Lara Resende pode ser novo guru econômico de Campos

Marina Silva irá aproximar, nesta quinta, o presidenciável Eduardo Campos dos empresários que apoiaram a Rede Sustentabilidade, como os donos da Natura e do Itaú; o grande astro do encontro, no entanto, será o economista André Lara Resende, que foi um dos formuladores do Plano Real e vem construindo um discurso econômico de oposição ao modelo que ele enxerga na era Lula e Dilma; Lara Resende condena a política de estímulos do BNDES, o excesso de gastos de custeio com a máquina pública e até mesmo o consumismo desenfreado, focado apenas no bem-estar material; lá atrás, ele fez a cabeça de Marina; agora, é a vez de Eduardo

Marina Silva irá aproximar, nesta quinta, o presidenciável Eduardo Campos dos empresários que apoiaram a Rede Sustentabilidade, como os donos da Natura e do Itaú; o grande astro do encontro, no entanto, será o economista André Lara Resende, que foi um dos formuladores do Plano Real e vem construindo um discurso econômico de oposição ao modelo que ele enxerga na era Lula e Dilma; Lara Resende condena a política de estímulos do BNDES, o excesso de gastos de custeio com a máquina pública e até mesmo o consumismo desenfreado, focado apenas no bem-estar material; lá atrás, ele fez a cabeça de Marina; agora, é a vez de Eduardo
Marina Silva irá aproximar, nesta quinta, o presidenciável Eduardo Campos dos empresários que apoiaram a Rede Sustentabilidade, como os donos da Natura e do Itaú; o grande astro do encontro, no entanto, será o economista André Lara Resende, que foi um dos formuladores do Plano Real e vem construindo um discurso econômico de oposição ao modelo que ele enxerga na era Lula e Dilma; Lara Resende condena a política de estímulos do BNDES, o excesso de gastos de custeio com a máquina pública e até mesmo o consumismo desenfreado, focado apenas no bem-estar material; lá atrás, ele fez a cabeça de Marina; agora, é a vez de Eduardo (Foto: Leonardo Attuch)


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247 - Tido como um dos economistas mais brilhantes de sua geração, André Lara Resende, filho do escritor Otto Lara Resende, está de volta. Nesta quinta, numa roda de empresários em São Paulo com a presença de Marina Silva e Eduardo Campos, além de apoiadores da Rede Sustentabilidade, como Guilherme Leal, da Natura, e Neca Setubal, do Itaú, ele será apresentado ao presidente do PSB. A intenção é transformá-lo numa espécie de referência econômica – ou, por que não dizer, guru – do programa presidencial do PSB.

Lara Resende sempre trafegou com desenvoltura entre o mundo acadêmico e político. Em meados de 1992, quando o então presidente Fernando Collor se via ameaçado pelo impeachment, que aconteceu em setembro daquele ano, Lara Resende lhe procurou e ofereceu a ele uma proposta de dolarização da economia, semelhante ao Plano Cavallo, da Argentina. Dois anos depois, em 1994, com Fernando Henrique no Ministério da Fazenda, Lara Resende viu a oportunidade de implantar o plano Larida – que misturava seu nome com o de Persio Arida e deu origem à URV e ao Plano Real.

Fora do governo, foi sócio de Luiz Carlos Mendonça de Barros, no Banco Matrix, que lucrou com a valorização do real, mas dizia não ter informação privilegiada – e sim "formação privilegiada". Depois, quando Mendonção foi ministro das Comunicações, Lara Resende presidiu o BNDES, mas ambos caíram no escândalo dos grampos do banco oficial, em 1998.

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O economista fez fortuna e passou a administrar recursos seus e de terceiros – inclusive da bilionária Athina Onassis, casada com o brasileiro Doda Miranda, e que, como ele, também tem paixão por cavalos. 

Realizado economicamente, Lara Resende vinha se mantendo distante da vida pública até se aproximar, no ano passado, de Marina Silva, a quem começou a aconselhar no início do processo de formação da Rede Sustentabilidade. Como o projeto não vingou, Marina, que se encantou por suas ideias, quer agora aproximá-lo de Campos.

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Um esboço dessa nova agenda econômica foi revelado em junho deste ano, quando Lara Resende publicou o ensaio "O mal-estar contemporâneo", no jornal Valor Econômico. Ali estão as principais ideias que serão apresentadas nesta quinta ao presidenciável do PSB. Eis alguns trechos:

Sobre a incapacidade do Estado brasileiro

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Apesar de extrair da sociedade mais de um terço da renda nacional, o Estado perdeu a capacidade de realizar seu projeto. Não o consegue entregar porque, apesar de arrecadar 36% da renda nacional, investe menos de 7% do que arrecada, ou seja, menos de 3% da renda nacional. Para onde vão os outros 93% dos quase 40% da renda que extrai da sociedade? Parte, para a rede de proteção e assistência social, que se expandiu muito além do mercado de trabalho organizado, mas, sobretudo, para sua própria operação. O Estado brasileiro tornou-se um sorvedouro de recursos, cujo principal objetivo é financiar a si mesmo. Os sinais dessa situação estão tão evidentes, que não é preciso conhecer e analisar os números. O Executivo, com 39 ministérios ausentes e inoperantes; o Legislativo, do qual só se tem más notícias e frustrações; o Judiciário pomposo e exasperadoramente lento.

Crítica ao desenvolvimentismo

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O Estado foi também incapaz de perceber que seu projeto não corresponde mais ao que deseja a sociedade. O modelo desenvolvimentista do século passado tinha dois pilares. Primeiro, a convicção de que a industrialização era o único caminho para escapar do subdesenvolvimento. Países de economia primário-exportadora nunca poderiam almejar alcançar o estágio de desenvolvimento das economias industrializadas. Segundo, a convicção de que o capitalismo moderno exige a intervenção do Estado em três dimensões: para estabilizar as crises cíclicas das economias de mercado; para prover uma rede de proteção social; e, no caso dos países subdesenvolvidos, para liderar o processo de industrialização acelerada. As duas primeiras dimensões da ação do Estado são parte do consenso formado depois da crise dos anos 1930. A terceira decorre do sucesso do planejamento central soviético em transformar uma economia agrária, semifeudal, numa potência industrial em poucas décadas. A proteção tarifária do mercado interno, com o objetivo de proteger a indústria nascente e promover a substituição de importações, completava o cardápio com um toque de nacionalismo.

Crítica ao modelo do PT

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Nos dois primeiros anos do governo Lula, a política econômica foi essencialmente pautada pela necessidade de acalmar os mercados financeiros, sempre conservadores, assustados com a perspectiva de uma virada radical à esquerda. A partir daí, o PT passou a pôr em prática o seu projeto. Um projeto muito diferente do que defendia enquanto oposição. O projeto do PT no governo, frustrando as expectativas dos que esperavam mudanças, muito mais do que o aparente continuísmo dos primeiros anos do governo Lula, revelou-se flagrantemente retrógrado. É essencialmente a volta do nacional-desenvolvimentismo, inspirado no período em este que foi mais bem-sucedido: durante regime militar. A crise internacional de 2008 serviu para que o governo abandonasse o temor de desagradar aos mercados financeiros e, sob pretexto de fazer política macroeconômica anticíclica, promovesse definitivamente a volta do nacional-desenvolvimentismo estatal.

Crítica ao "loteamento do Estado"

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O PT acrescentou dois elementos novos em relação ao projeto nacional-desenvolvimentista do regime militar: a ampliação da rede de proteção social, com o Bolsa Família, e o loteamento do Estado. A ampliação da rede de proteção social se justifica, tanto como uma inciativa capaz de romper o impasse da pobreza absoluta, em que, apesar dos avanços da economia, grande parte da população brasileira se via aprisionada, quanto como forma de manter um mínimo de coerência com seu discurso histórico. Já a lógica por trás do loteamento do Estado é puramente pragmática. Ao contrário do regime militar, que não precisava de alianças difusas, o PT utilizou o loteamento do Estado, em todas suas instâncias, como moeda de troca para compor uma ampla base de sustentação. Sem nenhum pudor ideológico, juntou o sindicalismo de suas raízes com o fisiologismo do que já foi chamado de Centrão, atualmente representado principalmente pelo PMDB, no qual se encontra toda sorte de homens públicos, que, independentemente de suas origens, perderam suas convicções ao longo da estrada e hoje são essencialmente cínicos.

Crítica aos "campeões nacionais" do BNDES

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Há ainda um terceiro elemento do projeto de poder do PT. Trata-se da eleição de uma parte do empresariado como aliada estratégica. Tais aliados têm acesso privilegiado ao crédito favorecido dos bancos públicos e, sobretudo, à boa vontade do governo, para crescerem, absorverem empresas em dificuldades, consolidarem suas posições oligopolísticas no mercado interno e se aventurarem internacionalmente como "campeões nacionais".

A combinação de um projeto anacrônico com o loteamento do Estado entre o sindicalismo e o fisiologismo político, ao contrário do pretendido, levou à sobrevalorização cambial e à desindustrialização. Só foi possível sustentar um crescimento econômico medíocre enquanto durou a alta dos preços dos produtos primários, puxados pela demanda da China. A ineficiência do Estado nas suas funções básicas - segurança, infraestrutura, saúde e educação - agravou-se significativamente. Ineficiência realçada pela redução da pobreza absoluta na população, que aumentou a demanda por serviços de qualidade.

Exaustão do modelo consumista

No mundo todo, a população parece já ter intuído a exaustão do modelo consumista do século XX, mas ainda não encontrou nas esferas da política tradicional a capacidade de participar da formulação das alternativas. Apegada a fórmulas feitas, a política continua pautada pelos temas e objetivos de um mundo que não corresponde mais à realidade de hoje. As grandes propostas totalizantes já não fazem sentido. O nacionalismo, a obsessão com o crescimento material, a ênfase no consumo supérfluo, os grandes embates ideológicos, temas que dominaram a política nos últimos dois séculos, perderam importância. Hoje, o que importa são questões concretas, relativas ao cotidiano, questões de eficiência administrativa para garantir a qualidade de vida.

É significativo que os protestos no Brasil tenham começado com a reivindicação do passe livre nos transportes públicos urbanos. A questão da mobilidade nas grandes metrópoles é paradigmática da exaustão do modelo produtivista-consumista. A indústria automobilística foi o pilar da industrialização desenvolvimentista e o automóvel o símbolo supremo da aspiração consumista. O inferno do trânsito nas grandes cidades, que se agrava quanto mais bem-sucedido é o projeto desenvolvimentista, é a expressão máxima da completa inviabilidade de prosseguir sem uma revisão profunda de objetivos. Ao que parece, a sociedade intuiu a falência do projeto do século passado antes que o Estado e aqueles que deveriam representá-la - governo e oposição, Executivo, Legislativo e imprensa - tenham se dado conta de que hoje trabalham com objetivos anacrônicos. 

A insatisfação difusa dos protestos pode vir a ser catalizadora de uma mudança profunda de rumo, que abra o caminho para um novo desenvolvimento, não mais baseado exclusivamente no crescimento do consumo material, mas na qualidade de vida. Para isso, é preciso que surjam lideranças capazes de exprimir, formular e executar o novo desenvolvimento.

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