Armando Monteiro encara o maior desafio de 2014

O senador Armando Monteiro Neto (PTB/PE) tem uma missão que parece quase impossível: derrotar o candidato de Eduardo Campos, em Pernambuco; até recentemente, ele seria eleito governador em primeiro turno; pesquisas recentes, no entanto, apontam o rápido crescimento do socialista Paulo Câmara, que tem feito uma campanha emotiva, em cima da imagem do ex-governador, que faleceu de forma trágica no último dia 13; "a morte de Eduardo Campos criou uma grande comoção no estado e o apoio ao Paulo Camara, hoje, é uma homenagem a ele", disse Monteiro Neto ao 247; "É natural, assim, que ele tenha crescido, mas isso vai decantar"

O senador Armando Monteiro Neto (PTB/PE) tem uma missão que parece quase impossível: derrotar o candidato de Eduardo Campos, em Pernambuco; até recentemente, ele seria eleito governador em primeiro turno; pesquisas recentes, no entanto, apontam o rápido crescimento do socialista Paulo Câmara, que tem feito uma campanha emotiva, em cima da imagem do ex-governador, que faleceu de forma trágica no último dia 13; "a morte de Eduardo Campos criou uma grande comoção no estado e o apoio ao Paulo Camara, hoje, é uma homenagem a ele", disse Monteiro Neto ao 247; "É natural, assim, que ele tenha crescido, mas isso vai decantar"
O senador Armando Monteiro Neto (PTB/PE) tem uma missão que parece quase impossível: derrotar o candidato de Eduardo Campos, em Pernambuco; até recentemente, ele seria eleito governador em primeiro turno; pesquisas recentes, no entanto, apontam o rápido crescimento do socialista Paulo Câmara, que tem feito uma campanha emotiva, em cima da imagem do ex-governador, que faleceu de forma trágica no último dia 13; "a morte de Eduardo Campos criou uma grande comoção no estado e o apoio ao Paulo Camara, hoje, é uma homenagem a ele", disse Monteiro Neto ao 247; "É natural, assim, que ele tenha crescido, mas isso vai decantar" (Foto: Ana Pupulin)


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Paulo Moreira Leite e Paulo Emílio, do Recife

       Por razões mais do que compreensíveis, a campanha para o governo de Pernambuco tornou-se o principal laboratório estadual para se avaliar o impacto da morte de Eduardo Campos nas eleições de 2014. Berço político do candidato do PSB morto na tragédia do Cessna, no início do ano Eduardo Campos lançou um ilustre desconhecido, Paulo Câmara, para disputar o governo do Estado – e agora aliados e adversários se perguntam o que irá acontecer até 5 de outubro, quando se abrem as urnas para o primeiro turno.

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      Na penúltima pesquisa, realizada antes da morte do candidato, Câmara estava com 11% das intenções de voto, contra 40% para o senador Armando Monteiro Neto, do PTB. Na semana passada, o Ibope mostrou uma ascensão do candidato de Eduardo para 29% das intenções de voto, enquanto Armando Monteiro permanecia na mesma faixa, com 38%. 

       Para quem estuda a política pernambucana, o que se assiste, agora, é um processo previsível de ajuste entre a preferência dos eleitores e o prestígio de cada candidato. Numa entrevista ao Brasl 247 realizada antes da última pesquisa, o professor Michel Zaidan, da Universidade Federal de Pernambuco, antecipou o crescimento de Paulo Câmara, argumentando que era muito natural "esperar uma mudança nas pesquisas”. “Tanto o Paulo estava pequeno demais, em função do desconhecimento, como Armando Monteiro estava grande demais, porque é um empresário e senador bastante conhecido no Estado. A eleição não vai ser assim." Para Zaidan, Eduardo Campos era um mito político em construção. Mesmo tendo sido reeleito, em 2010, com 82% dos votos, ainda não conquistara a autoridade única de seu avô, Miguel Arraes. Além disso, sua força política foi construída em companhia do também pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva, que assegurou um tratamento preferencial a seu estado natal – e que, ao lado de Dilma Rousseff, estará em campanha por Armando Monteiro.

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    Para Elly Ferreira, do Núcleo de Estudos Eleitorais da UFPE, o crescimento de Paulo Câmara se apoia  num conjunto de fatores que se somaram. "Em pouco tempo, tivemos a comoção pela morte de Eduardo Campos, e a candidatura de Marina, que sempre teve intenções de voto mais altas. São dois eventos muito fortes," diz Ferreira. Lembrando o início do horário político, Ferreira lembra que ele sempre "beneficia mais um candidato desconhecido." Para o professor, a dúvida é saber se Paulo Câmara será capaz de transformar a comoção, puramente emocional, em votos. "Ele terá de mostrar que tem conteúdo e apresentar propostas. Caso contrário, pode até cair no descrédito." Lembrando os protestos de junho de 2013, que deixaram como saldo o questionamento da classe política, Elly Ferreira observa que o candidato Armando Monteiro Neto, do PTB, tem demonstrado uma impressionante capacidade de resistência. "Embora tenha acumulado dois mandatos como deputado, e seja senador, ele está com boa pontuação das pesquisas. Não parece ter sido atingido pelos protestos."

      Aos 62 anos, herdeiro de uma das grandes fortunas do Estado, Armando Monteiro conversou com Brasil 247 na semana passada, para uma entrevista em duas partes – antes e depois dos novos números. Filho de um empresário que soube combinar os negócios e a atividade política, chegando a ser ministro da Agricultura no governo parlamentarista de João Goulart, o senador-empresário tem uma carreira múltipla. Foi presidente da Confederação Nacional da Industria entre 2002 e 2010. Em 2013 foi escolhido o melhor integrante do Senado Federal numa pesquisa do Iesp-RJ e já foi apontado entre as 100 melhores Cabeças do Congresso pelo DIAP, Departamento Intersindical de Asssessoria Parlamentar.  Em campanha pela reeleição de Dilma Rousseff, diz que o governo "não foi uma Brastemp para o saldo geral é bom." Entrando no debate da campanha presidencial, ele rejeita a proposta de Marina Silva, que lançou a ideia de se definir a independência do Banco Central em lei. "Na experiência brasileira eu me sinto mais confortável com autonomia operacional”, diz. "O  Brasil precisa construir um ambiente institucional mais sofisticado para chegar a esta questão. Mas ainda não há isso em um horizonte mais curto." A seguir, a  entrevista de Armando Monteiro Neto: 

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247 - Na última pesquisa do Ibope, o seu adversário Paulo Câmara, do PSB, subiu de 11% para 29% das intenções de voto, enquanto o senhor permaneceu próximo dos 40%. A pesquisa mudou alguma coisa?

Armando Monteiro – Era impossível, em qualquer cenário, que um  candidato apoiado pelo Eduardo Campos e por um conjunto de 21 partidos, com o governo do Estado e a prefeitura, não fosse crescer depois do início da propaganda da televisão. O Paulo Câmara não podia ficar com 11% dos votos. Além disso, a morte de Eduardo Campos criou uma grande comoção no Estado. Ele foi um bom governador. Este apoio ao Paulo Camara, hoje, é uma homenagem ao Eduardo. É natural, assim, que ele tenha crescido. Mas isso vai decantar.

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247 - Como assim?

A pesquisa foi feita num momento em que a comoção está no apogeu, logo após a tragédia. No dia da eleição ninguém estará pensando em  prestar uma homenagem. As pessoas votam pensando em seus problemas. Eu considero que nossa situação está consolidada, em torno de 40% dos intenções de voto. Estamos recebendo apoio de lideranças históricas ligadas a Miguel Arraes, como José Agailson, do PSB, ex-prefeito de Vitória do Santo Antão, terceiro colégio eleitoral do interior do Estado. As próximas semanas vão mostrar, também, que a candidatura do Paulo tinha algumas dificuldades sérias.

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247 - Quais?

Primeiro, um  defeito de origem, de fabricação, se pudermos chamar assim. O processo de escolha foi fechado, unipessoal. Não resultou de nenhum tipo de discussão de critérios políticos, nem dentro da aliança que política que apoiava Eduardo. O segundo, e eu não quero fazer nenhum juízo de depreciativo, é que a escolha caiu sobre um nome que não tem nenhum lastro político, nem formação política. Sei que, às vezes, você pode escolher uma canditatura de quem nunca esteve no palanque mas sempre atuou nos bastidores e se afirma dessa maneira, tornando-se conhecida por isso. Foi o que aconteceu com a Dilma em 2010. Mas não é o caso. Hoje, é natural e justo que se celebre o Eduardo, seu perfil, suas realizações. Mas quanto mais se magnifica o Eduardo, tanto menor fica o Paulo. Depois de reconhecer as qualidades e atributos que Eduardo indiscutivelmente possuía, você diz que o líder agora é fulano e a pessoa, sem querer depreciar ninguém,  tem perfil baixo do ponto de vista.

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247 - Por que as características pessoais dos candidatos são tão importantes?

O que houve de bom em Pernambuco nos últimos anos não foi fruto do Eduardo ter sabido utilizar algumas ferramentas trazidas do setor privado e que eu até ajudei a conhecer, quando o apresentei ao MBC (Movimento Brasil Competitivo), ao (consultor), Vicente Falconi, ao (Jorge) Gerdau. O que aconteceu de bom em Pernambuco foi fruto da estatura política de Eduardo, da capacidade de articulação para fora, da capacidade de fazer uma boa parceria com Lula (ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)), valorizar esta parceria, a capacidade de mobilizar a sociedade, de falar para ele, de mobilizá-la.

247 - Qual o efeito de Marina em Pernambuco?

Marina tem um potencial eleitoral grande porque  dialoga com setores da sociedade que não se sentiam representadas no “cardápio” anterior, porque, em última instância, são pessoas que querem expressar até um voto diferente, um voto contra o sistema convencional, contra os políticos convencionais. Neste sentido ela tem um apelo imenso. E um apelo diferenciado dos outros candidatos.  A questão em Pernambuco será conferir uma situação. Embora ela possa ter apelo para setores específicos, urbanos, o voto jovem, ela não é uma candidatura identificada com o Nordeste, com Pernambuco. Nunca teve um discurso para o Nordeste, não tem identificação com a problemática do Nordeste. Com a candidatura do Eduardo, o pernambucano confiava que aquilo poderia se traduzir numa perspectiva de poder para Pernambuco. Marina já nasce com uma posição nas pesquisas, mas o pernambucano se pergunta se oferece garantias de que ela vai um olhar tão atencioso como Lula e Dilma tiveram. Reconheço que Dilma tem dificuldades e o governo não é uma “Brastemp”, mas ela tem um olhar e ela já conhece projetos de demandas de Pernambuco. Ela já está associada a elas. Não é uma questão de imaginar que esta opção preencha plenamente as suas aspirações, mas é o voto com a cabeça do cidadão. A Dilma já tem compromissos aqui, já tem projetos que ela ficou devendo, que ela conhece, que ela já assumiu publicamente. Tenho convicção que a Dilma se elege e vamos fazer uma parceria muito forte. Paulo e Dilma você pode imaginar. Mas, mesmo Paulo e Marina, qual é este peso, esta coisa, esse peso que Paulo poderia ter neste processo Quando até hoje se discute se o PSB poderá perder influência, quando ao final este poderá ser um governo da Rede Sustentabilidade e não do PSB.

247 - Os números indicam que o Aécio se encontra em posição de esvaziamento.  Muitas críticas a Marina, hoje, partem de setores que querem negociar apoio a ela. A Marina já está sendo chamada para sentar na mesa. Como o senhor explica esta questão?

Acho que tem uma parte do Brasil que não fala para o Aécio. Tem esta coisa dos programas sociais, toda esta coisa que ficou muito vinculada ao patrimônio eleitoral do PT. Mas alguns  setores urbanos estão descontentes com o PT, descontentes com a Dilma, irritados até, que poderão ir pra Marina.

247 - O senhor é empresário e foi presidente da CNI por oito anos. Como comparar Aécio e Marina do ponto de vista deles?

Qual a vantagem que o Aécio oferecia para alguns setores? O Aécio tinha um time, um time de economistas, economistas pró-mercado nitidamente, e gente com experiência na operação. Este era um diferencial que o Aécio tinha em relação a Eduardo, inclusive. Eduardo a gente olhava e dizia: Qual é o time de Eduardo? Ninguém via o time. Mas se a Marina tiver a capacidade de fazer uma espécie de “Carta aos Brasileiros II”, assumindo ou explicitando algum tipo de compromisso, e por outro lado ela tiver um time que ofereça a setores do mercado um maior grau de confiança, que ela vai governar com um time... sei lá... de repente ela pode capturar um segmento que estava tendente ao Aécio. Pode, não estou dizendo que vá acontecer, e na medida em que ela ajuste o discurso... Estou dizendo que pode. O Aécio hoje, em princípio, é quem mais pode perder e as pesquisas parece que já estão indicando isso.

247 - Como interpretar a presença de Maria Alice Setubal, uma das herdeiras do Banco Itaú, na coordenação geral da campanha de Marina Silva. Isso pode trazer privilégios para os bancos e ao setor financeiro num eventual governo?

Não vou imaginar que a Marina esteja presa a estes interesses pelo fato de ter em sua coordenação alguém que é acionista de um banco por conta da família. Não chegaria a tanto. A Marina tem posições e convicções. Também não acho que a presença de uma acionista na coordenação da campanha possa se traduzir na captura da Marina pelos interesses do sistema financeiro. Não vejo assim. Mas acho isso traduz a noção de que ela precisa mostrar ao mercado que tem condições de fazer um time. Eu, por exemplo, não tenho nenhum preconceito contra os chamados economistas operadores do mercado. Pelo contrário, às vezes temo alguns economistas que não são operadores, porque defendem teses que precisam ser testadas na prática. Tem gente que defende teses muito delirantes que a realidade não sanciona. Tenho seríssimas dúvidas mesmo que ela venha a acolher economistas ou um time pró-mercado. Acho que ela, por outro lado, tem convicções muito arraigadas e fundamentalistas, dogmáticas se você preferir. Até que ponto ela será permeável ou mais permeável a essas influências no governo? Porque uma coisa é ser permeável na campanha e outra coisa é no governo.

247 - A Marina tem dito que apoia a independência do Banco Central. E o senhor?

O Eduardo falou muito sobre isso e ela disse que tinha discordância desta tese e agora está falando, está defendendo esta posição. É uma tentativa de dizer o seguinte: a gestão da política monetária vai ser feita com um mandato que o presidente e a diretoria do Banco Central terão de forma autônoma. Na experiência brasileira eu me sinto mais confortável com autonomia operacional Dependendo do perfil do presidente do Banco Central você pode ter um confronto entre o presidente da República e uma autoridade  monetária com um mandato fixo...

247 - Em 2009, o Banco Central não queria baixar os juros e o Lula, ele com certeza pôs as cartas na mesa para o Henrique Meirelles, que era o presidente do BC, ajudando a derrubar os juros...

Acho que o Brasil precisa construir um ambiente institucional mais sofisticado para chegar a esta questão. Mas ainda não há isso em um horizonte mais curto.

247 - O Eduardo foi reeleito em 20010 com mais de 80% dos votos. Qual herança ele deixa para Pernambuco?

Acho que o Eduardo sob qualquer avaliação fez um bom governo. Mas se é verdade que Pernambuco cresceu mais, e é verdade, que promoveu avanços em algumas áreas,  é verdade também que algumas fragilidades estruturais ficaram muito evidentes. A ausência de alguns projetos na áreas de infraestrutura podem comprometer o ritmo de crescimento do Estado. Estou falando de obras vitais, que vão do Arco Metropolitano (uma forma de anel rodoviário em torno da capital). da  necessidade de requalificação da malha viária, a questão da mobilidade urbana. Conservamos também indicadores sociais e econômicos que ainda persistem e que são deprimentes. Por exemplo, o Estado tem ainda tem 27% da população na linha de miséria, com renda domiciliar de até R$ 140,00. O Estado tem o dobro da taxa de analfabetismo do País na população superior a 15 anos. Temos quase 18% de analfabetos acima de 15 anos. Temos no Ideb uma avaliação que coloca Pernambuco em uma posição desconfortável. Nos anos iniciais do ensino fundamental somos o 18º no ranking. Nos anos finais somos o 22º no ranking e no ensino médio somos o 16º. O Ceará está muito melhor situado.

247 - Muitos analistas dizem em 2015 o Estado será obrigado a trazer o crescimento. O senhor concorda?

O crescimento estadual não fica totalmente desconectado da situação da economia nacional. É uma espécie de correia de transmissão. Mas Pernambuco tem uma taxa de crescimento já contratada, já garantida, porque tem projetos importantes que vão maturar, que estão aí e que vão entrar em operação. Por exemplo: a refinaria. Ela ainda não está no PIB. Ela entra no PIB de forma muito discreta. Tem a ideia da obra em construção. Aí afeta a construção, afeta o serviço. A obra vai  estar no PIB quando se tornar operacional e o impacto dela é relevante. Dela, das três plantas petroquímicas. Não é o faturamento dela, mas o valor adicionado na cadeia. Como também a Fiat não está no PIB do Estado. Já temos um crescimento contratado, queiramos ou não, já temos um crescimento contratado. 

247 - Fala-se no nível de endividamento do Estado como uma herança maldita...

Herança maldita não. O Estado tem hoje um endividamento que cresceu, mas tinha uma margem grande para se endividar. Nos últimos anos, o Eduardo preencheu um pouco este espaço porque o ritmo de investimento foi forte. Ma há um fato. Você não pode mais, nos próximos quatro ou cinco anos, se endividar com a mesma intensidade dos últimos três anos. Algo que seria razoável seria ter um endividamento equivalente a receita corrente líquida anual. Estamos com 55%, mais ou menos. Tem espaço, mas não é algo que dê para fazer com a intensidade dos últimos anos. O Eduardo foi favorecido com alguns programas que o Governo Federal avalizou e fez com os estados em geral, junto a instituições multilaterais, junto ao próprio BNDES. Esta margem eu não sei se teremos à frente.

247 - Por que o senhor falou lá atrás que o Governo não está assim “uma Brastemp”.  Por quê?

Para mim é um governo aprovado do ponto de vista do saldo. Dilma não pôde navegar em um ambiente externo favorável e recebe cobranças indevidas. Cobram da presidente uma  maior taxa de crescimento quando o mundo inteiro cresceu menos. O comércio internacional desacelerou, ao contrário do que aconteceu no governo Lula. Isso não é culpa da Dilma. Agora pode-se dizer que algumas escolhas no ambiente do gerenciamento da política econômica foram as melhores ou poderiam ter sido melhores? Poderiam.

247 - Por exemplo...

Eu brinco dizendo que quem acha que deve culpar a presidente por aquilo que deu errado poderia aplaudir aquilo que deu certo. Poderia dar credito a ela, por exemplo, em relação às supersafras que ocorreram, ao desempenho recorde do setor agrícola. No fundo, acreditamos numa suposição ingênua, de que os governos produzem o crescimento de forma “causal”. Se você pode achar que é uma relação tão causal, tão próxima, então credite a ela merece pelo menos as supersafras. E não seria justo. Não seria porque é um acumulo de produto, de tecnologia que foi incorporada, e o mérito é dos empresários. Dilma atuou muito corretamente sobre o financiamento, Mas então também não é justo cobrar da Dilma a taxa de crescimento, de investimentos. Por que? Porque a carga tributária não foi ela quem montou. Há uma relação direta entre o tamanho da carta e a capacidade de poupar e investir. E a presidente fez o possível e um pouco mais. Eu sei a tentativa que fizemos para fazer a reforma no ICMS, que seria o início de uma reforma tributária e a resistência que se viu no Congresso. Não houve jeito. Porque os governadores não querem, tem que ter uma coisa para a Zona Franca e outra coisa para outra. Nosso sistema tributário possui armadilhas e  constrangimentos que afetariam o país de qualquer jeito. Qualquer que fosse o piloto. e quaisquer que fossem os pilotos, o Brasil estaria condenado a crescer muito menos.

247 - O que se fez de errado?

Alguns estímulos que foram dados a apenas alguns setores teriam sido mais efetivos se tivessem um caráter transversal. Quando ela desonerou a folha, isso foi muito bom. Mas não sei se medidas pontuais de desoneração foram o melhor recurso. Em algumas intervenções, feitas com o melhor propósito, inclusive de reduzir custos sistêmicos, como o da energia, ela tinha a intenção absolutamente certa. Mas como foi uma intervenção de certo modo brusca, isso afetou o investimento no setor, isso gerou expectativas não tão positivas. A conclusão é o Brasil só vai poder crescer mais de duas formas. Ou como fruto de reformas que precisam ser feitas agora e, portanto, a gente vai colher frutos daqui a alguns anos, já que não vão gerar crescimento imediato, ou sofrer o bafejo de uma nova conjuntura externa tão extraordinariamente benigna que aumente preço de minério, aumente preço de commodoties todas, que amente a receita cambial.

247 - O senhor é o único candidato do PTB a um governo estadual. Vale ressaltar que a direção nacional está marchando no palanque do Aécio Neves (PSDB), enquanto o senhor está com a Dilma. É  uma situação delicada?

Muito. E meu desconforto é maior ainda. Porque eu participei de um encontro onde a presidente Dilma foi chamada à direção do partido, em maio, recebendo o apoio irrestrito da direção, da Executiva Nacional. Todos os integrantes da Executiva estiveram presentes. Os discursos foram muito emocionados, na sede do partido, e de repente o partido mudou de posição e até hoje não explicou o porquê. A decisão foi tomada à revelia das bancadas, dos diretórios estaduais. Foi uma decisão que surpreendeu a todo mundo. Que que eu fiz diante disso. Fui a única liderança que foi a Convenção Nacional, levando todos os delegados do partido que fizeram questão de consignar o voto e eu fiz um discurso duro, que eu tinha que fazer. Dizendo inclusive o seguinte: que o partido colocou em risco, poderia desestabilizar a aliança aqui, onde o PT me apoia.Mas o partido ficou devendo uma explicação pública. Lembro que em 2010, o partido ficou com (José)  Serra e a bancada com a Dilma. Hoje está esmagadoramente com a Dilma

247 - O  senhor doou mais de R$ 3 milhões à própria campanha. É um fato raro. Os candidatos em geral pedem para os pedem outros, mas não colocam a mão no próprio bolso.

É algo pouco comum mas eu tive de fazer. Até julho o fluxo de contribuições das campanhas no Brasil foi extremamente insuficiente. Os contribuintes só começaram a fazer as contribuições em agosto. E alguns nem começaram. Eu já tinha contratado compromissos, contratei o programa eleitoral com uma produtora, contratei uma série de coisas. E o que eu tinha que fazer? Eu tinha o dinheiro, o dinheiro tem origem, está declarada, e fui obrigado a honrar os contratos.  E ainda assim com dificuldades. Caso contrário, alguém poderia dizer: esse cara não acredita, não tem compromisso com a campanha...

247 - O senhor vem de uma uma das famílias mais ricas de Pernambuco, que tem uma tradição de apoiar políticos de esquerda. Como é isso?

Meu pai, Armando Monteiro Filho, foi ministro de Jango. No governo parlamentarista de Tancredo, ele era ministro da Agricultura. Aí veio a revolução, ele ficaria onde? Ele foi para o MDB. Não foi para a Arena. Ficou sustentando a posição do MDB em Pernambuco, ao lado de Marcos Freire, de Jarbas Vasconcelos e tal. Meu pai não era um homem radical. Tinha posições reformistas. Foi um dos formuladores da proposta de reforma agrária de 1961, que, que criava o Fundo Federal Agropecuário.  Ficou todo esse tempo postado neste campo. Ele era amigo de Brizola, depois ficou o PDT. Inclusive ficou identificado com posições mais à esquerda progressista do que eu (risos). Não foi digamos assim, algo de alguém inconsequente. Ele tinha as posições do setor empresarial, mas sempre se postou, sempre teve coerência.

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