Movimentos cobram Gilmar Mendes por ação de doações de campanhas

Há quase dois meses, o ministro do Supremo Tribunal Federal pediu vistas de processo que caminhava para impedir doações de pessoas jurídicas a partidos. Agora, entidades pedem urgência para evitar contrarreforma no Congresso

Há quase dois meses, o ministro do Supremo Tribunal Federal pediu vistas de processo que caminhava para impedir doações de pessoas jurídicas a partidos. Agora, entidades pedem urgência para evitar contrarreforma no Congresso
Há quase dois meses, o ministro do Supremo Tribunal Federal pediu vistas de processo que caminhava para impedir doações de pessoas jurídicas a partidos. Agora, entidades pedem urgência para evitar contrarreforma no Congresso (Foto: Gisele Federicce)


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Por Jean Oliveira, especial para a Rede Brasil Atual

No que depender das entidades e militantes que participaram do ato público pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, realizado na noite de ontem (26) na sede da OAB do Rio de Janeiro, a agenda da sociedade brasileira ganhou duas importantes metas para os próximos meses: impedir o financiamento de campanha por empresas nas eleições deste ano e reformar o sistema político-eleitoral por completo para os pleitos posteriores.

A tarefa mais urgente, na visão das entidades, e que já está em execução, é pressionar o ministro Gilmar Mendes a devolver ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) 4.650 proposta pelo Conselho Federal da OAB. A pressão já virou campanha na internet com o mote "Devolva, Gilmar!". Há quase dois meses, o ministro pediu vistas e travou a votação da Adin no plenário do STF, que já contava oficialmente com quatro votos e mais duas declarações prévias favoráveis, ou seja, seis dos 11 ministros, maioria necessária para a aprovação, já apoiam o fim das doações de empresas às campanhas eleitorais – a Adin 4.650 está no Supremo há três anos. "Não podemos continuar convivendo com eleições financiadas por grandes empresas que, obviamente, não fazem isso pelo bem da democracia no Brasil", defendeu o integrante do Conselho Federal da OAB e ex-presidente da seccional fluminense, Wadih Damous.

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A ação, movida pelo Conselho Federal da Ordem, se baseia no entendimento de que é inconstitucional a doação eleitoral por empresas porque cria uma desproporcionalidade no sistema político e dá às empresas um poder de atuação que não deveriam ter, pois não são agentes legalmente reconhecidos da vida política nacional.

"Empresa não faz doação, faz investimento", alertou a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Virgínia Barros. O conselheiro federal e secretário-geral da OAB, Claudio Souza Neto, foi além. Para ele, "o financiamento de empresas fere a democracia e viola os princípios mais básicos da República por permitir vantagens ilícitas e interferência em órgãos públicos em benefício dos financiadores. Por isso, a legislação eleitoral brasileira sempre foi inconstitucional".

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Projeto de Lei

Para além do financiamento de campanha, a coalizão de entidades também está empenhada na reforma completa do sistema político-eleitoral do país. Com este objetivo estão sendo coletadas assinaturas em apoio ao projeto de lei de iniciativa popular da "Reforma Política Democrática e Eleições Limpas". Mais de 200 mil eleitores já assinaram, mas o número precisa chegar a, pelo menos, 1,3 milhão de assinaturas (1% do eleitorado nacional).

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O projeto, construído após as grandes manifestações do ano passado e a partir das declarações da presidenta Dilma Rousseff em apoio à reforma política, consolida o fim do financiamento de campanhas eleitorais por empresas e corrige outras distorções do sistema eleitoral brasileiro, entre elas a sub-representação das mulheres na política e a desvalorização dos partidos políticos e do voto do cidadão.

Uma das propostas contidas no projeto merece destaque por recuperar o protagonismo dos partidos políticos, mas sem tirar dos eleitores a palavra final sobre seus representantes nos parlamentos. Para isso, as entidades querem que as eleições parlamentares passem a ser realizadas em dois turnos. No primeiro cada eleitor votará no partido político que, de acordo com sua avaliação, apresentar as melhores propostas, e no segundo os eleitores voltam às ruas para escolher quais candidatos ocuparão as vagas conquistadas por cada partido no primeiro turno.

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Para não esquecer de 1964

"Estou pensando em 1964, na necessidade de apoiar reformas estruturantes para o Brasil", declarou o bispo Dom Roberto Francisco Paz, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fazendo referência ao processo de reformas que levaram à deposição do presidente João Goulart. Para ele, a política só deixará de ser usada como balcão de negócios com um "controle social do processo eleitoral", conduzido não só pelos partidos. Nas eleições que se aproximam, o bispo defende que os eleitores sejam rigorosos. "Se o candidato não apoia a reforma política, não pode ser votado. Quem tem vergonha na cara apoia."

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Outros também defenderam a necessidade da reforma política para a superação definitiva do período autoritário. "Nossa transição para a democracia está inconclusa. Ainda temos resquícios da ditadura em várias áreas, como na segurança pública e na educação", lembrou Virgínia.

"Em março, estive no ato dos 50 anos do comício da Central do Brasil pelas reformas do Jango e fiquei impressionado como as questões de fundo da sociedade brasileira continuam as mesmas daquela época. Além da política, as reformas urbana, educacional, agrária e dos meios de comunicação, entre outras, ainda precisam ser feitas", alertou o coordenador-executivo da coalizão, o ex-deputado e ex-presidente da UNE Aldo Arantes.

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Representando a Frente Parlamentar pela Reforma Política, o deputado Alessandro Molon (PT-SP) comentou sobre as tentativas, até agora sem sucesso, de aprovar no Congresso uma contrarreforma para neutralizar a Adin 4.650 e o projeto de lei de iniciativa popular, o que torna mais importante a pressão sobre Gilmar Mendes. "A tese defendida pela OAB na Adin 4.650 é simples e inquestionável: quem não vota não pode doar. A luta pela reforma política é uma guerra de guerrilha, mas estamos conseguindo avançar. Com a inconstitucionalidade da doação de empresas, com certeza teremos um próximo Congresso bastante diferente do atual."

Além de mudar os parlamentos, a reforma política responde a inúmeros anseios da sociedade brasileira acumulados ao longo de toda a sua história. "Temos que superar a enorme distância entre representantes e representados", defendeu Ivo Lesbaupin, da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política. "Não tenho dúvidas de que se aprovarmos o projeto de lei da reforma política daremos um grande passo rumo a moralização e a consolidação do processo democrático brasileiro", conclui Wadih Damous.

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