Conheça Galeazzi, o homem por trás dos cortes da RBS

Cláudio Galeazzi foi contratado pela família Sirotsky para salvar a Rede Brasil-Sul de Comunicação da crise; em 2012, o caixa do jornal sofreu uma abrupta queda de publicidade, com uma margem de redução de até 50%; o comando da RBS se assustou porque é a divisão de oito jornais impressos que dá o caixa para sustentar o resto da empresa; em agosto, Eduardo Meltzer enviou uma carta a seus funcionários anunciando 130 demissões; leia no relato de Luiz Claudio Cunha

Cláudio Galeazzi foi contratado pela família Sirotsky para salvar a Rede Brasil-Sul de Comunicação da crise; em 2012, o caixa do jornal sofreu uma abrupta queda de publicidade, com uma margem de redução de até 50%; o comando da RBS se assustou porque é a divisão de oito jornais impressos que dá o caixa para sustentar o resto da empresa; em agosto, Eduardo Meltzer enviou uma carta a seus funcionários anunciando 130 demissões; leia no relato de Luiz Claudio Cunha
Cláudio Galeazzi foi contratado pela família Sirotsky para salvar a Rede Brasil-Sul de Comunicação da crise; em 2012, o caixa do jornal sofreu uma abrupta queda de publicidade, com uma margem de redução de até 50%; o comando da RBS se assustou porque é a divisão de oito jornais impressos que dá o caixa para sustentar o resto da empresa; em agosto, Eduardo Meltzer enviou uma carta a seus funcionários anunciando 130 demissões; leia no relato de Luiz Claudio Cunha (Foto: Roberta Namour)


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Luiz Claudio Cunha, especial para o Jornal Já

Está identificado, com nome, sobrenome e endereço, o espírito que há meses assombra com cortes e demissões a RBS, o maior grupo de mídia do sul do país, a 27ª empresa no ranking das 100 maiores do Rio Grande do Sul.

Não é nenhum dos jovens executivos barbudos da família Sirotsky que fundou e comanda a Rede Brasil-Sul de Comunicação desde 1957. O artífice que modela a nova RBS é Cláudio Galeazzi — um senhor de 74 anos e sorriso rasgado, cara limpa e cabelos quase brancos, 1m84 e 92 kg de um corpo massudo modelado pelo exercício disciplinado do halterofilismo —, reconhecido nos principais círculos econômicos do Rio e São Paulo, respeitado entre os grandes empresários brasileiros e disputado por empresas em crise que o veneram como o temido Galeazzi Mãos de Tesoura.

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Com mais de 150 projetos de salvação empresarial no portfolio da consultoria Galeazzi & Associados que fundou em São Paulo, em 1995, Cláudio teve passagens triunfais (para os patrões) e traumáticas (para os empregados) no comando temporário de gigantes como os grupos Pão de Açúcar, Vulcabrás/Azaleia, Lojas Americanas, Artex, Cicrisa, Vila Romana, entre outros. Na coronha de seu revólver de serial killer de empregos, na conta sinistra da revista Época Negócios, estão registradas até janeiro de 2008 mais de 20 mil demissões — o triplo dos 6,5 mil funcionários hoje sobressaltados da RBS.

Cláudio Eugênio Stiller Galeazzi não ganhou fama pela ficção de Holywood, mas pelos cortantes resultados de eficiência gerencial, redução de custos e otimização de lucros que o tornaram uma lenda da vida real das empresas estressadas por balanços avermelhados e deslizamentos de receita. Era inevitável que Galeazzi e a RBS acabassem, um dia, se encontrando.

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Essa convergência começou a se desenhar em 2011, quando acendeu a luz vermelha no comando da família Sirotsky. Estudos internos e sigilosos realizados por um executivo do grupo em Santa Catarina, Marcos Barbosa, indicaram que o jornal Zero Hora, nau-capitânea da frota da RBS, sofreria um grave abalo estrutural nas receitas a partir de 2018, açoitado pelas ondas cruzadas da queda de anunciantes, fuga de leitores e custos crescentes do papel, tudo isso potencializado no mar tormentoso da internet.

A CARTA-BOMBA

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Essa tragédia anunciada acabou se antecipando em seis anos. Em 2012, o caixa do jornal sofreu uma abrupta queda de publicidade, com uma margem de redução de até 50%. O comando da RBS se assustou porque é a divisão de oito jornais impressos que dá o caixa para sustentar o resto da empresa. O solavanco, desconhecido até para o público interno da empresa, habituada às notícias sucessivas de auto-louvação sobre sua pujança e modernidade, veio no momento crítico de troca de descendência no poder.

Em 2012 aconteceu a transição da segunda para a terceira geração dos Sirotsky. Nelson, filho do patriarca Maurício Sirotsky Sobrinho (1925-1986), passou o comando executivo da RBS para o sobrinho de 40 anos, Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda, filho de sua irmã Suzana, a primogênita de Maurício. Na cadeira de presidente-executivo, o inexperiente Duda enfrentaria emoções nunca antes vividas pelo avô e pelo tio, seus antecessores no cargo.

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As receitas continuaram piorando no início de 2013 e o susto virou preocupação. Em julho daquele ano, consolidada a ideia de contratar uma consultoria externa para reorientar a RBS, começou a ser sussurrado ali um nome sonoro e desconhecido até pelos altos executivos da casa: um certo Cláudio Galeazzi. Os primeiros encontros reservados dele com Nelson e Duda Sirotsky aconteceram na sede da consultoria, que ocupa o sétimo andar de um prédio na avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, endereço nobre de alguns dos executivos e empresas mais destacados em São Paulo.

Ali, o trio selou a parceria, remunerada por uma taxa de sucesso sobre os resultados obtidos. Discreto, o consultor não foi visto uma única vez na sede da RBS em Porto Alegre, mas ficou clara sua entrada na vida do grupo. Sem aparecer, sem circular pelo QG dos Sirotsky no sul, Galeazzi despachou para lá um grupo pequeno de assessores para fazer o raio-X e agir sobre os problemas que rondam a empresa. Pelo que se sabe do contrato, a equipe de Galeazzi vai assombrar os corredores da RBS até meados de 2015.

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A lâmina fria de Galeazzi Mãos de Tesoura mostrou publicamente o seu fio agudo numa segunda-feira, 4 de agosto passado, pela voz do próprio Duda Sirotsky, em uma das mais desastradas operações de Relações Públicas na história empresarial brasileira. Ele falou aos funcionários numa vídeoconferência e, no mesmo dia, reafirmou o que disse numa carta de duas páginas que pode ser definida como uma autêntica ‘carta-bomba’ — pela sangria na plateia, pelo estrondo na opinião pública e pelas feias cicatrizes na face da RBS como uma empresa moderna, pujante, vencedora, imune a crises e ao amadorismo no ofício da comunicação.

Nas 102 linhas confusas de sua ‘carta-bomba’, Duda fala cruamente em demissões, nega uma crise financeira, anuncia a quebra de paradigmas e conclama seus assustados ‘caros colegas’ — como diz no início de sua bombástica missiva — a imitar a RBS e a apostar no borbulhante mundo dos etílicos. Escreve Duda:

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Ampliamos a operação da Wine, que já é a maior empresa de vinhos online do mundo, tanto que estamos agora preparando sua entrada no mercado internacional. E muitos de vocês que já são sócios da Wine agora poderão também ser da Have a Nice Beer, o maior clube online de cervejas da América Latina, que está vindo para o Grupo.

Tudo isso em um texto que, apesar de sua catatonia, trai as novas prioridades do maior grupo de comunicação do sul do País. A palavra ‘jornalismo’ tem uma única citação, assim como ‘leitor’, enquanto fala três vezes em ‘digital’, duas em wine e outras três em ‘vinho’, ‘cerveja’ e beer. O trecho mais espantoso é o sétimo parágrafo, onde Duda, com a inclemência dos profetas, anuncia o apocalipse:

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Teremos uma semana intensa pela frente, pois na quarta-feira faremos cerca de 130 demissões, de um universo de 6 mil pessoas, com o objetivo de buscar produtividade e maior eficiência. São cortes que precisam acontecer, principalmente na operação dos jornais. Não estou de forma alguma insensível ao impacto que demissões geram na vida das pessoas e da própria empresa, porém acredito que tanto os profissionais quanto as empresas precisam repensar o modo como atuam.

O MARINHO DO SUL

Traduzindo. Duda antecipou na segunda-feira, 4, as demissões que só nomearia na quarta-feira, 6, ignorando o velho brocardo do sábio florentino Nicolau Maquiavel (1469-1527): “Quando fizer o bem, faça-o aos poucos. Quando for praticar o mal, faça-o de uma vez só”. O estabanado anúncio do principal executivo da RBS impôs durante 48 horas um clima de aflição sobre uma comunidade de 6,5 mil funcionários, angustiados pela desinformação sobre os nomes dos 130 iminentes demitidos.

O grau de angústia poderia ser imaginado em Brasília se a presidente Dilma Rousseff reunisse seus 39 ministros na segunda-feira para anunciar que, dois dias depois, 10 ou 15 deles seriam demitidos, sem anunciar ainda seus nomes. O espectro de crueldade que dominaria a Esplanada dos Ministérios, com certeza, pode ser comparado ao que vislumbraram os ‘caros colegas’ de Duda, que a revista Forbes coroou como “o Marinho do Sul”.

A ligação do clã Sirotsky com o clã Marinho está no DNA do grupo e explica seu sucesso. A TV Gaúcha — a primeira das 18 emissoras da RBS que hoje compõem a maior afiliada da Rede Globo no Brasil — foi inaugurada em Porto Alegre num dia quente de dezembro de 1962, quando o avô de Duda, Maurício Sirotsky, recebeu em festa o presidente João Goulart e o governador Leonel Brizola. No início, a parceria da Gaúcha era com a pequena TV Excelsior, até que Maurício deu em 1967 o pulo do gato, fazendo então o realinhamento empresarial mais saudável de sua vitoriosa carreira.

Maurício sintonizou sua emissora com os novos tempos da ditadura instaurada três anos antes e se alinhou aos generais que derrubaram o mesmo Jango que suava em bicas no estúdio da sua TV Gaúcha naquele tórrido verão porto-alegrense. A nova e refrescante parceria de Maurício passou a ser com Roberto Marinho, que um ano após o golpe de 1964 fundou a TV Globo, embrião do império global que nasceu e prosperou à sombra frondosa dos generais. Marinho arrastou para o alto a RBS, sua nova parceira sulista (leia mais).

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