Reuters: parece que só Dilma já tem lugar no 2º turno

Embora analistas insistam que uma recuperação do terceiro colocado, Aécio Neves (PSDB), a ponto de ultrapassar Marina Silva (PSB), seria algo inédito nas disputas presidenciais considerando os números atuais, as circunstâncias são diferentes de outras vezes, avalia Alexandre Caverni, colunista da agência Reuters

Embora analistas insistam que uma recuperação do terceiro colocado, Aécio Neves (PSDB), a ponto de ultrapassar Marina Silva (PSB), seria algo inédito nas disputas presidenciais considerando os números atuais, as circunstâncias são diferentes de outras vezes, avalia Alexandre Caverni, colunista da agência Reuters
Embora analistas insistam que uma recuperação do terceiro colocado, Aécio Neves (PSDB), a ponto de ultrapassar Marina Silva (PSB), seria algo inédito nas disputas presidenciais considerando os números atuais, as circunstâncias são diferentes de outras vezes, avalia Alexandre Caverni, colunista da agência Reuters (Foto: Gisele Federicce)


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(O autor é editor de Front Page do Serviço Brasileiro da Reuters. As opiniões expressas são do autor do texto)

Por Alexandre Caverni

SÃO PAULO (Reuters) - Com a campanha entrando na penúltima semana antes do primeiro turno das eleições, o que parece ser a única certeza neste momento é que a presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição, estará na segunda rodada de votação.

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Embora analistas insistam que uma recuperação do terceiro colocado, Aécio Neves (PSDB), a ponto de ultrapassar Marina Silva (PSB), seria algo inédito nas disputas presidenciais considerando os números atuais, as circunstâncias são diferentes de outras vezes.

Para começar, a segunda colocada das pesquisas está sendo atacada tanto por quem está no terceiro lugar como pela líder das intenções de voto para o primeiro turno.

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Normalmente, o segundo colocado "apanha" do terceiro, já que é este que está atrás e precisa ultrapassar o outro para chegar ao segundo turno. O líder não precisa bater porque está numa situação mais cômoda --como em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) virou o "Lulinha, paz e amor" na campanha.

Mas há algumas semanas as pesquisas criaram uma situação peculiar. Naquele momento, parecia líquido e certo que Aécio estava fora da disputa, Marina tinha crescido e dividia a liderança do primeiro turno com Dilma e em simulações de segundo turno derrotava a presidente.

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Com esse quadro, a campanha petista decidiu que era preciso antecipar o confronto com a candidata do PSB no que consideravam ser um "super segundo turno", pelo fato de durar mais tempo do que as três semanas que separam o dia 5 do dia 26 de outubro.

Assim, Marina passou a ser duramente atacada tanto de um lado como de outro, ainda que os tipos de ataque, pelo menos na TV, sejam distintos.

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A campanha petista aposta no medo, mostrando o que diz serem as consequências de posições de Marina --como a independência formal do Banco Central e a redução de subsídios dos bancos públicos-- sobre salários, empregos e programas sociais.

Já os tucanos têm mostrado o que chamam de incoerências ao longo da vida política da ex-senadora, tentado colar nela a imagem de ser uma espécie de segunda candidata do PT, e apontando para sua suposta falta de apoio político. Com isso, Aécio se apresenta como o único realmente capaz de trazer as mudanças que as pesquisas mostram ser o desejo da maioria do eleitorado.

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A situação para Marina fica ainda mais complicada por ser ela, das três principais candidaturas, a que tem menos tempo na propaganda do rádio e TV, o que reduz muito seu poder de fogo para responder a ataques e rebater o que classifica de mentiras. Para completar, ela é quem tem também a estrutura mais modesta, o que restringe seu poder de mobilização partidária.

A candidata do PSB, que chegou a ter 34 por cento das intenções de voto para o primeiro turno, apareceu nas pesquisas Ibope e Datafolha da semana passada com 30 por cento. Considerando tudo, até que tem resistido bem. A questão é até quando.

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Já Aécio, que chegou a amargar 14 por cento pelo Datafolha, finalmente mostrou recuperação, aparecendo com 19 por cento no Ibope e 17 por cento no Datafolha.

Dilma não está tão à frente, com 36 e 37 por cento, respectivamente. Mas desde que Marina se tornou candidata do PSB, a presidente não esteve abaixo dos 34 por cento em pesquisas pelos dois institutos, o que parece ser seu piso. Isso apesar de sofrer seguidos ataques de Aécio e ter que enfrentar as recentes denúncias de corrupção na Petrobras envolvendo políticos e partidos governistas.

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Desse modo, existem agora duas interrogações: a primeira é quanto mais Marina vai "sangrar" por conta desse bombardeio da propaganda; a segunda é se Aécio continuará ganhando terreno e se haverá tempo para que essa recuperação seja suficiente para ultrapassar a candidata do PSB.

Grandes movimentos, sem eventos extraordinários, são bastante incomuns. Candidato a vice na chapa de Aécio, o senador Aloysio Nunes (PSDB) conseguiu uma virada espetacular em São Paulo na eleição para o Senado há quatro anos. O atual prefeito de São Paulo, Fernando Hadadd (PT), também teve uma bela arrancada na reta final em 2012.

Mas esses exemplos talvez não sejam os melhores. A propagação de uma declaração, de um erro ou de uma mobilização numa eleição local ocorre mais rapidamente do que numa eleição presidencial, que envolve todo o país.

Por outro lado, é preciso lembrar que as propagandas de Dilma e Aécio contra Marina estão "martelando" os eleitores há semanas. A estratégia "água mole em pedra dura" parece ter começado a surtir efeito e esse efeito pode ser crescente nesta reta final.

E a própria Marina, na eleição de 2010, mostrou que é possível ter um crescimento considerável mesmo sem um evento extraordinário.

Há quatro anos, na mesma época, o Datafolha mostrava Marina com 12,4 por cento dos votos válidos (excluindo da base da pesquisa os nulos, brancos e indecisos). Embalada na reta final por temas que ganharam grande dimensão naquela campanha, como a questão do aborto, ela teve 19,3 por cento no primeiro turno, um crescimento de 7 pontos.

Extrapolando esse movimento de quatro anos atrás para agora e para Aécio, o quadro seria o seguinte. Considerando os votos válidos do último Ibope, um crescimento de 7 pontos levaria Aécio a quase 29 por cento no primeiro turno. Se isso viesse principalmente às custas de Marina, a disputa da segunda vaga para 26 de outubro ficaria, no mínimo, bem embolada.

Se as pesquisas desta semana mostrarem mais força na recuperação de Aécio, o movimento descrito acima pode ser ainda mais acentuado.

* Esta coluna foi publicada no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters, em 22 de setembro.

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