'RS deve ter caso de microcefalia em breve'

Diante do crescente número de casos de recém-nascidos com microcefalia registrados na região Nordeste e da suspeita de que isto possa estar relacionado com o surgimento do vírus Zika, transmitido pelo mesmo mosquito transmissor da dengue, o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo, salientou que o estado ainda não registrou um crescimento anormal de casos de microcefalia e nenhum caso confirmado de pessoa infectada pelo vírus Zika; no entanto, de acordo com o dirigente, a tendência é que o vírus chegue ao Estado no próximo verão; ele diz que o Zika "avança com o mesmo transmissor da dengue"

Diante do crescente número de casos de recém-nascidos com microcefalia registrados na região Nordeste e da suspeita de que isto possa estar relacionado com o surgimento do vírus Zika, transmitido pelo mesmo mosquito transmissor da dengue, o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo, salientou que o estado ainda não registrou um crescimento anormal de casos de microcefalia e nenhum caso confirmado de pessoa infectada pelo vírus Zika; no entanto, de acordo com o dirigente, a tendência é que o vírus chegue ao Estado no próximo verão; ele diz que o Zika "avança com o mesmo transmissor da dengue"
Diante do crescente número de casos de recém-nascidos com microcefalia registrados na região Nordeste e da suspeita de que isto possa estar relacionado com o surgimento do vírus Zika, transmitido pelo mesmo mosquito transmissor da dengue, o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo, salientou que o estado ainda não registrou um crescimento anormal de casos de microcefalia e nenhum caso confirmado de pessoa infectada pelo vírus Zika; no entanto, de acordo com o dirigente, a tendência é que o vírus chegue ao Estado no próximo verão; ele diz que o Zika "avança com o mesmo transmissor da dengue" (Foto: Leonardo Lucena)


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Luís Eduardo Gomes, Sul 21 - Diante do crescente número de casos de recém-nascidos com microcefalia registrados na região Nordeste e da suspeita de que isto possa estar relacionado com o surgimento do vírus Zika, transmitido pelo mesmo mosquito transmissor da dengue, o secretário de Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo, concedeu entrevista coletiva nesta sexta-feira (20) para prestar esclarecimentos sobre as doenças e sobre as medidas de prevenção a serem tomadas pelo Estado. Apesar de salientar que o Rio Grande do Sul ainda não registrou um crescimento anormal de casos de microcefalia e nenhum caso confirmado de pessoa infectada pelo vírus Zika, Gabbardo salientou que a tendência é que o vírus chegue ao Estado no próximo verão.

Na terça-feira, o Ministério da Saúde divulgou um boletim informando que, até o momento, já foram registrados 399 casos de recém-nascidos com microcefalia em sete estados do Nordeste em 2015. A situação mais grave ocorre em Pernambuco, onde foram registrados 268 casos, mas os números também são expressivos em Sergipe (44), Rio Grande do Norte (39), Paraíba (21), Piauí (10), Ceará (9) e Bahia (8). Para efeito de comparação, em 2014, foram registrados 147 casos em todo o Brasil.

Apesar de o número de casos já ser muito elevado, Gabbardo salientou que há ainda a confirmação de muitos casos de gestantes cujos bebês já foram diagnosticados com microcefalia pela ecografia. “Existe uma estimativa de que já tem 2 mil mulheres que são gestantes com casos de microcefalia nesses estados”, disse Gabbardo.

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Há uma série de razões para que uma criança nasça com microcefalia. A doença pode ter origem genética, pela ingestão de substâncias químicas ou por infecções biológicas, por bactérias ou outros vírus, como a toxoplasmose. No entanto, os indícios são grandes de que este surto registrado este ano esteja relacionado ao aparecimento do vírus Zika no Brasil. “O que está circulando de diferente esse ano? É o Zika vírus”, disse a médica Marilina Bercini, diretora do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS). “Ainda não há absoluta certeza, mas há uma forte de tendência, e os indícios são muito fortes, da relação da Zika com esses casos de microcefalia”, complementou o secretário Gabbardo.

Segundo Marilina, entre 70% e 80% das mães que deram à luz crianças com microcefalia tiveram sintomas do vírus. Além disso, um laboratório do Instituto Fiocruz informou na terça-feira (17) que constatou a presença do genoma do vírus Zika em amostras de duas gestantes da Paraíba cujos fetos foram confirmados com microcefalia em exames de ultrassonografia.

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“Na descoberta recente, detectamos a presença do vírus Zika em amostras de líquido de duas pacientes”, explica a virologista Ana Maria Bispo, pesquisadora do Laboratório de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). “Apesar de ser um achado científico inédito, importante para o entendimento da infecção por vírus Zika em humanos, os dados atuais não permitem correlacionar diretamente, de forma causal, a infecção pelo vírus Zika com a microcefalia. Novos estudos são necessários, considerando fatores adicionais”.

No Rio Grande do Sul, ainda não há registro de anormalidade. Até o momento, foram registrados 9 casos de microcefalia no Estado em 2015. Em 2014, foram 7. Mas, em 2011 e 2012, foram 13. Contudo, a Secretaria da Saúde afirma que, se confirmada a correlação da doença com o vírus Zika, a tendência é que o número de casos de microcefalia possa vir a se agravar no Estado a partir deste verão.

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“Nós sabemos que a Zika deve chegar porque ela avança com o mesmo transmissor da dengue, que é o Aedes Aegypti, e assim como nós temos casos de dengue no RS, é provável que a gente tenha num futuro próximo também casos de Zika”, disse Gabbardo.

Estado pensa na prevenção

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Mesmo ainda não existindo confirmação da correlação entre o vírus Zika e os casos de microcefalia, Gabbardo salienta que o Estado já está adotando medidas para reforçar a prevenção e facilitar a identificação dos casos de contaminação pelo vírus.

“Mesmo que a gente não tenha certeza dessa correlação, eu acho que os gestores não podem perder tempo. Nós vamos partir do princípio que essa relação seja verdadeira e nós vamos tomar a iniciativa e as medidas necessárias, até porque o combate ao mosquito já deveria ser feito para combatermos a dengue”, disse Gabbardo. “Agora nós temos mais um motivo e um motivo muito relevante para intensificar essas ações de combate ao mosquito da dengue”, complementou.

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Segundo Gabbardo, o Estado intensificará as ações nos municípios e conduzirá uma “ação de guerra” para fazer o controle vetorial, isto é, da proliferação do mosquito.

O governo prevê um repasse de recursos de R$ 2,863 milhões para que os municípios realizem ações de controle do mosquito. Além disso, serão investidos R$ 1 milhão em publicidade de rádio para alertar as pessoas sobre a necessidade de realizarem ações de prevenção em suas casas.

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No entanto, se necessário, o secretário salientou que existe a possibilidade de ser solicitado o auxílio do Exército para fazer o controle do mosquito. “Se isso se agravar, nós vamos tomar medidas mais drásticas. Se for necessário pedir o apoio das forças do Exército, nós vamos pedir”, disse Gabbardo, salientando que ações semelhantes já aconteceram no passado.

A Secretaria também destaca que, para prevenir a expansão da dengue e do próprio vírus Zika, é essencial que as pessoas tomem medidas para diminuir e evitar o desenvolvimento das larvas do inseto, combatendo focos de água parada.

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Além disso, por recomendação do Ministério da Saúde, a Secretaria está tomando medidas para ampliar a investigação epidemiológica, como revisão de prontuários e outros registros de atendimento médico da gestante e do recém-nascido. Também estão sendo feitas entrevistas com as mães por meio de questionário e os casos de microcefalia serão encaminhados para investigação laboratorial e outros exames.

Estado já sofre com a dengue

A grande dificuldade para se controlar a expansão do vírus Zika é que ele é transmitido pelo mesmo mosquito da dengue, o Aedes Aegypti, que já está presente em muitos Estados e inclusive no RS.

Segundo dados da Secretaria da Saúde divulgados na terça (17), o Estado registrou 3.739 casos suspeitos de Dengue, dos quais 1.258 foram confirmados, em 2015. Entre os confirmados, 82,5% foram contraídos em solo gaúcho (casos autóctenes, quando a pessoa é contaminada no próprio local). A grande maioria dos casos foi registrada entre os meses de março e maio. No mesmo período de 2014, tinham sido registrados 801 casos suspeitos e apenas 90 casos confirmados.

Para piorar a situação, a Secretaria alerta que, como o Estado registrou um inverno quente e muito chuvoso, a tendência é que aumente a circulação do mosquito Aedis Aegypti nesse verão.

“Por essa questão de que esse ano teve muita chuva, nós temos uma expectativa de que, no verão, os casos de contaminação e procriação do mosquito sejam maiores e, por consequência, teremos mais casos de casos de dengue. Essa é uma preocupação que nós já tínhamos anteriormente, agora intensificada”, disse Gabbardo.

Ao contrário da dengue, que demorou para chegar ao Estado – começaram a aparecer casos em 2007 enquanto os primeiros surtos no Brasil já têm mais de 20 anos -, as condições para o vírus Zika se espalhar pelo Estado já estariam postas, uma vez que há 168 municípios do Estado infestados pelo mosquito.

Existem dois principais cenários para que o vírus Zika chegue ao RS e sejam registrados casos autóctones. O primeiro seria uma pessoa ser contaminada em outro Estado e retornar para sua cidade no Rio Grande do Sul, sendo então picada pelo mosquito que passará a transmitir o vírus para outro indivíduo. O segundo, menos provável, é de que o mosquito contaminado chegue ao Estado, o que poderia acontecer, por exemplo, caso ele venha a ser transportado de ônibus de uma localidade em que há o vírus.

“No caso do vírus Zika, para que se espalhe são necessários três fatores: o vírus, o mosquito transmissor e pessoas suscetíveis à infecção pelo vírus Zika. Nos locais onde estas situações acontecem simultaneamente, o espalhamento é possível”, explica a virologista Ana Maria Bispo.

Contudo, Gabbardo salientou que já há pelo menos um caso confirmado de transmissão do vírus Zika via relações sexuais, o que não acontece com a dengue ou com a febre do Chikungunya, também transmitida pelo mesmo mosquito.

O vírus Zika

O vírus Zika foi identificado pela primeira vez na floresta de Zika (por isso o nome), em Uganda. Até então, ele tinha sido registrado principalmente em comunidades rurais africanas e nas ilhas da Polinésia e Micronésia, no Pacífico. Em geral, os sintomas do vírus são uma versão mais leve da dengue, como febre, conjuntivite, dores no corpo e o aparecimento de manchas com pontos brancos e vermelhos na pele. Contudo, estima-se que apenas 18% dos casos de contaminação apresentem esses sintomas aparentes.

Segundo a doutora Marilina, o primeiro caso de Zika foi registrado oficialmente no Brasil em abril deste ano. Porém, é muito provável que o vírus já estivesse circulando desde o ano passado. Neste ano, o RS teve dois casos suspeitos de Zika, nos municípios de Bento Gonçalves e Palmares do Sul, mas posteriormente as suspeitas foram descartadas por exames laboratoriais.

No entanto, o próprio secretário Gabbardo salientou que, devido ao fato de ser uma doença com sintomas leves ou muitas vezes assintomática, não é possível garantir que pessoas já não tenham sido contaminadas pelo vírus Zika e os casos tenham passado sem serem identificados. Ele alertou que, em casos de manchas na pele, as pessoas devem procurar um médico imediatamente para que se possa fazer um registro melhor do alcance da doença.

Microcefalia

Microcefalia é a doença em que o bebê nasce com o cérebro menor do que o normal. Em geral, o perímetro cefálico de um recém-nascido é superior a 33 cm. Abaixo disso, é considerado um caso de microcefalia.

Segundo o Ministério da Saúde, 90% dos casos de microcefalia estão associados com retardo mental. Contudo, a gravidade da doença varia de caso para caso e, inclusive, em alguns deles é possível realizar tratamento para que criança tenha a anomalia corrigida ou, ao menos, melhore seu desenvolvimento e qualidade de vida.

Ao comentar uma declaração de um diretor do Ministério da Saúde, que nesta semana recomendou às mulheres não planejar gravidez para os próximos meses, Gabbardo salientou que, nestes Estados já afetados pelo vírus, as pessoas devem sim levar em conta o risco de contaminação ao fazerem esse planejamento. “Apesar de ser uma recomendação controversa, eu acho que a sociedade tem que também fazer a sua parte e avaliar se esse é o melhor momento ou não. Não está se orientando nada, apenas colocando uma questão que deve ser avaliada”, disse.

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