Miriam Leitão sai em defesa dos acionistas da Eletrobras

Ações da empresa já caíram 60% no ano e vêm sendo puxadas pelo plano para redução das tarifas de energia. Colunista do Globo defende investidores, mas, na sociedade, há outros "stakeholders" que não podem ser esquecidos. Especialmente, os consumidores industriais e residenciais  

Miriam Leitão sai em defesa dos acionistas da Eletrobras
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247 - Nesta terça-feira, a colunista Miriam Leitão, do jornal O Globo, publica um duro artigo contra o plano para a redução das tarifas de energia no Brasil (as mais caras do mundo) e sai em defesa dos acionistas da Eletrobrás. Ocorre que o debate capitalista moderno não defende apenas os "shareholders" (ou detentores do capital) de determinadas empresas, mas sim todos os "stakeholders" de uma sociedade, o que inclui governo, trabalhadores e especialmente consumidores. Leia, abaixo, sua análise: 

Apagão da Eletrobras - MÍRIAM LEITÃO

Miriam Leitão

As ações da Eletrobras estão sofrendo apagão nas bolsas. Caíram 12% na sexta-feira e 15% ontem. No mês, a queda é de 40% e no ano chega a 60%. O banco inglês Barclay reduziu o preço-alvo da ação para R$ 1. Os analistas dizem que a empresa terá problemas de solvência, caso não seja capitalizada. As perdas com a mudança nas regras do setor elétrico podem passar de R$ 35 bilhões.

As ações da Eletrobras fecharam ontem em R$ 9,8. Ninguém acredita que chegarão a R$ 1, como projetou o Barclay, mas a queda do preço-alvo ilustra o humor dos investidores com o principal grupo de energia do país, responsável por quase 40% da geração e 56% das linhas de transmissão. Alguns estão jogando a toalha.

No início do ano, o valor de mercado da Eletrobras era de R$ 26 bilhões. Ontem, fechou em R$ 11,3 bilhões. A empresa já não vinha tendo bons resultados operacionais, mas o que realmente azedou a relação com os investidores foi a MP 579 que, para reduzir o valor da conta de luz de consumidores e empresas, mexe com a rentabilidade das companhias do setor elétrico.

A Eletrobras é controlada pela União, por isso, deve aceitar as novas regras, apesar das perdas de receita que terá e do prejuízo para os minoritários. A importância da empresa para o setor é enorme: controla 12 subsidiárias e detém 50% de Itaipu.

São duas as frentes de perdas. A primeira, via indenizações, chega a R$ 17 bilhões. A segunda, via receitas, pode passar de R$ 20 bilhões até 2017.

A Eletrobras contabilizava em seu balanço R$ 31 bilhões em indenizações a receber por investimentos já feitos e ainda não amortizados. Com a MP 579, a União disse que pagará R$ 14 bilhões. A empresa, então, terá que dar baixa dessa diferença.

Segundo o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, se a Eletrobras aceitar a proposta de antecipar a renovação das concessões, o grupo deixará de arrecadar mais de R$ 20 bi até 2017.

- Analisamos usina a usina, com o vencimento de contrato de cada uma, até 2017. Chegamos a uma perda acumulada de R$ 20 bilhões. Tanto para geração quanto para transmissão. É totalmente antieconômico, a Eletrobras estará praticamente quebrada - disse Sales.

A receita operacional da empresa cairá a zero no ano que vem. Ou seja, o que entrar de caixa não será suficiente para pagar a operação dela própria.

Para a analista Karina Freitas, não haverá outra alternativa a não ser a capitalização do grupo:

- A Eletrobras terá que ser capitalizada, seja por meio do Tesouro ou por oferta de ações. O problema é que o mercado está fechado para ela. O próprio grupo já adiou uma emissão de debêntures que estava programada para este mês, no valor de R$ 2 bilhões, para o ano que vem.

Elétricas para segurar a inflação

A inflação alta é o pano de fundo da MP 579, que antecipa a renovação de contratos do setor elétrico. Da mesma forma como vem segurando o preço da gasolina nas bombas, causando prejuízo à Petrobras, o governo vai usar a conta de luz para ajudar o Banco Central no combate à alta dos preços. Por isso, contratos de geração, distribuição e transmissão de energia que venceriam entre 2015 e 2017 serão antecipados para janeiro de 2013. As empresas não esperavam por essa mudança - a MP é de 11 de setembro, tem pouco mais de 60 dias - e trabalhavam com os prazos originais. Esse calendário apertado tem gerado insegurança e provocado volatilidade nas bolsas.

MAU SINAL. A projeção para o PIB brasileiro de 2013 caiu abaixo de 4% pela primeira vez na pesquisa Focus, feita pelo BC. Foi a 3,96%. Já a estimativa para a produção industrial parece otimista demais: alta de 4,15%. Se a indústria decepcionar novamente, no ano que vem, o PIB cairá junto.

Dever de casa feito. A troica conferiu as contas de Portugal e o país vai, sim, receber mais uma parcela do resgate, no valor de € 2,5 bilhões. Não foram poucos os esforços feitos pelos portugueses.

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