Espionagem, EUA, Dilma e uísque

Invocar que o Brasil é "parceiro" e por causa disso se mostrar magoado é amadorismo em naco. Exigir explicações dos Estados Unidos é bravata de moça virgem



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Qual será o presidente da República de todos os países da América do Sul que não será espionado no futuro? Você imagina algum? Dilma Rousseff cumpre seu burocrático papel de se mostrar indignada ao povo brasileiro. Mas conhece muito bem a lição deixada pelo avô de seu único adversário atual: "telefone é só para marcar reunião". Quem não ouviu Tancredo Neves com essa advertência se estrepou. Internet então, só para "rs" no msn. Bem-vindo à "vida pública-buraco-da-fechadura-on-line".

Qualquer gestor público com um mínimo de juízo e de informação sabe que internet, em relação a assuntos sérios, virou Facebook: rede social. O protesto oficial do ministro da Justiça, Cardozo, é meramente protocolar. A reclamação brasileira registrada na ONU pela chancelaria brasileira é quase que sonolenta de tão óbvia. Já o silêncio dos Estados Unidos é risonho. Contra a força não há resistência.

Não se trata de uma ode ao maquiavelismo ianque. Ou um complexo de inferioridade tupinico-brazuca. George Orwell ensinava que "o pessimista é um otimista mal informado". Não adianta. Chegamos ao Mundo Pequeno, onde a comunicação com a Europa está a um "enter" no teclado. Mas no fio tem o Tio Sam.

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Na relação dos países, não existe simetria entre gentileza negocial, cordialidade diplomática, bilateralidade comercial de um lado e espionagem do outro. Invocar que o Brasil é "parceiro" e por causa disso se mostrar magoado é amadorismo em naco. Exigir explicações dos Estados Unidos é bravata de moça virgem. Os próprios diplomatas o sabem. E a sós, nos coquetéis a Blues Labels os risos soam largos.

Dilma pode "cancelar" uma ou outra viagem aos EUA. Obama pode pedir mais discrição à CIA na continuidade da espionagem e melhor controle sobre os dissidentes internos, a la Snowden, mas para por aí.

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Por outro lado deve haver, já, novos Snowdens querendo ganhar fama de cult. Conquistar mulheres russas e chinesas e revelar segredos estratégicos que beneficiem continentes. Ou angustiem.

Os EUA aprenderam que podem muito com a espionagem. Mas experimentaram a traição figadal, uterina ou, pior, cerebral: de novo Snowden. Com ela podem perder credibilidade. A dissidência de alguém a um país hoje não é mais pela fronteira, mas pelos bytes. A guerra voltou a ser fria: computadores não precisam mais de válvulas. Agora há os ciberdissidentes.

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O que pode interessar aos EUA é a moeda do terrorismo. Eles precisaram se tornar tão paranoicos com o tema que só de eu digitar a palavra (não quero repetir) já acendeu uma luz na CIA. Se o Brasil possuir informação estratégica na área pode denotar algum interesse. Mas dificilmente o país saberia de algo que os EUA não soubessem. Está-se falando apenas de informações, não de "outras" commodities.

Talvez a "invasão" por espionagem dos EUA nem seja uma desfaçatez ou um desrespeito, palavra tão pueril no sistema mundial de trânsito de informações estratégicas e secretas. Todos os países conhecem a regra do jogo, se espionam e bebem juntos. O grande problema não é haver a espionagem na grande mesa de poker do Pequeno Mundo. Mas sair da mesa, como a Síria está saindo.

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Os jogadores presentes à grande mesa, mesmo visceralmente desleais e fétidos - ali ninguém sai para tomar banho-, se protegem.

Não declaram guerra entre si. Está certa Dilma em fazer beicinho para os Estados Unidos. Se ela não fizesse seria péssimo. O mais importante é que o lugar do Brasil na mesa passou a ser um bom lugar. Até porque interessa aos Estados Unidos. Chegamos lá.

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A esmola assistencial como ocorria durante o governo militar brasileiro era muito pior. O único risco do Brasil para os EUA na época era de se "tornar" uma China no Cone Sul, ou algo parecido. Uma demência antropológica típica de embriagados. Hoje não, o Brasil é outro. Talvez o grande medo ianque atual seja os protestos. As "ruas". Esta é a novidade brasileira. O que o famoso Junho de 2013 começou.

Some-se apenas uma década aí para a frente com alguma espanholização do povo brasileiro em termos de berrar, se inquietar, exigir nas ruas e o Brasil pode ter outra cara. Muito mais "encrenqueira", pagando-se uma dívida social de séculos como um povo quietado.

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As "ruas" podem melhorar ainda mais o lugar na grande mesa do Pequeno Mundo.

Não sabemos se o Gigante acordou, mas a sensação de ponta de orgulho, fora de Copa do Mundo, é totalmente nova para nós. Dia 7 de setembro está aí.

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