Dívida gaúcha domina debate entre Tarso e Sartori

Candidato ao governo do estado, José Ivo Sartori (PMDB) acusou seu adversário, o atual governador Tarso Genro (PT), de aumentar a dívida estadual em R$ 12 bilhões e que não conseguiu renegociá-la; petista reconheceu que a situação financeira do Estado "é séria e complicada"; "Meu problema é saber o que senhor propôs e o senhor não consegue responder por uma tática que não quer assumir compromissos", contra-atacou; ambos os postulantes também falaram sobre saúde e o piso salarial dos professores       

2014.10.23 - Porto Alegre/RS/Brasil - Último debate das Eleições 2014 entre Tarso Genro, do PT, e José Ivo Sartori, do PMDB, para o Governo do Estado, na RBS TV. | Foto: Ramiro Furquim/Sul21.com.br
2014.10.23 - Porto Alegre/RS/Brasil - Último debate das Eleições 2014 entre Tarso Genro, do PT, e José Ivo Sartori, do PMDB, para o Governo do Estado, na RBS TV. | Foto: Ramiro Furquim/Sul21.com.br (Foto: Leonardo Lucena)


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Jaqueline Silveira, Sul 21 - Os candidatos ao governo do Estado José Ivo Sartori (PMDB) e Tarso Genro (PT) fizeram o derradeiro debate do segundo turno na noite de quinta-feira (23) na RBS TV. Em uma hora, os dois postulantes a comandar o Estado pelos próximos quatro anos debateram propostas e trocaram algumas acusações e ironias. A exemplo de outros embates, a dívida pública dominou o confronto entre o peemedebista e o petista e o debate foi uma reprise dos demais realizados nos últimos dias. E sem surpresas.

Na abertura, os dois candidatos tiveram um tempo para as tradicionais apresentações e já na primeira manifestação evidenciaram as estratégias para conquistar os eleitores. Pela ordem do sorteio, o governador Tarso foi o primeiro a falar e priorizou as conquistas de sua gestão, citando o menor desemprego registrado nos últimos 24 anos, o fim do arrocho salarial dos servidores e o aumento da renda média dos gaúchos. Para finalizar, fez um apelo aos eleitores por "mais uma oportunidade" para dar continuidade ao seu projeto com foco na inclusão social e no desenvolvimento do Estado.

Já Sartori, que é ex-prefeito de Caxias do Sul, apresentou-se como o candidato "da mudança" e se disse preparado para governar o Rio Grande do Sul. O peemedebista também defendeu a retomada do funcionamento do Estado para melhorar a educação, a saúde e a segurança, além de resolver o problema da dívida. Por fim, ele pregou a união de todos para enfrentar os desafios futuros.

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Corte de despesas

Na sequência, foi aberta a rodada de questionamentos entre os candidatos. O primeiro bloco foi de tema livre e o governador foi o primeiro a perguntar pela definição do sorteio. O petista quis saber de Sartori sobre os cortes de despesas que pretende fazer para equilibrar as contas do Estado. "Na verdade, nós não sabemos o que existe nas finanças do Rio Grande do Sul", driblou o peemedebista, reclamando que solicitaram informações ao governo, por meio dos deputados estaduais do partido, mas não receberam os dados até agora. Foram solicitadas, segundo ele, informações sobre aplicação dos recursos provenientes dos depósitos judiciais, dos empréstimos internacionais e do caixa único do Estado.

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"Ainda existe uma caixa preta", ironizou Sartori, dando a entender que esses dados só serão conhecidos depois de ele assumir o governo, caso seja eleito. "Esses dados são públicos, qualquer pessoa pode consultar no site da Secretaria da Fazenda. Na verdade, o senhor não quer responder. Isso é uma estratégia para não apresentar proposta para o futuro", retrucou Tarso. O governador acrescentou que os recursos foram usados para investimentos na área da saúde e para acabar com o arrocho salarial dos servidores. "Não existe essa transparência, a informação não foi prestada", devolveu o peemedebista, em relação à afirmação de Tarso sobre a disponibilidade dos dados.

Predomínio da dívida

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A dívida do Estado com a União foi o assunto escolhido por Sartori para questionar seu adversário. O candidato disse que Tarso aumentou a dívida estadual em R$ 12 bilhões e que não conseguiu renegociá-la até hoje. Na resposta, o petista reconheceu que a situação financeira do Estado "é séria e complicada" e criticou a postura dos dois governos anteriores em que o PMDB participou por não terem "coragem" para renegociar a dívida. Sartori, então, criticou Tarso pelo fato de, desde 2002, prometer fazer a renegociação com o governo federal, já que foi "multiministro" e tinha força para isso. "Continua atirando as coisas para o passado, sabemos que as estradas estão mal, a educação estagnou", alfinetou o peemedebista. "Meu problema é saber o que senhor propôs e o senhor não consegue responder por uma tática que não quer assumir compromissos", contra-atacou o governador, questionando as medidas do adversário para solucionar a crise financeira do Estado.

No próximo questionamento, o governador optou por seguir no mesmo tema. Ele indagou o ex-prefeito de Caxias do Sul sobre sua postura em defender alteração no projeto de renegociação da dívida dos Estados com a União, o que poderá retardar a votação no Senado. “O mais importante é reduzir as prestações. Há condições de modificar (o projeto) sem atrasar o processo no Senado”, argumentou Sartori, acrescentando que o abatimento de R$ 15 bilhões no valor da dívida do Estado, previsto na proposta, “é um alívio momentâneo”, mas não resolve em definitivo o problema. O peemedebista aproveitou a oportunidade e cutucou Tarso sobre o fato de o PT estar há 12 anos no governo federal e não fazer a renegociação. Em resposta, o petista afirmou que a renegociação só foi feita agora porque o “governador foi pra cima do governo federal” e acrescentou que o primeiro passo é o abatimento do valor e no próximo ano, será aberta uma renegociação sobre as prestações. “O senhor, na verdade, não tem estratégia nenhuma, por isso não está respondendo”, alfinetou Tarso. “Olha, fazer pouco dos outros não é um bom caminho”, devolveu Sartori.

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Promessas na saúde e comparações

A última pergunta do primeiro bloco foi sobre saúde. O candidato do PMDB indagou Tarso sobre os motivos de não ter cumprido a promessa de fazer quatro hospitais regionais e diminuir as filas de pacientes à espera de atendimento. O governador admitiu que não conseguiu “cumprir todo o programa” e pediu mais quatro anos aos eleitores para concluir a construção das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). Ele usou números para mostrar que seu governo fez mais investimentos na área da saúde do que a gestão anterior. Além de garantir que sua administração aplica o percentual constitucional de 12% na saúde, o petista informou que foram destinados 1,9 bilhões aos hospitais filantrópicos e casas de saúde, enquanto, conforme ele, a gestão passada repassou R$ 400 milhões. Tarso acrescentou que o governo anterior deixou a saúde “a Deus dará”. Sartori, por sua vez, aproveitou para destacar ações na saúde realizadas por ele em Caxias como a redução da mortalidade feminina e infantil e a construção do “postão 24 horas”.

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Na sequência do assunto, o governador pegou o gancho e alfinetou Sartori pelo apoio a Aécio Neves (PSDB) para presidente. Ao afirmar que representava o projeto defendido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pela presidente Dilma Rousseff (PT), Tarso ressaltou a importância do programa Mais Médicos, do governo federal, que, segundo ele, já beneficiou 3,5 milhões de pessoas no Rio Grande do Sul. Ele frisou, ainda, que Aécio é contra a iniciativa e já teria se comprometido com a classe médica para acabar com o programa caso seja eleito presidente.  “Vamos continuar articulados com o governo federal, eu não consigo entender como pode apoiar uma pessoa que não gosta do Estado, que não tem nada a ver com o Estado”, cutucou Tarso, sobre a preferência de Sartori pelo tucano.

Companheiros encrencados nos dois lados

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O segundo bloco foi com temas determinados.  Controle da corrupção foi o primeiro assunto abordado. Sartori quis saber a opinião de Tarso sobre o assunto. Antes, porém, o peemedebista fez questão de relembrar o mensalão e as denúncias mais recentes envolvendo a Petrobras.  Em resposta, o governador disse que na sua gestão foi criado o Departamento Geral de Combate à Corrupção para apurar possíveis denúncias e prevenir esse tipo de problema. Ele acrescentou que a iniciativa foi implantada a partir do trabalho realizado por ele como ministro da Justiça. “Para mim (combater a corrupção), é uma questão de honra, tenho origem ética. Sou intolerante com a corrupção”, reforçou o petista.

O ex-prefeito de Caxias ressaltou, então, que um dos melhores mecanismos para combater a corrupção é o controle dos gastos públicos, medida adotada, segundo ele, em sua administração no município da serra gaúcha. “Tivemos a satisfação de corta o mal pela raiz”, afirmou Sartori. No vaivém do assunto, o peemedebista alfinetou seu adversário ao questioná-lo como se sentia ao ver companheiros processados e até presos, referindo-se, principalmente, ao desfecho do mensalão. “Da mesma forma que o senhor se sente sobre seus companheiros de partidos serem processados e condenados no Rio Grande do Sul”, respondeu Tarso, sem titubear, referindo-se à fraude do Detran, embora não tenha citado explicitamente.

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Realizações na área de segurança

Na pergunta seguinte, o governador quis uma avaliação de Sartori sobre o policiamento comunitário. O peemedebista aproveitou, então, a brecha para criticar a segurança na gestão petista, enfatizando que a criminalidade aumentou em 33%. “A segurança piorou muito”, acrescentou. Quanto ao policiamento comunitário, Sartori ressaltou que Caxias foi o primeiro município no Estado a implantar a iniciativa e que o processo se deu “com a tranquilidade republicana” que deve prevalecer entre os entes federados. Ele destacou, ainda, que é uma experiência “exitosa” e contribuiu para a redução da criminalidade em Caxias do Sul. O governador aproveitou a oportunidade para enumerar algumas de suas ações na área de segurança como, por exemplo, o aumento do índice de elucidação dos crimes para 74%, comparado ao período que assumiu o governo, início de 2011, que, conforme ele, era de 22%. Também enfatizou o processo de desativação do Presídio Central. “Depois de 40 anos estamos acabando com a escola do crime que é o Presídio Central”, completou o petista. A exemplo do seu adversário, Sartori destacou ações realizadas pela sua administração em Caxias na área de segurança como melhorias na Guarda Municipal e a criação das Comissões Internas de Prevenção a Acidentes nas escolas.

Piso dos professores provoca embate

O próximo tema sorteado foi sobre o custo da folha de pagamento. Sartori questionou Tarso sobre como pretendia tratar os servidores. Na resposta, o governador admitiu que o percentual da receita com a folha subiu porque sua administração avaliou que era necessário conceder reajustes às diferentes categorias, uma vez que todo o funcionalismo estadual estava submetido a “um arrocho salarial”. Ele argumentou que a folha de pagamento não poder ser vista somente como “gasto público”, mas também como um investimento e acrescentou que continuará fazendo despesas com o funcionalismo, já que esse tipo de gasto contribui para a qualidade dos servidores. O assunto provocou, talvez, o momento de maior contundência do embate entre os dois candidatos. Sem se referir explicitamente  a uma declaração sobre o salário dos professores concedida ao Portal Terra em que brincava ao dizer que “piso muito melhor” tem na Tumelero, loja de material de construção, Sartori tratou o mal-estar causado com a categoria como “um momento de dificuldade” e tentou repassar o desgaste para o adversário. Ele lembrou que foi o governador que prometeu e não pagou o piso e que em Caxias, segundo o peemedebista, os mestres recebem duas vezes o valor do salário nacional. “Esse é o respeito com os professores que sempre tive”, argumentou Sartori.

Tarso, então, contra-atacou: “O senhor mandou os trabalhadores buscarem o piso no Tumelero. Foi uma mancada, mostrou arrogância e desprezo”. O governador sugeriu, ainda, aos eleitores para acessarem o Portal Terra e assistirem ao vídeo com a declaração polêmica do adversário sobre o piso dos professores.

Ironia lá e cá

O questionamento que encerrou o último bloco de perguntas foi a reprise de embate anterior. O governador insistiu sobre o fato de Sartori querer alterar o projeto de renegociação da dívida que está no Senado para ser votado. “Vou começar a contar a história de novo daquilo que promete e não realiza”, ironizou Sartori, referindo-se à promessa de Tarso em relação à dívida. “Desde 2002, Tarso promete renegociar a dívida e até aqui não houve nenhuma mudança. Não sei por que razão as estradas continuam esburacadas, os hospitais prometidos não saíram. Não cumpre e promete de novo. É um devaneio permanente”, alfinetou o peemedebista.  O governador explicou que o abatimento dos R$ 15 bilhões reduzirá “o resíduo da dívida” e contribuirá para as prestações ficarem menores. Ele rebateu a ironia do adversário no mesmo tom: “Toda vez que pergunto da dívida, ele (Sartori) responde com estradas esburacadas”.

O terceiro e último bloco foi dedicado à despedida dos candidatos. Pelo Sorteio, o governador foi o primeiro a se dirigir aos eleitores e fez um apelo mais contundente pela reeleição, comparada a sua manifestação na abertura do debate. Ele alertou que a eleição é decidida nos últimos três dias, período em que “o voto é muito volátil” e pediu “humildemente” uma reflexão sobre o que “está sendo proposto para o futuro” do Rio Grande do Sul. Mais uma vez afirmou que representa o projeto do ex-presidente Lula e da presidente Dilma e reafirmou ações de seu governo como o aumento da renda média das famílias gaúchas, admitindo que “há muito a fazer no Estado”. Ele usou o exemplo do próprio adversário, que teve dois mandatos como prefeito de Caxias, para convencer os eleitores a lhe concederem mais quatro anos à frente do Palácio Piratini. Para encerrar, o petista frisou que seu adversário propõe “um salto no escuro.” “Minha proposta, vocês podem não gostar, mas sabem o que defendo”, argumentou o govenador, dirigindo-se aos eleitores.

Já Sartori defendeu que “chegou a hora da mudança” e reforçou que tem experiência e está motivado para governar o Estado. “Sou daqueles que acho que o bom administrador não é aquele que promete, mas aquele que sabe fazer”, argumentou, prometendo, em caso de ser eleito, fazer uma administração “transparente” e que “funcione para todos”.  Por fim, o peemedebista reforçou sua capacidade em liderar o Rio Grande do Sul para resolver problemas como o da dívida do Estado e ainda melhorar a autoestima dos gaúchos.


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