PT, 10 anos: é o começo, o meio ou o fim?

Partido completará uma década na presidência em 1º de janeiro com uma vantagem competitiva extra na briga do poder: Lula continua popular; Dilma, idem. O que dá aos petistas o direito de sonharem com a profecia que Sérgio Motta fez para o rival PSDB: ficar 20 anos no poder. Veja o que mudou e o que não mudou nesse período, quando a economia melhorou, mas o PT perdeu a imagem ética que tinha junto à classe média e virou o partido do “mensalão”

PT, 10 anos: é o começo, o meio ou o fim?
PT, 10 anos: é o começo, o meio ou o fim? (Foto: Edição 247)


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Heberth Xavier_247 - Quando 2013 começar, daqui a menos de uma semana, o projeto político do PT estará completando uma década do poder maior, a presidência da República. Desde então, muita coisa mudou para o partido, para o bem ou para o mal. Seu líder maior e fundador, Luiz Inácio Lula da Silva, triunfou sob índices de popularidade nunca antes experimentados; sua sucessora e “criação” política, Dilma Rousseff, vai na mesma trilha, com o Ibope alto. O PT, por sua vez, perdeu, digamos assim, a virgindade ética que, certo ou errado, o diferenciava, aos olhos do eleitor: o chamado mensalão foi apenas o ápice de um processo marcado por alianças antes inimagináveis, incluindo dois ex-presidentes cujos governos receberam oposição feroz dos petistas (José Sarney e Fernando Collor).

Os dez anos, porém, virarão certamente 12 em 2014. Depois, podem virar 16, se as pesquisas atuais forem confirmadas até lá e Dilma se reeleger -- e o PT ainda tem Lula como carta na manga, para uma alternativa, ainda que muita gente aposte que é ele a primeira opção do partido. Na prática, a profecia feita pelo ex-ministro tucano de Fernando Henrique Cardoso, Sérgio Motta, pela qual o PSDB ficaria 20 anos no poder, pode acabar se concretizando para o rival.

Há um mês e meio, o ex-assessor de Lula, e seu amigo pessoal há anos, o jornalista Ricardo Kotscho, relembrava em seu blog a já distante eleição de 2012. No texto, informava que Lula preferiu não comemorar os 10 anos da eleição, mas que vai “organizar com calma”, agora em janeiro, uma série de atividades nas quais fará um balanço dos 10 anos de governo do PT. “Vamos discutir o que era o Brasil antes do governo do PT e o que é agora”, disse Lula ao amigo, ao telefone.

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É claro que, aos olhos petistas, o saldo é amplamente favorável. Mas será que é mesmo? Com justiça aos fatos, há, sim, mais motivos para comemorar do que lamentar, e as duas reeleições petistas comprovam que a população está relativamente satisfeita. Mas 2014 é somente daqui a dois anos, e muita coisa pode ocorrer até lá. Ou não?

ECONOMIA

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Sem dúvida, a grande responsável pela reeleição de Lula, em 2006, e a eleição de Dilma, em 2010. A grosso modo, Lula manteve alguns pilares básicos da gestão do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, como o câmbio flutuante, o regime de metas de inflação, a autonomia relativa do Banco Central… Mas acrescentou uma postura mais intervencionista na economia. Os bancos públicos, por exemplo, foram usados para forçar a queda dos juros na ponta.

As políticas compensatórias, como o Bolsa Família, antes de instrumentos de inclusão social, viraram políticas de inclusão econômica. Com isso, empresas antes satisfeitas com o atendimento às classes média e média-alta, viram um novo mercado, muito mais numeroso. Surgia uma nova classe média. O salário mínimo, deliberadamente, passou a ter aumentos reais mais significativos, elevando o poder de compra.

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A economia no governo Lula passou a crescer mais, chegando a mais de 5% nos últimos anos lulistas. Com Dilma, os números caíram, mas ainda assim o PIB aumentou mais, na média, do que no período FHC.

ESCÂNDALOS

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Em 2005, uma denúncia partida de um ex-aliado de Lula, o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) jogaria de vez o PT no ralo dos partidos brasileiros, envolvidos numa série de escândalos de corrupção. Uma nova palavra apareceu no cotidiano do brasileiro, repetida em jornais, revistas e internet: o mensalão. Embora sua gênese tenha sido em Minas Gerais e envolvido o rival PSDB, foi o mensalão petista quem ganhou as manchetes. Lula conseguiu, pelo menos enquanto estava na presidência, desvencilhar-se das denúncias; Dilma, idem. Mas o PT, aos poucos, foi perdendo seu charme antigo e virou mais do mesmo. Pior: principalmente na classe média, o partido ganhou identificação com a palavra corrupção.

POLÍTICA EXTERNA

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Alvo constante das críticas da oposição, a relação do Brasil com o mundo também mudou no reinado petista em Brasília. A prioridade deixou de ser a relação com a Alca e os Estados Unidos, e mercados antes quase ignorados, como o Oriente Médio, ganharam fôlego na política externa petista.

Lula, aproveitando-se da popularidade e do simbolismo do “ex-operário pobre” que chegou à presidência, correu o mundo tentando dar protagonismo ao país. Foi chamado de “o cara” pelo presidente Obama; tentou, sem sucesso, ajudar na negociação entre palestinos e judeus. O resultado prático não foi tão evidente. Mas a diversificação de mercados acabou ajudando, depois do declive americano a partir de 2008, seguido pelo europeu.

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MÍDIA

Poucas vezes, ou talvez nunca, a grande imprensa foi tão impiedosa com um governo federal quanto nos últimos 10 anos. Em 2010, a presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Maria Judith Brito, chegou a admitir que a imprensa estaria atuando como um partido de oposição: “Obviamente que os meios de comunicação estão fazendo, de fato, a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”. O resultado prático dessa “posição oposicionista” foi inócuo, já que Lula continuou popular, foi reeleito e elegeu Dilma, que também é muito popular.

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Para fazer frente à “velha” e grande mídia, surgiram blogs simpáticos ao Planalto, logo apelidados de “blogs progressivos”, ou “blogs sujos”. Foram, e ainda são, acusados de serem chapa branca. Nos dez anos de PT no poder, uma nova palavra ganhou a internet: o PIG, ou Partido da Imprensa Golpista. A resposta veio no mesmo tom, criando-se o JEG, ou Jornalismo da Esgotofera Governista.

O PT, mas principalmente Lula e Dilma, ficou em situação embaraçosa. Sem querer comprar briga com os grandes grupos, protelaram e protelam qualquer discussão sobre uma regulação na mídia, nos moldes do que fez a presidente argentina Cristina Kirchner. São criticados pelos aliados por isso; e são igualmente criticados pela chamada grande mídia, que vê no partido e no governo federal uma “vontade” pouco oculta de controlar a imprensa.

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