Travado, PT perde força na engrenagem do poder

Enquanto o STF dizimava primeira geração de chefes do partido, líderes mal ensaiaram reação; nesta terça-feira, legenda nem juntou maioria para aprovar relatório da CPI do Cachoeira; defesa da política econômica ficou à deriva; CUT recuada; ex-presidentes Sarney e Collor ocupam novos espaços institucionais; desempenho nas urnas mal foi comemorado; Lula pode fazer essa máquina voltar a funcionar?

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Marco Damiani _247 – O PT travou. Aquela máquina partidária que se acostumou a ocupar largos espaços na mídia com propostas afirmativas, acusações contra adversários e defesa intransigente de suas lideranças e administrações parece um tanto enferrujada. Somente nesta terça-feira 18, praticamente uma semana depois dos ataques do publicitário Marcos Valério contra o ex-presidente Lula terem tomado praticamente todas as manchetes do País, o partido conseguiu reunir seus parlamentares para um ato de desagravo. Uma reunião em recinto fechado, o Salão Verde da Câmara, longe das praças públicas, com não mais que duas centenas de pessoas.

Até o ato de desagravo, que durou das 15h00 às 16h00, nenhum grande discurso foi pronunciado por qualquer um dos tribunos do partido em defesa do velho chefe. O melhor que se ouviu, veio do senador Eduardo Braga, do PMDB do Amazonas, líder do governo no Congresso.

Na frente da defesa da política econômica do governo, a presidente Dilma Rousseff precisou ela mesma sair em defesa do ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando ele, também na semana passada, foi desestabilizado pela revista inglesa The Economist, que pediu sua demissão. É o ex-ministro dos governos militares Delfim Netto, atualmente sem mandato parlamentar, quem se mantém, nos últimos anos, como porta-voz informal da tentativa de proteger, na mídia, a linha de ação anticíclica de Mantega e sua equipe.

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Os economistas do PT não têm se pronunciado, não têm escrito artigos, não têm, como se diz, botado a cara para defender o governo das críticas ao pibinho de 1% para 2012. Para justificar tentativas de solução para o crescimento, cada vez mais os atuais diretores do Banco Central têm de dar entrevistas, fazer palestras e pronunciamentos para monitorar o mercado. O presidente Alexandre Tombini está praticamente todos os dias nos jornais.

Depois que o senador Aluizio Mercadante assumiu o Ministério da Ciência e Tecnologia e, em seguida, o da Educação, não se conhece um político com mandato pelo partido que saiba, do Senado, pautar opiniões econômicas. Há quem tenha saudades da hoje ministra Ideli Salvati nesse papel. Eduardo Suplicy, Lindberg Farias? Não, eles também não assumiram a sustentação do governo como tarefa prioritária. A CUT, braço sindical do partido, por outro lado, está muito mais à espreita, temerosa, para ver onde irão dar os esforços de desenvolvimento do governo, do que na batalha pelo aprofundamento da política econômica.

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A sempre apontada falta de quadros no PT vai provocando problemas constrangedores para a legenda. Em seu início, a CPI do Cachoeira era tida como "chapa-branca", dada a forte possibilidade de poder ser manipulada por uma projetada maioria da base governista. Mas a ausência de um comando nítido e de unidade de propósitos estilhaçaram bloco na Comissão. Ao final da CPI, nesta terça-feira 18, o relator petista Odair Cunha viu seu relatório ser criticado pelas "idas e vindas" e, em seguida, rejeitado em votação. Ficou a impressão geral que o PT ajudou a encenar um grande teatro para apenas entregar mais uma pizza.

Entre os quadros emergentes do partido, não se espere de Fernando Haddad, o prefeito eleito de São Paulo, qualquer postura partidária de maior liderança. Com o objetivo de começar discretamente seu mandato, ele costurou uma série de alianças que limitam a amplitude de seu discurso. Nem ele está disposto a continuar no palanque. Terá problemas suficientes para resolver em São Paulo até que possa se dedicar aos assuntos partidários e nacionais. Os governadores Tarso Genro e Marcelo Déda, igualmente amarrados as suas administrações, não assumiram até agora esse papel, sinalizando claramente sua discrição. Jaques Vagner, que até gostaria, tem instabilidade suficiente em suas próprias bases na Bahia para não pisar na frente da cena. Neste estamento da política, coube ao governador Cid Gomes, do PSB do Ceará, articular um encontro dele próprio e mais sete colegas com Lula, nesta terça 18, em São Paulo, como desagravo. Faltou reflexo ou disposição para um petista como o ex-presidente fazer o movimento inicial.

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Vai ficar para quem sempre ficou – Lula – a missão, ainda esta vez, de vitaminar o partido. Não por outro motivo, coube ao deputado Ricardo Berzoni, outro 'das antigas' na legenda, registrar na semana passada, em artigo, um apelo pela volta do ex-presidente ao comando: 'Lula, o líder necessário'. Antes, o ex-presidente fazia dobradinha com José Dirceu, que tratava de ser o grande organizador das bases partidárias. No momento, só pode contar com o presidente nacional Rui Falcão. Longe de ter o mesmo carisma de seus antecessores Dirceu e José Genoíno, Falcão rearticulou as bases partidárias e embicou o partido para um excelente desempenho nas eleições municipais. A força dos votos, no entanto, não está se refletindo nos bastidores do poder em Brasília. Ali, repita-se, o PT vai sendo visto com pequena identificação na defesa do governo Dilma e no legado de saudável agressividade e aguerrimento do próprio partido. Ao que se vê, se no lado oposto o PSDB tenta se refundar, o PT precisa aprender a voltar a brigar.

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