A sobrevivência do cordel cantado e encantado

Inicialmente era a fala que assegurava a transmissão de ideias, leis e costumes através das gerações; em seguida, com a invenção da escrita, esta tarefa coube às “tábuas de barro”, aos papiros e finalmente ao papel; neste último caso, uma das primeiras formas de levar o conhecimento à grande massa foram os folhetos, os famosos “livros de cordel”; apesar de hoje, nos tempos da internet e da informação instantânea, ser visto como algo distante, o cordel tem se reinventado a despeito da falta de apoio e de buscar novos leitores para sobreviver em um mundo onde a tecnologia tenta engolir, diariamente, a tradição dos versos cantados, suas rimas e sua métrica

Inicialmente era a fala que assegurava a transmissão de ideias, leis e costumes através das gerações; em seguida, com a invenção da escrita, esta tarefa coube às “tábuas de barro”, aos papiros e finalmente ao papel; neste último caso, uma das primeiras formas de levar o conhecimento à grande massa foram os folhetos, os famosos “livros de cordel”; apesar de hoje, nos tempos da internet e da informação instantânea, ser visto como algo distante, o cordel tem se reinventado a despeito da falta de apoio e de buscar novos leitores para sobreviver em um mundo onde a tecnologia tenta engolir, diariamente, a tradição dos versos cantados, suas rimas e sua métrica
Inicialmente era a fala que assegurava a transmissão de ideias, leis e costumes através das gerações; em seguida, com a invenção da escrita, esta tarefa coube às “tábuas de barro”, aos papiros e finalmente ao papel; neste último caso, uma das primeiras formas de levar o conhecimento à grande massa foram os folhetos, os famosos “livros de cordel”; apesar de hoje, nos tempos da internet e da informação instantânea, ser visto como algo distante, o cordel tem se reinventado a despeito da falta de apoio e de buscar novos leitores para sobreviver em um mundo onde a tecnologia tenta engolir, diariamente, a tradição dos versos cantados, suas rimas e sua métrica (Foto: Paulo Emílio)


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Paulo Emílio, Pernambuco 247 - Inicialmente era a fala que assegurava a transmissão de ideias, leis e costumes através das gerações. Em seguida, com a invenção da escrita, esta tarefa coube às “tábuas de barro”, aos papiros e finalmente ao papel. Neste último caso, uma das primeiras formas de levar o conhecimento à grande massa foram os folhetos, os famosos “livros de cordel”. Apesar de hoje, nos tempos da internet e da informação instantânea, ser visto como algo distante, o cordel tem se reinventado para encontrar fôlego novo e se manter vivo com seus versos e as xilogravuras que enfeitam suas capas e páginas.

“De primeiro o cordel levava o romance e a aventura para o povo. Depois passou a transmitir informação. Hoje em dia, o povo compra e lê pouco cordel, prefere consumir informação via internet e televisão. O cordel ganhou espaço junto aos estudantes, crianças, adolescentes, pesquisadores e estudiosos. É neste nicho que o cordel sobrevive e tem ganhado força ultimamente”, diz o cordelista Abraão Batista, com mais de 50 dos seus 79 anos dedicados ao gênero. A sobrevivência do cordel (en) cantado foi um dos pontos de discussão do 2º Congresso Internacional do Livro e Literatura do Sertão (Clisertão), realizado esta semana, em Petrolina, no Sertão de Pernambuco.

Com 308 cordéis feitos, editados e publicados – sem contar as milhares de xilogravuras que ilustram não apenas as capas e páginas dos folhetos, mas também as salas de pessoas como Ariano Suassuna e livros como as Palavras Andantes, do escritor uruguaio Eduardo Galeano e que comemora 20 anos desde a publicação da sua primeira edição. Só neste livro, as 125 xilogravuras que ilustram as suas páginas levaram três anos para ficarem prontas – o pernambucano J. Borges vai mais além. “Dos mais de 300 títulos de minha autoria, 50% são histórias do povo e para o povo. O restante são homenagens a personalidades, encomendas de políticos e, acredite, agora virou moda fazer convite de casamento e formatura no formato de cordel”, afirma o poeta popular.

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Apesar do novo público e da mudança – o que inclui o gênero satírico com poemas falando sobre o peido e coisas assemelhadas -, clássicos como O Cachorro dos Mortos, O Soldado Jogador, Aventuras de Coco Verde e Melancia, continuam a serem editados. “Os grandes clássicos continuam aí, encontrando um novo público. A dificuldade está em mostrar que existem novos autores”, diz Abrãao Batista. Seu filho, Hamurábi Batista, é um dos que tentam se firmar em meio a esta nova realidade dos folhetos populares.

Segundo ele, as maiores dificuldades não estão nem tanto no fazer cordel - a despeito de sua métrica e rima – mas no fato da falta de apoio em torno da publicação e distribuição do folheto. “Hoje vende-se folhetos principalmente em festas e bienais. Mas o custo é alto. O apoio ao cordel ainda é pouco”, afirma Hamurábi. Segundo ele, mais do que incentivar a leitura do cordel nas instituições de ensino é necessário promover a edição e a circulação. “As gráficas oficiais, que fazem o Diário Oficial, poderiam ser empregadas para publicar os folhetos. Nas feiras e bienais, o cordelista poderia ter uma espécie de desconto sobre o valor do estande. Da maneira atual é muito difícil para o autor viver da sua arte”, relata.

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De acordo com ele, as gráficas cobram, em média, R$ 150,00 para imprimir um volume mínimo de mil exemplares. Os estandes nas feiras e bienais possuem custos superiores a R$ 2 mil. “Cada cordel é vendido por cerca de R$ 2,00. Daí é só imaginar o quanto é difícil viver única e exclusivamente do cordel”, desabafa. A renda média mensal obtida por Hamurábi é de 1,5 salário mínimo. 

Uma das formas encontradas por ele para reduzir o custo, foi aproximar-se da tecnologia. Hamurábi comprou uma impressora a laser e com os R$ 150,00 reais para imprimir um único folheto por meio de uma gráfica tradicional, ele consegue imprimir 30 de cada um dos 65 títulos de sua autoria. “Faço uma espécie de cordel expresso, artesanal mas impresso a laser. Com a arte da capa, a xilogravura, faço o mesmo processo. Faço a gravura do modo tradicional, na madeira, depois passo para o papel. Escaneio a figura e então imprimo junto com o cordel”, relata.

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“Antigamente o cordel era cantado nas feiras. Hoje em dia esta tradição acabou. O leitor migrou para outras leituras. Hoje o cordel virou algo chique, muito embora tenha perdido o seu leitor original. Hoje o cordel virou uma espécie de arte erudita. É uma transformação, uma mudança, uma forma que o folheto encontrou para sobreviver”, observa J. Borges.

E em meio as transformações alguns mitos também são desfeitos. “Se engana quem pensa que o cordel tem este nome porque era vendido pendurado em cordões. Quem vende cordel sabe que é impossível pendurar os folhetos em cordões devido ao vento. Isso foi criado por intelectuais lá pelos anos de 1960 e 1970. Cordel sempre foi vendido em barracas, expostos no chão ou em malas abertas nas feiras”, explica o cordelista Abraão Batista. O mito é mais um a ser desmistificado, como aquele que a literatura de cordel é algo típico do Nordeste, não existindo nas demais regiões do país. "O cordel é o povo. E assim como o povo está em todo o Brasil", observa o poeta. 

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