Burka, hijab, niqab. Diferentes véus para cobrir o rosto das mulheres

Respeitados pelos muçulmanos, proibidos na França, detestados pelas feministas, mas sobretudo pouco conhecidos. São os tecidos que cobrem a cabeça, o corpo e às vezes o inteiro rosto das mulheres nos países islâmicos

Respeitados pelos muçulmanos, proibidos na França, detestados pelas feministas, mas sobretudo pouco conhecidos. São os tecidos que cobrem a cabeça, o corpo e às vezes o inteiro rosto das mulheres nos países islâmicos
Respeitados pelos muçulmanos, proibidos na França, detestados pelas feministas, mas sobretudo pouco conhecidos. São os tecidos que cobrem a cabeça, o corpo e às vezes o inteiro rosto das mulheres nos países islâmicos (Foto: Luis Pellegrini)


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Por: Luis Pellegrini

Fonte: www.luispellegrini.com.br

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Fui oito vezes ao Afeganistão, no início da década de 1970, para comprar artesanatos destinados às prateleiras da Bugiganga, loja que criei em Roma, situada à Via della Scala 27, no bairro de Trastevere. Em todas as viagens, sobretudo na capital, Cabul, nunca vi uma mulher descoberta. Apenas na última vez, a oitava, quando fui retirar dinheiro no Banco do Afeganistão e fui atendido por uma funcionária, uma belíssima morena de cabelos pretos grafite. Falava um inglês perfeito, com sotaque londrino. Acreditei que fosse do vizinho Paquistão, mas quando lhe perguntei a origem, respondeu: “Sou afegã, filha de diplomata, e fui educada na Inglaterra”. Mistério explicado, disse-lhe que ela era o primeiro rosto feminino que eu conhecera no Afeganistão. E a morena retrucou: “Então olhe bem para mim aqui dentro do banco, por que assim que eu for para a rua terei de usar a burka. É um nosso costume ancestral”

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O véu onipresente – Para alguns, o véu é um símbolo forte de identidade religiosa e cultural; para outros, uma forma de modéstia e de proteção da mulher; para outros ainda, a quintessência da sujeição feminina ao autoritarismo patriarcal masculino.

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Isso foi alguns anos antes da queda em 1973 do Rei Mohamed Zahir Shah, o último monarca afegão, da tragédia das guerras que vieram a seguir e do advento dos talibãs. E, não, a burka – uma espécie de capa que cobre o corpo inteiro da mulher, da cabeça aos pés, deixando apenas um rendilhado de crochê na altura dos olhos para que ela possa enxergar por onde caminha – não foi invenção desses guerrilheiros muçulmanos extremistas. A burka já era prática comum naquela região muito antes dos talibãs. O Rei Mohamed, soberano que fora educado na Itália e apreciava o Ocidente, começava uma campanha para abolir o costume da burka quando foi deposto pelos serviços secretos da Rússia e dos Estados Unidos. Os talibãs então chegaram e, no seu fanatismo, tornaram o seu uso pelas mulheres totalmente obrigatório.

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No Afeganistão, as mulheres das tribos nômades, embora muçulmanas, são mais livres e em geral não usam a burka.

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O véu não é privilégio das muçulmanas

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O hábito de cobrir a cabeça e pelo menos parte do rosto e do corpo das mulheres, na verdade, se inscreve em tradições que datam de antes do próprio Islã. Ele nem sequer é privilégio exclusivo dos muçulmanos. O uso do véu para mulheres era comum entre os judeus desde tempos imemoriais, segundo a Bíblia, e já existia entre os árabes antes do advento do Islã, no século 7 da nossa era. O próprio cristianismo herdou essa tradição, e até hoje faz parte do hábito da maior parte das freiras católicas. Sem falar nas mulheres de várias comunidades cristãs na Europa, especialmente na zona mediterrânea que, até há poucos anos, não saiam às ruas com a cabeça descoberta.

 

Na foto, atletas mulheres dos Emirados Árabes só podem praticar seus esportes totalmente cobertas.

 

O véu islâmico desperta opiniões diferentes por todo o mundo. No Irã, ele é obrigatório, mas na França, na Holanda e na Bélgica está proibido em lugares públicos. Na Europa, a França foi a pioneira na proibição, a Bélgica veio em seguida em 2011, e desde o ano passado, o governo holandês multa com 405 euros (cerca de R$ 1.400) o uso da burka ou do niqab – os véus que tapam completamente o rosto – no transporte coletivo, em escolas e prédios públicos. Desde o dia 1 de julho do ano passado, no município de Lago Maggiore, na Suíça, também é proibido cobrir o rosto completamente; não há uma menção direta, mas a lei inclui peças como a burka e o niqab. Na Espanha não há uma lei nacional, mas em pelo menos trinta cidades da Catalunha o uso do véu islâmico em espaços públicos já virou caso de tribunal.

O véu, agora, além de ter se tornado uma polêmica para os legisladores europeus, provoca certa confusão na sociedade ocidental, que se pergunta sobre a origem, o significado e as variações entre as diferentes vestimentas que cada vez se fazem mais presentes no cotidiano.

 

No Iêmen, as mulheres têm de se cobrir quase totalmente quando estão fora de suas casas. Mas não dispensam uma requintada decoração do véu.


Uma “cobertura”, ou “roupa que tapa”

Hijab é o termo geral, de origem árabe e por isso utilizado em todo o mundo islâmico, para designar o véu. Ele não se refere a uma peça específica. Hijab quer dizer “cobertura” ou “roupa que tape” e por este motivo os muçulmanos falam de “respeitar o hijab” para referir-se à lei de cobrir o corpo das mulheres. A ideia básica é cobrir os cabelos, mas em muitos lugares a prática se estendeu também ao inteiro corpo feminino.

Os muçulmanos da Índia, Paquistão e Afeganistão usam a palavra purdah (que quer dizer “cortina”) para referir-se ao mesmo conceito. Ou seja, o hijab não é um tipo de lenço ou touca, mas sim uma norma que depois se adapta a diversas formas, de acordo com a origem geográfica da população, a crença religiosa ou o ambiente cultural de quem o veste.

 

 

As peças são conhecidas no ocidente pelos nomes que recebem nestes diferentes lugares, sem que haja uma regra por escrito (nem no Corão, nem em qualquer outro lugar). Na verdade, o termo burka acabou tornando-se o mais popular para os véus integrais, embora esta palavra, nos países árabes do Golfo Pérsico, seja empregada para denominar as máscaras com que as mulheres cobrem tradicionalmente a cara (diferente dos véus que agora são conhecidos por serem utilizados pelas islâmicas, embora com o tempo, a palavra tenha passado a significar qualquer véu que cubra o rosto).

Os véus femininos, no mundo muçulmano, não são todos iguais. Esta é uma galeria com os principais modelos de véus. Cada um deles reflete diversas nuances culturais, geográficas e religiosas.

 

Hijab – Nos países ocidentais, tornou-se um termo genérico para indicar a cobertura da cabeça. No Corão, o hijab não é uma peça de vestuário, mas sobretudo um termo que indica alguma coisa que separa e garante privacidade, como uma tenda ou um biombo. Do ponto de vista prático, esta palavra indica um tipo de xale de vários estilos e cores, que cobre a cabeça e o pescoço, mas deixa o rosto descoberto. É o véu mais difundido entre as mulheres muçulmanas que vivem na Europa e em outros países não islâmicos.

 

 

Niqab –  É um véu que cobre a cabeça e o rosto, deixando uma faixa livre para os olhos. É muitas vezes usado junto com uma echarpe para a cabeça e uma roupa ampla para o resto do corpo. É o tipo de vestimenta mais difundida, em público, entre as mulheres da Arábia Saudita.

 

 

Burka – O mais integral dos véus islâmicos, cobre o corpo inteiro, da cabeça aos pés, inclusive os olhos, que permanecem invisíveis por detrás de uma rede de crochê. É usado sobretudo no Afeganistão, e representa uma interpretação absoluta que deita suas raízes em motivos de ordem cultural e social: no Corão não existe nenhuma referência à obrigatoriedade do uso da burka. Em Cabul, a maior parte das burcas é azul, mas em outras partes do Afeganistão, bem como do Paquistão, podem ser vistas burcas verdes, marrom ou brancas.

 

 

Chador – No Irã, essas peças de tecido são usadas há séculos pelas mulheres. Elas passam sobre a cabeça e envolvem todo o corpo, mas são geralmente mantidas fechadas com o uso de uma das mãos, como se fossem chalés ou mantos. O chador é usado apenas fora de casa e é quase sempre de cor negra, sobretudo para as mulheres casadas ou idosas.

 

 

Jilbab – O termo mencionado no Corão se refere ao ato genérico de cobrir-se e não a um indumento específico. Na Indonésia, o jilbab se refere a um tipo de vestimenta que cobre a mulher da cabeça aos pés, como no caso das garotas da foto. Mas em outros países, como os do norte da África ou na Península Árabe, o jilbab é uma túnica que se usa em combinação com o niqab ou o hijab.

 

 

Abaya – De uso difuso sobretudo na Arábia Saudita e em algumas parte da África do Norte, esse tipo de roupagem feminina preconiza roupas largas, não justas, geralmente de cor negra, como os cafetãs, que deixam descobertos apenas os pés, as mãos e o rosto. Se veste em combinação com o niqab ou o hijab.

 

 

Al-amira – Trata-se de um véu em duas peças. Uma delas é uma touca apertada e colada à cabeça, em algodão ou poliéster. A segunda peça (como se vê na foto) é uma espécie de xale que recobre a cabeça, o pescoço e os ombros, e circunda o rosto.

 

 

Shayla – É uma longa echarpe retangular, muito popular na região do Golfo Pérsico. Usada ao redor da cabeça, e fixada no nível das costas, ou logo acima delas. A palavra deu origem ao termo xale, usado no Ocidente.

 

 

Khimar – Junto ao hijab e ao jilbab, é o terceiro termo árabe mencionado no Corão. Refere-se a qualquer indumento que promova o pudor, protegendo a mulher dos olhares de desconhecido. Em termos práticos, é um longo véu que recobre os cabelos, o pescoço e os ombros e chega até a altura da cintura. É usado no Oriente Médio, e pode ser de diferente cores.

 

Glamour – Nem todas as mulheres que usam algum tipo de véu são obrigadas a fazê-lo. Isso é particularmente verdadeiro nos países ocidentais, nos quais muitas mulheres vestem hijab com estilo moderno. Uma mesma peça, como se pode ver no gráfico, pode assumir formas muito diversas. Além disso, apesar das polêmicas que desperta, a moda islâmica vende muitíssimo, tanto é que marcas importante como H&M e Dolce & Gabbana propõem artigos de moda islâmica.

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