A política dos curativos

Tem se a impressão, a julgar pelo discurso oficial, que tudo vai às mil maravilhas no setor de energia, como se a hesitação dos investidores fosse mera questão de mau humor



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As desconfianças em relação à capacidade do setor elétrico de prover o abastecimento de energia com segurança ajudam a explicar por que a expectativa de investimento do setor produtivo, revelado pela pesquisa da CNI na semana passada, é a mais baixa em quatro anos. Perigo de desabastecimento, atrasos em obras de infraestrutura descapitalização recente das empresas do setor, tudo colabora para que o tal instinto animal dos empresários siga hibernado.

Temos buscado oferecer contribuições e alternativas para o enfrentamento deste momento negativo. Afinal, os brasileiros precisam do crescimento econômico para consolidar suas conquistas sociais. No entanto, a falta de interlocução do governo federal e sua insistência em políticas equivocadas seguem ali mentando as projeções mais pessimistas quanto ao ambiente econômico do setor energético.

O governo federal perdeu também uma excelente oportunidade de cobrar contrapartidas do setor industrial.

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Ninguém consegue explicar por que as bioenergias de cana permanecem sem uma política setorial estratégica. Com regras de mercado justas e estáveis, linhas de crédito adequadas e aperfeiçoamentos no modelo de leilões de energia, o setor sucroenergético poderia desanuviar a pressão sobre o mercado interno de combustíveis automotivos e contribuir decisivamente para a segurança energética no período de baixa nos reservatórios das usinas hidrelétricas. Falta estimular a oferta.

O governo federal perdeu também uma excelente oportunidade de cobrar contrapartidas do setor industrial, maior consumidor de energia e, teoricamente, principal beneficiário da MP 579. O governo poderia ter condicionado a proposta à garantias de investimento e manutenção de empregos, mas também fixa do metas de ganho em eficiência energética. O setor desperdiça 30% dos custos com energia. Para produzir um dólar, gastamos duas vezes mais energia do que a indústria britânica.

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Ainda assim, mesmo com prejuízos crescentes na balança de combustíveis, pressões inflacionárias e riscos de desabasteci mento, a inflexibilidade do atual planejamento energético segue intocada. Como todos os apertos momentâneos são atribuídos a quimeras irrepetíveis, e como todos os problemas atuais já estarão solucionados no futuro, tem se a impressão, a julgar pelo discurso oficial, que tudo vai às mil maravilhas no setor, como se a hesitação dos investidores fosse mera questão de mau humor.

Há uma extensa agenda para o setor a ser implementada. No entanto, a imagem transmitida pelos órgãos da área energética do governo federal é de que não há verdadeiramente um plano ou uma linha de raciocínio clara, mas movimentos táticos quase sempre reativos e atrasados, a mercê da urgência do momento. Aos entes federativos e associações setoriais, que poderiam enriquecer sobremaneira o planejamento do setor, resta observar de longe esta política de curativos do governo federal. Sabe se lá onde ela ainda vai nos levar.

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