PT, 10: o Brasil mudou. Mas mudou o bastante?

Em festança no Anhembi, em São Paulo, nesta quarta-feira 20, o PT comemora uma década no poder federal; presidente Dilma, ex-presidente Lula e todos os capas-pretas da legenda irão enaltecer os feitos dos quais foram os autores principais; a tônica será a de que o Brasil mudou, a miséria está próxima do fim e o sonho do poder só bem começou; mas o que dizer dos erros acumulados e das dificuldades em projetar um futuro menos polêmico que o passado tumultuado?

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Marco Damiani 247 – E assim se passaram dez anos... Da primeira posse de Lula, em janeiro de 2002, à festança marcada para esta quarta-feira 20, em São Paulo, o PT pode olhar para trás e comemorar, agora, uma década de hegemonia no poder. Quase um terço de sua história de 33 anos de vida. Para qualquer partido político, em qualquer parte do mundo, um feito e tanto. Dando ainda mais graça às festividades, o PT pode exibir a popularidade recorde da presidente Dilma Rousseff, a força incomparável do ex-presidente Lula e os recentes resultados das eleições municipais, nas quais seus quadros assumiram São Paulo, a maior cidade do País, e outros 615 municípios. Foi uma multiplicação por 5,5 em relação ao número de conquistas municipais no ano 2000.

No campo das realizações, o partido afirma não menos que, praticamente, erradicou a miséria da vida nacional. Na terça-feira 19, a presidente Dilma Rousseff anunciou a extensão do programa Bolsa Família para mais 2,5 milhões de beneficiários, o que elevaria para 22 milhões o número de pessoas que, em razão do programa assistencial, teriam deixado a faixa mais baixa da sociedade apenas nos últimos dois anos. Outros 40 milhões teriam pulado a linha da miséria durante a Era Lula. "Com este ato, o Brasil vira uma página decisiva na nossa longa história de exclusão social", disse Dilma. Faltariam, apenas, mais 790 mil pessoas no Bolsa Família para se poder dizer que não há mais miseráveis no Brasil.

Às críticas unânimes dos oposicionistas, segundo as quais o PT acomodou-se na prática do assistencialismo que lhe rende votos e prestígio entre a maioria pobre da população, os chefes do partido respondem com as atuais menores taxas desemprego da história. Querem dizer, com isso, que o partido tratou de modernizar e dar condições de crescimento à economia, criando um círculo virtuoso de Estado protetor e iniciativa privada promotora. Esse entendimento está na ponta da língua da presidente Dilma, que ressaltou o modelo no discurso de Planalto. "Isso não se deu por mágica nem fruto do acaso, mas por meio de dez anos de experiência, tentativas e coragem de execução".

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Poderia ser o bastante, mas o mesmo PT que bate no peito como transformador da sociedade brasileira é o que também teve sua primeira geração de líderes condenada a mais de duas décadas de prisão pelo Supremo Tribunal Federal. Quadros históricos como o ex-ministro José Dirceu, o deputado José Genoíno e o ex-tesoureiro Delúbio Soares colocaram, com suas condenações, o PT na sinuca de atender, entendendo, a determinação da Justiça, ou contestar-lhe. Ao assumir o segundo caminho, por meio de renhidas tentativas de não aceitar a decisão da mais alta corte jurídica do País, o partido executa um drible torto na autocrítica e projeta um futuro construído sobre bases mal assentadas de seu próprio passado. Neste momento de gozo do poder, que deve parecer eterno ao partido, a transferência de responsabilidades é, sem dúvida, um comodismo eficiente, mas uma eventual mudança de guarda no Poder Executivo poderá dificultar-lhe, moralmente, a volta do exercício do papel de oposição.

Mal resolvido diante dos padrões éticos aceitáveis por uma grande camada da população, o PT ainda está em dívida com o latente o desafio de implantar uma cultura política de esquerda num país eminentemente de centro. As estruturas da sociedade de dez anos atrás permanecem as mesmas. A mídia veicula valores considerados, pelo partido, como conservadores. A Justiça prossegue lenta e mais inclinada a condenar mais os pobres que os ricos. A reforma agrária pouco avançou. Nas cidades, os bairros nobres continuam melhores e sempre distantes das áreas populares. As oligarquias políticas prevalecem, e com elas, quase todas as vezes, o PT se alia para ter suas maiorias de sustentação.

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O PT tem direito a comemorar, mas não se vê no partido a humildade suficiente para reconhecer que, por mais que tenha feito, ainda não fez o bastante. A soberba não contribui para a superação dos seus próprios erros na década que começa agora.

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