe debate bizarro sobre Yoani Sánchez

Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania

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Pena que não tenho como reproduzir aqui o vídeo do último programa “Entre Aspas”, da Globo News, em que a apresentadora Monica Waldvogel recebeu os jornalistas Sandro Vaia, ex-diretor do Estadão, e Breno Altman, editor do site Opera Mundi, a fim de debaterem os fatos que marcaram a visita da blogueira cubana Yoani Sánchez. É divertidíssimo.

Mas você, leitor, não ficará sem assistir. Pode conferir a íntegra do programa por aqui ou, se quiser, pode apenas ler este post. A escolha é do freguês.

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Sobre o programa, um de seus méritos foi o de revelar quão desvirtuado vem sendo esse debate, pois a discussão que ali se viu girou, em grande parte do tempo, em torno das manifestações contra a blogueira.

Apesar de ser elogiável a coragem de Monica em convidar um divergente “fera” como Altman, este deve ser eximido de culpa pelo desvirtuamento do debate. Foram ela e Vaia que o desvirtuaram ao tentarem impedir o rumo que tomava entoando um mantra sobre os protestos de que Yoani foi alvo.

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Muito nervosos, Vaia e Monica agiram em dupla pondo Altman sob fogo cruzado. Todavia, este conseguiu manter a linha de pensamento. Antevendo que perderiam o debate se o deixassem falar – a cada vez que abria a boca, estremeciam –, recorreram ao velho recurso de quem não tem argumentos.

Vaia começou a comparar os protestos contra Yoani a movimentos do nazismo e do fascismo que, na aurora da ascensão daqueles regimes na primeira metade do século XX, espancavam pelas ruas da Europa os que pensavam diferente e ousavam dizer de público o que pensavam.

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As expressões de incredulidade que se estampavam no rosto de Altman eram talvez mais demolidoras do que sua eloquente argumentação. Apontou a Vaia o “pequeno” detalhe de que os contrários de Yoani só exerceram o direito constitucional à liberdade de expressão em locais públicos e que não houve violência, ainda que possa ter faltado critério.

Aliás, vale explicar que se os protestos contra Yoani tivessem tido o menor resquício de violência – conforme tentaram vender Vaia e Monica – os manifestantes teriam sido reprimidos pela polícia, inclusive no último evento de que a blogueira participou, na Livraria Cultura, em São Paulo, no qual ocorreram novos incidentes e onde abundaram policiais.

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Mesmo estendendo uma discussão menor e atuando de forma injusta, na base do dois contra um, Vaia e Monica ficaram vendidos. A apresentadora, acuada, decidiu fazer uso do poder de condução do programa e cassou a palavra de Altman em favor do outro entrevistado. E fez isso por mais de uma vez.

Quem assistiu ou vier a assistir ao programa constatará que Monica prejudicou um dos debatedores. Inclusive como é costume dela fazer nesse tipo de debate que promove, posicionando-se ao lado de um deles e, assim, reduzindo a possibilidade de argumentação do outro.

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O mais interessante é que Vaia, sempre entoando mantra que comparava a garotada que vaiou (ops!) Yoani a vários movimentos autoritários europeus, em nenhum momento, ao falar naquelas ações autoritárias e antidemocráticas, citou as que mais fazem sentido aos brasileiros: as ações golpistas de 1964.

O entusiasta da “Revolução” tupiniquim fez isso porque a parte da direita que ele integra envolveu-se até os ossos com o estupro da democracia do país no século passado, razão pela qual foge de discutir aquele período de trevas. Assim, qualquer menção à única ditadura que todos conhecemos é logo respondida com frases pré-fabricadas sobre Cuba.

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Esse escapismo do debate, porém, vai ficando cada vez mais frágil, sobretudo com uma Comissão da Verdade se preparando para contar ao Brasil uma história que já provoca suor frio e tremedeira nos adeptos de ontem e de hoje daquele regime de horror.

Não houve, então, uma parte interessante no programa? Houve, sim. E foi cortesia do editor do Opera Mundi.

Altman descartou que Yoani seja “agente da CIA”. Em sua opinião, é só uma ativista de perfil light que foi “abraçada” pelo conjunto de forças político-ideológicas que faz propaganda negativa contra o regime cubano e que viu nela oportunidade de “aggiornamento” da própria imagem pública, desde sempre identificada por uma face de ultradireita.

Além disso, o grande serviço que o jornalista progressista prestou à verdade foi o de desmontar a distorção que tentaram fazer de reunião em que o embaixador cubano ofereceu ao governo brasileiro material contendo a sua versão dos fatos e a sua visão sobre a natureza das ações de Yoani.

Monica tentou contrabandear insinuação descabida de que o governo brasileiro teria organizado os protestos contra a cubana, mas Altman a interpelou, de forma incisiva, cobrando explicações sobre a quem se referia, pois foi uma acusação velada.

O editor do Opera Mundi quis saber por que o governo cubano não poderia oferecer sua visão sobre a sua detratora e onde estaria a evidencia de que o governo brasileiro organizara os protestos contra ela. Monica abandonou a linha de argumentação em seguida devido à boa e velha falta de argumentos.

Não se pode deixar de reconhecer, entretanto, que a apresentadora prestou um serviço a esse debate mesmo dando espaço menor à opinião divergente. Afinal, apesar de ter tentado cassar a palavra de um entrevistado, o que ele conseguiu dizer por certo fez muita gente refletir que a blogueira de pés de barro tem excelente$ razõe$ para falar mal de seu país.

Altman deu, no ar, informação que a mídia nunca dá quando exalta Yoani: ela recebe fortunas de corporações – inclusive de mídia – que se opõem ferozmente ao regime cubano. Assim, sendo ou não agente da CIA, suas posições políticas a recompensam muito bem financeiramente, além da fama e da exaltação que as mesmas corporações fazem de si.

E o que é melhor: Yoani ganha tudo isso sem correr risco algum de retaliação pelo alvo de tanto ideali$mo, a terrível “ditadura” que a deixa sair pelo mundo detratando-a e que, em Cuba, nada faz para impedi-la.

Muito estranha a “ditadura” cubana, não? Se a tal Yoani fosse viva nos idos de 1964 e divergisse da “ditabranda” brasileira (by Folha de São Paulo) como diverge do regime cubano, a esta altura estaria vendo capim crescer pela raiz. Afinal, ditadura que é ditadura não permite uma palavra de quem diverge. Quanto mais verborragia como a dessa mocinha.

Breno Altman arejou por minutos o Entre Aspas

Por Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo

Jamais assistiria a Entre Aspas, ou a qualquer programa da Globonews, não fosse em circunstâncias especiais. O tempo é escasso e tenho que administrá-lo.

Mas elas, as circunstâncias especiais, se apresentaram.

Mauro, do site Causa-me Espécie, postou um comentário no Diário no qual falou de Entre Aspas sobre Yoani Sanchez. A jornalista Moniva Waldvogel intermediava, aspas, as opiniões conflitantes entre Breno Altman, editor do site Opera Mundi, e Sandro Vaia, ex-diretor do Estadão.

Link à minha frente, cliquei. Não sabia se resistiria aos 25 minutos, mas sim, fui até o fim, por causa de uma surpresa: Breno Altman.

Não o conhecia. É um jornalista articulado, inteligente, bem preparado e elegante ao debater. Com todos estes atributos, não admira que tenha dado um monumental baile em Sandro Vaia e Monica.

Breno defendeu o óbvio: o direito à livre expressão dos que vaiaram Yoani em Feira de Santana.

Não houve agressão física, e sim vaias – a meu ver merecidas e previsíveis, dada a antipatia que Yoani desperta entre praticamente todas as pessoas que não sejam de direita.

Democracia é assim: você pode vaiar e pode aplaudir. Onde, em Feira de Santana, as pessoas que aplaudem Yoani?

Se ela estivesse falando em Miami, seria intensamente aplaudida pelos fanáticos anti-Cuba. E os que eventualmente a apupassem ali seriam suplantados e silenciados pelas palmas da maioria. Mas Feira de Santana não é Miami.

Breno estava certo em tudo que disse. Clap, clap, clap. Ao ver Monica com seus argumentos tão simplórios, me ocorreu a possibilidade de que trabalhar na Globonews – a palavra é dura, mas é a que mais claramente traduz a impressão que tive — emburrece. Você troca ideias com intelectuais, aspas, como Jabor, William Waack, Ali Kamel.

Breno ganhou fácil o debate, e depois tentaram desqualificá-lo no tapetão. Escreveram que ele foi “deselegante”, ou que “gritou”.

Ora, ele foi lhano todo o tempo. Dirigiu-se pelo nome aos dois oponentes e só falou quando lhe foi pedida a palavra. Sorriu sempre, ao contrário de Sandro Vaia e Monica, que pareciam transbordar de raiva.

Breno tentou, no final, dar um presente a Sandro Vaia, mas Monica, grosseiramente, impediu.

Ele arejou por alguns minutos a Globonews, mas é claro que, se alguém ali voltar a ser convidado para participar de debates, não haverá de ser ele.

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