Cortinas de ódio. Os muros que dividem o mundo

Feitos para proteger ou para conquistar, hipertecnológicos ou produzidos com areia e latões de lixos, superados pela história ou ainda em construção: são os muros, muitas vezes manchados de sangue, que separam povos, cidades e nações

Feitos para proteger ou para conquistar, hipertecnológicos ou produzidos com areia e latões de lixos, superados pela história ou ainda em construção: são os muros, muitas vezes manchados de sangue, que separam povos, cidades e nações
Feitos para proteger ou para conquistar, hipertecnológicos ou produzidos com areia e latões de lixos, superados pela história ou ainda em construção: são os muros, muitas vezes manchados de sangue, que separam povos, cidades e nações (Foto: Luis Pellegrini)


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Por: Luis Pellegrini

 

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Difícil esquecer. A casa onde nasci e passei a infância, em São Carlos, no interior de São Paulo, tinha um quintal enorme, cheio de árvores de fruta. Confinava diretamente com o quintal do vizinho, tão grande quanto, sem nenhuma cerca divisória. Ao redor dos meus seis anos de idade, os dois quintais juntos representavam para mim uma floresta virgem, um inteiro universo repleto de aventuras, de mistérios a serem descobertos, de jabuticabas, romãs, uvas e uvaias, todas ali, penduradas em suas árvores como enfeites de Natal, prontas para serem degustadas. Sem falar nos cachorros e gatos, nas galinhas, inclusive aquelas de Angola, no peru, no pato e no coelho, e na miríade de insetos que povoavam  em total liberdade de movimentos aquele Éden infantil onde eu passava os meus dias.

Tudo terminou quando, sem querer, quebrei um dos bebedouros de barro das galinhas do quintal ao lado, provocando a fúria da vizinha. Dois dias depois meu paraíso natural despedaçou, dividido ao meio. A vizinha chamou meia dúzia de homens, e um muro bem alto começou a ser levantado. Estava pronto em uma semana e assinalou, como assinalam todos os muros, a perda da visão integrada de mundo e de sociedade humana que eu, como toda criança inocente, carregava em mim desde o nascimento.

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Um quarto de século após a queda do Muro de Berlim (9 de novembro 1989) ainda existem no mundo dezenas de milhares de quilômetros de muralhas de cimento e armame farpado que, em plena era da globalização e da informática, cortam como uma navalha países, territórios, famílias e inteiras populações.
Muros construídos para proteger e muros feitos para conquistar, barricadas de cimento e barreiras de arame farpado, de caráter racista, religioso, econômico ou político. 
Erigidos para defender fronteiras, anexar territórios, combater a imigração e o terrorismo, todos eles possuem pelo menos um ponto em comum: dividem o mundo e impedem o antigo sonho da sua integração.


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A queda do Muro de Berlim

A 9 de novembro 1989 caia o Muro de Berlim: uma data que entrou na história e que assinalou no modo mais espetacular o final do período denominado de “pós-guerra”, possibilitando a reunificação da Alemanha. 
Considerado o emblema mais explícito da cortina-de-ferro – a linha de fronteira que durante a Guerra Fria dividia não apenas Berlim e a Alemanha, mas a inteira Europa entre a zona de influência soviética e a zona de influência norte-americana. Era o “Muro da Vergonha”, universalmente conhecido e símbolo da história mundial.
Criado pelo regime comunista da Alemanha Oriental para conter o grande fluxo migratório que desde 1949 tinha levado mais de 2 milhões de alemães orientais e a se transferir para a zona ocidental, o muro foi construído numa única noite, entre 12 e 13 de agosto de 1961.
A fronteira de 155 quilômetros que dividia em duas a cidade era fortificada por duas barreiras paralelas de concreto armado separadas no assim chamado “corredor da morte”: uma faixa com algumas dezenas de metros de largura cercada de arame farpado pelo qual corria uma corrente elétrica de alta tensão. Durante os 28 anos de divisão da cidade, cerca de 100 mil berlinenses orientais tentaram atravessar a barreira. Dentre eles, pelo menos 150 morreram na tentativa.
Hoje, do Muro de Berlim restam apenas curtos trechos de concreto armado recobertos de murais e grafitis, a Porta de Brandenburgo, o Check Point Charlie e os numerosos recantos dedicados à memória – todos eles símbolos indeléveis daqueles anos traumáticos que atraem, todos os anos, milhares de turistas. Foto: Atlantide Phototravel

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A imensa Muralha da China

A construção de muros e muralhas com finalidades defensivas remonta à noite dos tempos quando, para proteger o próprio povo e seus territórios de possíveis invasores, os imperadores construíam grandes barreiras de pedra capazes de conter os exércitos inimigos. Por sua grandiosidade e antiguidade, a Grande Muralha da China é a barreira defensiva por excelência em toda a história da humanidade. Trata-se de uma gigantesca construção murada realizada no século 3 antes de Cristo, no reinado do imperador Chin Shih-Huang-Ti, com o objetivo de proteger os confins setentrionais do reino das tribos mongóis e fazer a ligação de uma série de fortalezas.
Este, que é o muro mais longo do mundo, corre do golfo de Liao-Tung até o Tibete, delineando o limite setentrional da China. A altura da muralha varia de 4,5 metros a 12 metros, e sua largura média é de 9,5 metros. Mas qual é o seu comprimento? Até poucos anos atrás acreditava-se que fosse de cerca 6.350 quilômetros, mas mensurações mais acuradas feitas em 2009, usando tecnologias mais avançadas (GPS, raios infravermelhos) elevaram essa cifra a 8.851,8 quilômetros, cerca de 2.500 quilômetros a mais com relação à estimativa precedente. Mas a coisa não termina aí: novas medidas atualmente em curso sugerem que essa imensa serpente de pedra tinha na verdade 21.196 quilômetros de comprimento!

 

O muro fortificado de Adriano

Dentre os muros que marcaram a história antiga destaca-se também o Muro de Adriano, uma fortificação em pedra construída na primeira metade do século 2 depois de Cristo por ordem do imperador romano Adriano, com o objetivo de defender os confins setentrionais do Império Romano na Bretanha.
Com comprimento de 173 quilômetros, 5 metros de altura e 3 metros de largura, a fortificação se estendia de Wallsend-on-Tyne, no mar do Norte perto de Newcastle, até Bowness on Solway, no mar da Irlanda, dividindo de fato a ilha em duas partes. 
De imponente muralha defensiva, ela se transformou no decorrer dos séculos em atração turística – a principal do norte da Inglaterra. A Roman Wall (muralha romana) resistiu até os nossos dias: uma boa parte dela, particularmente a zona central, é até hoje bem visível. Declarado patrimônio da humanidade em 1987 pela Unesco, longos trechos da muralha podem ser ladeados a pé.

 

Quando os muros crescem: Belfast e as Peace Lines

O que seria de Belfast, a capital da Irlanda do Norte, sem os seus muros? Barreiras de concreto e alvenaria, em placas metálicas, simples paliçadas ou feitos de arame farpado: são as Peace Lines (linhas de paz) da Irlanda do Norte, barreiras construídas a partir dos anos setenta que até hoje mantêm divididas a comunidade católica da comunidade protestante. Aparentemente ninguém tem a intenção de acabar com elas. 
Enquanto na maior parte do resto do mundo comunidades inteiras se manifestam a favor da derrubada dos assim chamados “muros da vergonha”, em Belfast não apenas ninguém pensa em tocar os muros existentes considerados indispensáveis pela maior parte da população, mas, inclusive, aqueles existentes continuam a crescer e novos muros são erigidos, agora decorados com murais cada vez maiores e mais coloridos. 
Inúmeras aberturas nessas muralhas possibilitam a comunicação e o trânsito entre as duas comunidades, mas apenas durante o dia. À noite elas são fechadas pela polícia. Nem os protestantes nem os católicos querem permanecer “do outro lado” após o cair do Sol. Imagem: Frederic Soltan

 

Califórnia dreams

De um lado a rica San Diego, na Califórnia, do outro a poeirenta cidade mexicana de Tijuana. No meio, uma barreira de aço com 3 metros de altura e 22 quilômetros de extensão, equipada com sensores elétricos, torres de radar, telecâmeras com raios infravermelhos para a visão noturna, iluminação de altíssima intensidade, sismógrafos que controlam qualquer movimento no solo, arame farpado além de um sistema permanente de vigilância com veículos e helicópteros armados. Essa imponente barreira de segurança entre os Estados Unidos e o México, que os norte-americanos chamam de “Muro Mexicano” e os mexicanos de “Muro da Vergonha”, teve origem em 1994, quando algumas cidades fronteiriças da Califórnia, Arizona, Texas e Novo México começaram a tomar providências para conter a imigração clandestina proveniente do México. 
Hoje, dos 3.140 quilômetros de fronteira entre o Oceano Pacífico, na Califórnia, e o Golfo do México, no Texas, cerca de 1.100 quilômetros são protegidos por essa barreira que se estende não apenas nas áreas urbanas mais vulneráveis, mas também no deserto e inclusive dentro do mar. Foto: Danny Lehman

 

Capital pela metade

Nem todos os muros que dividem o mundo são imponentes e super tecnológicos: uma simples barricada de tambores de metal, sacos de areia, arame farpado e detritos de construções podem se tornar uma barreira insuperável com fundações extremamente sólidas, a tal ponto que conseguem manter uma inteira ilha dividida há quase 40 anos. 
Logo depois da invasão turca em 1974, Chipre foi dividida em duas pela assim chamada “linha verde”, uma estreita zona desmilitarizada controladas pelos “capacetes azuis” das Nações Unidas. Essa linha separa a República de Chipre da República Turca de Chipre, ainda hoje ocupada por tropas da Turquia. Os 180 quilômetros de muro que cortam a ilha de leste a oeste passando pela capital Nicosia são de fato controlados apenas pelos turco-cipriotas, já que os gregos-cipriotas não reconhecem essa fronteira, assim como nenhum outro país, à exceção da Turquia, reconhece a República Turca de Chipre. 
Foi exatamente em Chipre que foi criada a expressão “linha verde”. Corria o ano de 1964 quando o general Peter Young, comandante das forças britânicas estacionadas na ilha traçou, no mapa de Nicosia, uma linha feita com um lápis verde para separar os bairros grecos dos bairros turcos, que já na época começavam a entrar em conflito.
Em 2003 foram abertos pela primeira vez algumas passagens para permitir o tráfego de um lado para outro da ilha. Apenas em 2008 ocorreu a simbólica abertura de uma porta exatamente no centro histórico de Nicosia. Ela vai da Rua Ledra, na parte grega, até a Rua Lokmaci,m na parte turca. Imagem: Maurizio Gambarini/dpa

 

Novos muros, velhas feridas

As antigas feridas entre Grécia e Turquia permanecem abertas, e não apenas em Chipre. Exatamente agora uma nova e imponente barreira de fossos e arame farpado está sendo erguida. Ela será um verdadeiro muro anti-imigrantes na fronteira greco-turca às margens do rio Evros (Maric, em turco). Foi decidida pelo governo de Atenas para conter a onda de imigrantes clandestinos provenientes da Turquia e que querem atravessar a Grécia em direção a outros países da Europa. O efeito dessa nova muralha será afastar ainda mais os dois países da estrada do diálogo e do entendimento. Essa muralha, da qual o primeiro trecho está praticamente pronto, se estenderá por 150 quilômetros e conterá inclusive um fosso com 120 quilômetros de comprimento, 30 metros de largura e 7 metros de profundidade, cheio de água.
Imagem: Stringer

 

Ceuta e Melilla, as portas fechadas da Europa na África

Seis metros de arame farpado separam a África da Europa. Há mais de cinco séculos, com efeito, Ceuta e Melilla são dois enclaves espanhóis em território marroquino. O primeiro encontra-se em posição estratégica sobre o Estreito de Gibraltar e o outro está na costa oriental do Marrocos. Para milhares de pessoas que fogem de guerras, fome e miséria que afligem o continente africano, as duas cidades constituem a tão ambicionada porta africana para se entrar na Europa. 
Exatamente para bloquear os fluxos de imigração clandestina, no final dos anos 90 as barreiras já existentes foram substituídas com uma dupla fila de cercas de arame farpado eletrificado. Essas cercas abraçam inteiramente os dois enclaves espanhóis, separando-os do resto do Marrocos. Lunga 8 quilômetros em Ceuta e 12 quilômetros em Melilla, com duas filas separadas de redes metálicas entre as quais corre uma estrada patrulhada dia e noite e vigiada com sensores eletrônicos especiais e telecâmeras a raios infravermelhos, esses muros metálicos têm altura de pouco mais de 3 metros. Trabalhos estão sendo executados, no entanto, para elevá-los a 6 metros de altura.
Imagem: Rafael Marchante/Reuters

 

A divisão do 38° paralelo

Embora não se tratando de um muro real e concreto, a barreira do 38o paralelo entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul é uma das divisórias mais tristemente famosas do mundo na atualidade.
Aquela que, na sua origem, assinalava a linha de separação entre as zonas de ocupação soviética e de ocupação norte-americana na Coreia, tornou-se, em 1948, a linha do 38O paralelo, ou seja, a nova fronteira entre as recém surgidas nações coreanas do Norte e do Sul. Trata-se de uma faixa de terra com um comprimento de 246 quilômetros, e larga cerca de 2 quilômetros,  que divide 122 aldeias, 240 estradas rodoviárias, ferrovias, rios e cerca de um milhão de famílias. 
Essa barreira é o último resíduo da guerra fria, o limite entre os dois países. Ela é, por sua vez, protegida pela “Zona Desmilitarizada Coreana”, um longo corredor de terra que se extende entre as fronteiras das duas nações. Apesar do seu nome, essa faixa é conhecida como a fronteira mais fortemente armada em todo o mundo.
Ao longo dessa terra-de-ninguém, repleta de minas enterradas, delimitada por altas cercas de arame farpado e vigiada por mais de mil postos de guarda, cerca de 2 milhões de soldados com armamentos convencionais e nucleares permanecem frente-a-frente há mais de meio século. Eles existem numa constante situação de cessar-fogo, já que nunca foi assinado um tratado de paz. Com efeito, até hoje, as duas Coreias estão formalmente em estado de guerra. Foto: Jacky Chen/Reuters

 

As mil e uma muralhas de Bagdá

Ao contrário de Berlim ou de Chipre, em Bagdá, capital do Iraque, não existe “o” muro, mas sim vários muros e barreiras de concreto que representam, no momento, as construções urbanas mais na moda. Há muros ao redor das mesquitas, dos hotéis, dos hospitais, das cidades-fortalezas, há muros nas margens do rio, muros que separam as duas pistas das ruas destinados a conter os danos e a poupar vidas no caso de atentados-kamikaze, muros que separam as comunidades sunita e xiita. 
Aos restos das muralhas construídas nos tempos da ditadura que circundabam os palácios do governante, progressivamente foram se juntando os muros desejados pelos americanos e seus aliados, a partir da muralha que circunda a “zona verde”, a área fortificada que hospeda as sedes das instituições iraquianas e a embaixada dos Estados Unidos. 
A conformação dos muros de Bagdá no decurso dos anos mudou bastante, na realidade dividindo a cidade em 11 grandes bairros-refúgios. Um deles é o de Adhamiya, cidadela sunita às margens do rio Tigre, e circundada por distritos xiitas como o de Sadr City, reino das milícias xiitas de Moqtada cercada por barreira de concreto armado altas 3 metros e meio e erigidas numa única noite logo após a queda do regime de Sadam Hussein. Imagem: Thaier al-Sudani/Reuters

 

Um muro de areia e de minas

Difícil acreditar que um muro de areia possa repelir o inimigo e defender um território com a mesma eficácia de um muro de cimento ou de arame farpado. No entanto, é exatamente isso que faz o Muro Marroquino que, desde 1982, divide em dois o Saara Ocidental. 
Desejado pelo rei Hassan para defender o rico território ocupado pelo Marrocos a partir de 1975, no qual se concentram todas as riquezas saarianas (as minas de minerais e fosfatos, as jazidas petrolíferas e a costa muito piscosa), o muro é composto de 8 fortificações distintas que se estyendem por mais de 2.700 quilômetros com uma altura que varia de 1 a 30 metros. Trata-se de uma zona militar cheia de bunkers, trincheiras e escavações, radar e sistemas de alarme eletrônico capazes de acionar automaticamente uma imponente potência de fogo com a intervenção de blindados em caso de ataque por parte da Fronte Polisario. Ao redor, de ambos os lados, um imenso campo minado figura na lista macabra dos dez lugares no mundo com a mais alta concentração de minas anti-homem.

A construção desse muro em seis grandes segmentos sucessivos reduziu drasticamente a capacidade ofensiva da Polisário, abrindo de fato a via da aceitação do plano de paz de ONU (1988) e a trégua de 1991. O povo saarauí, originário dos território ocupados pelo Marrocos, depois de ter combatido uma longa guerra pela reconquista das próprias terras, desde 1991 optou por uma postura de não-violência, continuando a viver até hoje em campos de refugiados situados em território argelino. Imagem: Andrea Comas/Reuters

 

Um Kashmir dividido em três

Um inteira região a ser dividida entre três pretendentes é certamente uma questão delicada para resolver, tanto a nível diplomático quanto militar. E quando os contendentes se chamam China, Índia e Paquistão e o território é o do Kashmir, a situação fica mesmo dramática. Os confins atribuídos pelas Nações Unidas nunca foram reconhecidos por nenhuma das três partes em disputa. Cada uma delas reivindica para si a totalidade do território. Apenas a China se declara satisfeita em manter apenas a área que atualmente ocupa.
A histórica rivalidade entre a Índia e o Paquistão, que remonta aos tempos coloniais quando, em 1947, o Império Britânico abandonou a Índia e os dois estados dividiram entre si os territórios, já causou, ao longo dos anos, a morte de centenas de milhares de pessoas. Mas elas não pereceram apenas durante os combates: as inúmeras minas indianas e paquistanesas colocadas da barreira de arame farpado que assinalam a “Linha de Controle” entre o estado indiano de Jammu e Kashmir e o estado paquistanês do Azad Kashmir provocam vítimas fatais quase a cada dia.
Fora da região do Kashmir, outros 3.300 quilômetros de barreira metálica encimada por arame farpado e patrulhada por guardas armados assinalam a fronteira entre a Índia e o Paquistão. O objetivo, oficialmente, é sempre o mesmo: impedir a imigração clandestina e refrear o terrorismo, os traficantes de drogas e os mercadores de armas. Imagem: Mukesh Gupta/Reuters

 

Cortina de ferro e sangue

Nenhum muro existe entre a Índia e o Bangladesh, mas uma interminável barreira metálica corre ao longo da inteira  fronteira, uma barreira de ferro e arame farpado longa 4.053 chilometri e patrulhada por guardas com ordem de atirar em qualquer um que tente atravessá-la. Iniciada há 26 anos, sua construção deveria terminar neste ano, com um custo final de cerca um bilhão de dólares. 
Apesar das relações outrora amigáveis entre os dois países, para a Índia essa barreira militarizada e sangrenta se justifica pela necessidade de se proteger contra o terrorismo islâmico, a imigração ilegal e as possíveis ondas de refugiados no caso da ocorrência de catástrofes naturais. Elas assolam com frequência a região do Bangla Desh e são cada vez mais frequentes e prováveis devido às mudanças climáticas. A cada ano, cerca de 200 pessoas são mortas pelos guardas indianos ao tentar atravessar a barreira. Do ponto de vista dos bangladeshinos, essa barreira de ferro e morte foi criada para mantê-los distantes da Índia, país que protege a riqueza recém conquistada. Imagem: Jayanta Shaw/Reuters

 

Os baluartes israelenses

Os muros em Israel crescem e se tornam cada vez mais tecnológicos. Remonta ao ano 2002 a construção da discutida “barreira de segurança” com a Cisjordânia: com os seus 730 quilômetros de reticulado e concreto que serpenteiam por entre os bairros de Jerusalém e de Belém, ela prossegue por mais de 85% no interior do território palestino e apenas 15% ao lado da linha de fronteira. Nascido inicialmente com a intenção de separar o Estado Hebraico dos Territórios da Cisjordânia para protege-lo de possíveis ataques terroristas, esse muro com altura de 8 metros penetra, na verdade, muito além da “Linha Verde” instituída pela ONU em 1967. Ele de fato cria ilhas palestinas no interior do território israelense. Por tais motivos, em 2004 esse muro de Israel foi julgado “contrário ao direito internacional” pela Corte de Justiça das Nações Unidas. 
A construção de outras duas barreiras remonta, em vez disso, há poucos meses atrás: uma delas, alta entre 3 e 5 metros e longa alguns quilômetros, reforçará aquela que já existe ao longo do confim com o Líbano, para a proteção da cidade israelense de Metulla, que é algo frequente de livre-atiradores libaneses. Ao sul, em vez disso, ao longo do confim com o Egito, o exército israelense está levantando 240 quilômetros de barreira dotada de um moderno sistema de telecâmeras e sensores de vibração que, pelo menos no papel, deverão desencorajar a imigração ilegal e controlar o contrabando proveniente do deserto. Imagem: Frederic Soltan/Corbis

 

Um muro para as recordações

Entre tantos muros erigidos para assinalar confins, divisões, velhas cicatrizes ou feridas abertas, existem outros que, em vez de dividirem, unem as pessoas e os povos de raças, religiões, etnias e orientações políticas diversas. São os muros da memória, símbolos necessários para recordar um passado que não deve ser cancelado.
O mais antigo e celebrado deles é certamente o Muro das Lamentações ou Muro do Pranto, em Jerusalém. Há milhares de anos ele representa o centro do mundo para as três religiões monoteístas. 
Ele é um trecho que restou da imensa muralha construída por Herodes o Grande ao redor da esplanada no alto do Montte Moriá. Ali, judeus, cristãos e muçulmanos se encontram para rezar todos juntos, embora por razões diversas. Para os judeus, ele representa o ponto mais sagrado da Terra, no qual é possível aproximar-se de Deus como em nenhum outro lugar do mundo; para os cristãos, é o lugar onde surge a Basílica do Santo Sepulcro de Cristo; para os muçulmanos, o local é sagrado por causa da viagem espiritual realizada por Maomé montado no cavalo alado de nome Al-Buraq. Imagem: Ammar Awad/Reuters

 

 

 

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