Golpe de Estado paraguaio

Não dá pra esconder, Paraguai: vocês foram vítimas de um golpe de Estado planejado e estruturado, claramente ilegítimo e abominável



✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Não dou absolutamente nenhum "arrego" aos feitos de Collor. Aliás, fui seu opositor nas urnas até o fim, mas acho que mais valem duas horas de defesa sincera (apesar da supressão ao direito de ampla defesa) do que várias semanas de defesa (nem sempre verdadeira) apresentada a julgadores absurdamente desprovidos de qualquer boa vontade (como era o caso dos julgadores do ex-presidente).

Por que no caso do Brasil, em 1992, a conclusão final teria sido distinta do presente caso Lugo? Porque queria-se derrubar o presidente, e ponto final. Ser "líder sul-americano", afinal, tem suas desvantagens. Agora eles podem dizer que fizeram o mesmo com Lugo o que nós fizemos com Collor. Golpe seguido de "Privataria".

Tivéssemos tido a inteligência de relegar Collor à simples "ingovernabilidade", forçando-o a engolir das urnas vindouras seu próprio legado, teríamos certamente feito melhor do que fizemos. Algo que no Paraguai, aparentemente, não teria acontecido, pois que à primeira impressão, Lugo, mesmo que fosse boicotado pelo parlamento pelo restante de seu mandato, ainda assim teria mantido sua força popular (algo que não afirmo, apenas sugere a reação paraguaia observada desde seu afastamento).

continua após o anúncio

Mesmo que tal inferição de minha parte esteja equivocada, o cara, apesar de pai bastardo enquanto bispo da Igreja Católica, foi capaz de resistir, no poder já precário, a um câncer que nenhum de nós teria gostado de enfrentar.

E, acima deste argumento cancerígeno que agora parece diminuto, talvez nós brasileiros devêssemos estar cruamente a aplaudir o desfecho havido no Paraguai, já que, pelas aparências, Lugo estava provavelmente em posição contrária à dos brasiguaios, muito provável que agindo cautelosamente para dobrar as leis e forçar a retirada dos investidores e produtores brasileiros das regiões limítrofes entre Brasil e Paraguai em benefício de desorientados paraguaios, que acham que ter terra é o mesmo que produzir oleaginosas de qualidade internacional.

continua após o anúncio

Não vou, sequer, tocar no ridículo aspecto já denunciado (detectado) pela ONU há duas décadas, de que o Paraguai exporta duas vezes mais soja do que seria possível plantar e colher em suas terras cultiváveis. Isto é assunto para os dois governos (brasileiro e paraguaio) resolverem em conjunto na esfera criminal, afinal nada melhor do que uma simbiose Brasil / Paraguai para que contraventores encontrem "jeitinhos" para burlar as leis.

Isso, porém, pouco importa. Primeiro que o tiro seria desferido "contra o próprio pé", pois não há paraguaios candidatos às terras brasiguaias que pudessem manter o mesmo grau de produção introduzido pelos agricultores brasileiros.

continua após o anúncio

Segundo, o abominável "golpe de legalidade", com quebra dos contratos e desapropriações feitas à sombra, não apenas feririam brasileiros há muito tempo radicados no Paraguai como igualmente derrubariam drasticamente o nível de produtividade das terras legitimamente exploradas pelos "brasiguaios".

Por fim, estivesse Lugo macomunado com a deposição ilegítima dos "brasiguaios", o tempo encarregar-se-ia de torná-lo mais vítima do que fruidor das consequências.

continua após o anúncio

Se Franco fosse um legítimo "resgatador dos direitos dos brasiguaios", sua bandeira de "tomada do poder" teria sido muito mais contundente em favor dos direitos de propriedade destes, e jamais teria sido permitida a diarréia verbal do embaixador paraguaio junto à OEA quanto à formação de uma nova tríplice aliança entre os antigos aliados da Guerra do Paraguai. Especialmente no sentido de que tal declaração oficial de animosidade (que eu penso mais como sendo uma "deselegância") adotou - "Se querem formar uma nova tríplice aliança, que venham, o Paraguai está preparado". Quanta imbecilidade, afinal, pode-se juntar em poucas palavras?

Para resumir, não dá pra esconder, Paraguai: vocês foram vítimas de um golpe de Estado planejado e estruturado, claramente ilegítimo e abominável, que deve não apenas ser condenado por todo o mundo, como também ser denunciado e combatido por todos os meios legais e competentes para restaurar-lhes a boa imagem de uma nação que – apesar de todos os seus pesares – deixou para trás os meios de Strossner e efetivamente fez a opção de prosseguir em busca de desenvolvimento social calcado primordialmente no Estado de Direito. Ou será que até hoje vocês buscam uma "vingança" pelo fato de Strossner ter-se refugiado no nosso litoral (que era exatamente o que vocês buscavam quando da guerra entre nós)?

continua após o anúncio

Afinal de contas, não estamos aqui tratando de assuntos que sejam – sequer aos cidadãos menos cultos de ambas as nações – providas de qualquer tipo de teoria de conspiração ou de profundidade que exija mais do que um nível escolar básico para serem debatidos. Tratamos apenas do trivial. Não defendemos de maneira inconsistente o direito de propriedade dos brasiguaios, como também não achincalhamos o direito paraguaio de depor um presidente legitimamente eleito em apenas 36 horas de processo.

Chamamos a atenção de todos, porém, para os atentados pueris que ainda hoje são perpetrados contra cidadãos do mundo todo por parte de poderosos que ainda se julgam superiores à massa intelectual do globo, que ainda acham possível orquestrar golpes de Estado passando despercebidos, como se à sombra da lei estivessem.

continua após o anúncio

Nenhum de nós é estúpido, Sr. Franco, e nem o Mercosul nem a Unasul necessitam de golpistas "brancos" em seus quadros. Prefiro nenhum mercado comum a uma associação que dê abrigo a golpistas como o senhor.

E não falo apenas pelos "brasiguaios", que tanto desenvolvimento trouxeram a seu país. Falo em nome de toda uma América Latina cansada de desmandos e contradições, primeiramente explorada por colonos Ibéricos, depois pilhada por neo-liberais, e hoje dividida internamente, entre pseudo-radicais que teimam em justificar-se como vítimas do velho e do neo colonialismo, e outros que entenderam que mais vale aceitar os fins possíveis do que optar pelos meios inaceitáveis na busca por fins inviáveis.

continua após o anúncio

Carlos é especialista em finanças internacionais pelo IBMEC-DF e atualmente presta consultoria para interessados em aprimorar relacionamentos comerciais no Oriente Médio e na Ásia

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247