Na medida, risco turbina investimentos como uma Ferrari

Expor o dinheiro a um mínimo de risco, não mais que isso, pode fazer toda a diferença entre rentabilidade mínima e exponencial

Na medida, risco turbina investimentos como uma Ferrari
Na medida, risco turbina investimentos como uma Ferrari (Foto: Shutterstock)


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Luciane Macedo _247 - Risco, palavrinha fácil no mundo dos investimentos. Temido por grande parte das pessoas que se dizem conservadoras, o risco é motivo de comemoração para outro tipo de investidor. E, surpresa, ele também pode ser bastante conservador com seu dinheiro. Então, o que distingue uns dos outros? Impossível saber, mas uma coisa é certa: estratégia.

Na medida e no alvo, correr um pouco de risco com o dinheiro investido, entre 5% e 20%, não mais que isso, pode fazer toda a diferença entre conseguir rentabilidades mínimas ou exponenciais ao longo do tempo. E isso vale tanto para o portfólio de ações, quanto para a carteira de investimentos como um todo. Vamos às estratégias?

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Beer bottle

Dentre tantas maneiras possíveis de se manejar o risco, uma das mais simples e fáceis de lembrar remete a uma imagem familiar: a garrafa de cerveja. Quem propõe a metáfora para ensinar como gerenciar bem o risco com o portfólio de ações é David Kuo, analista de mercado sênior do portal Motley Fool.

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A estratégia da garrafa de cerveja mostra bem como dá para incorporar ações mais voláteis e arriscadas ao portfólio sem abrir mão da segurança e de um mínimo de rentabilidade. Kuo propõe a seguinte distribuição: na base da garrafa, ações de boas pagadoras de dividendos; no miolo, ações de empresas de crescimento; no topo, ações small caps.

Com uma base sólida e um miolo robusto, o investidor fica livre para escolher e se arriscar mais com as poucas ações que ficam no topo da garrafa, as small caps -- ações que têm menor liquidez na Bolsa, mas também podem reservar possibilidades de ganhos exponenciais.

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Enquanto o Ibovespa acumula alta de 6,14% (no ano, até dia 27), o índice small cap (SMLL) avançou 22,17% (no mesmo período). As três ações com maior peso no SMLL (carteira teórica válida até dezembro) são Totvs (TOTS3, valorização de 28,18%), Kroton (KROT11, alta acumulada de 88,69%) e PDG Realty (PDGR3, baixa acumulada de 33,34%).

"Você pode fazer o que quiser com as ações small caps no topo", diz o analista do Motley Fool. "Mas se você inverter a garrafa e colocar muitas ações especulativas na base, você deixa de ter um portólio equilibrado". De fato, fica difícil equilibrar uma garrafa de cerveja de ponta cabeça na palma da mão.

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"Outra coisa que é bom lembrar: qual é o preço mínimo que uma ação pode atingir? A resposta é zero, ou seja, você pode perder tudo", lembra Kuo. "Por isso, você tem que ter certeza que tem uma base sólida no seu portfólio, um bom miolo e aí, sim, fazer com o topo o que você quiser", reforça o analista do Motley Fool.

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Beer bottle: a metáfora (vídeo em inglês)

"É uma estratégia válida, sempre que você cria uma metáfora, você facilita para as pessoas que não são do mercado entenderem como funcionam conceitos importantes como gerenciamento de risco", comenta o educador financeiro André Massaro, da Money Fit.

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"O grande problema do nosso investidor individual na Bolsa é que ele não tem estratégia, fica pulando de galho em galho e ouvindo palpite de todo mundo", assinala. "Melhor usar uma estratégia que é intuitivamente boa".

Massaro ressalta que a mesma metáfora da garrafa de cerveja pode ser traduzida para a realidade do investidor brasileiro típico, para que ele possa aplicá-la, também, à sua carteira de investimentos.

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Na base, para dar solidez, o investimento mais conservador e seguro do mercado: títulos do Tesouro Direto. "O Tesouro Direto ainda vale a pena porque Selic em 7,5% ao ano ainda é uma taxa básica de juros alta se comparada aos padrões internacionais", lembra o educador financeiro. "Você consegue ter retorno real acima da inflação investindo em títulos públicos, que são o que há de mais seguro".

Para o miolo da carteira, Massaro propõe que o investidor considere títulos de renda fixa um pouco mais agressivos, como CDBs de bancos menores com taxas mais altas que as oferecidas pelo Tesouro Direto. Lembrando que este tipo de aplicação, até R$ 70 mil, por CPF e instituição, tem a mesma segurança da caderneta de poupança se o banco quebrar.

Finalmente, no topo, que é a parte menor e mais agressiva da carteira, Massaro propõe ações ou ETFs (fundos de ações), quaisquer e à escolha do investidor.

Barbell

Outra estratégia para gerenciamento de risco é a chamada barbell, popularizada pelo escritor e investidor Nassim Taleb, autor dos livros "A lógica do Cisne Negro" e "Iludido pelo Acaso". Ela também se vale de uma imagem metafórica, a haste de um sino, mas tem uma proposta diferente da estratégia beer bottle.

"A imagem da barbell é a seguinte: na haste, investimentos super convservadores; na bolota da haste, investimentos super agressivos", explica Massaro. "Ao invés de fazer um portfólio equilibrado, a proposta é que você seja conservador com 90% a 95% dos seus investimentos e nos outros 5% a 10% você parta para aplicações mais agressivas".

Para o educador financeiro da Money Fit, se a estratégia fosse aplicada à risca ao mercado financeiro brasileiro por um investidor pessoa física típico, ele sequer teria ações na sua carteira de investimentos: "Uma aplicação possível da barbell seria 98% no Tesouro Direto e 2% em opções".

O site iStockAnalyst simulou uma aplicação da estratégia barbell ao mercado de ações comparando dois portfólios: um, 100% conservador; o outro, 80% conservador, com 20% do dinheiro em ações small caps.

Ainda que se trate de uma simulação em um mercado diferente da Bolsa brasileira, o resultado é surpreendente -- e muito didático para se entender as três coisas ao mesmo tempo: gerenciamento de risco, small caps e barbell.

"Como é uma parcela pequena do portfólio que está exposta ao risco, mesmo se a pessoa for extremamente infeliz com essa parcela, ela não compromete o patrimônio dela", observa Massaro. "Ninguém se joga pela janela por uma perda de 10%, é uma perda aceitável para quem investe em ações. E mesmo uma perda de 20%, ela dói, mas ninguém quebra".

Na avaliação do educador financeiro da Money Fit, "a estratégia barbell é uma forma de se precaver contra uma zebra total na Bolsa ou em tempos de crise, por exemplo". Depois que as crises acontecem, assinala Massaro, parece tudo muito óbvio e não faltam explicações, que são sempre pós-fato.

"Ao invés de tentar adivinhar o que vai acontecer ou contar com a sorte, usar a barbell é uma forma de proteger a maior parte do patrimônio", reforça.

Na simulação, 20% do dinheiro foi aplicado em dez ações small caps. Nem todas performaram bem e só metade delas rendeu ganhos para o investidor. "Isso mostra a volatilidade das ações small caps", comenta Massaro. "Mas o potencial de ganho dessas ações também é ilimitado, para cima ninguém segura".

Ao final de 30 anos, um investimento de US$ 100 mil em ações no portfólio barbell virou quase US$ 9 milhões. O mais interessante é que esse portfólio, é bom lembrar, é 80% carregado de tintas conservadoras. Apenas 20% dele foi turbinado pelo risco. Mas foi o suficiente para que ele rendesse 784% mais que o tradicional.

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