Escola que negou matrícula a menino negro é multada por racismo

Após dois anos tentando processar a escola que discriminou o filho, por ele usar cabelo tipo “black power”, a administradora financeira, Izabel Neiva, começa a respirar aliviada; sua primeira vitória, para provar que Lucas Neiva, hoje com 10 anos de idade, sofreu com o ato racista, saiu nesta semana com o resultado do processo de discriminação na esfera administrativa, que multou o Colégio Cidade Jardim Cumbica (no município de Guarulhos), em cerca de R$ 106 mil

Após dois anos tentando processar a escola que discriminou o filho, por ele usar cabelo tipo “black power”, a administradora financeira, Izabel Neiva, começa a respirar aliviada; sua primeira vitória, para provar que Lucas Neiva, hoje com 10 anos de idade, sofreu com o ato racista, saiu nesta semana com o resultado do processo de discriminação na esfera administrativa, que multou o Colégio Cidade Jardim Cumbica (no município de Guarulhos), em cerca de R$ 106 mil
Após dois anos tentando processar a escola que discriminou o filho, por ele usar cabelo tipo “black power”, a administradora financeira, Izabel Neiva, começa a respirar aliviada; sua primeira vitória, para provar que Lucas Neiva, hoje com 10 anos de idade, sofreu com o ato racista, saiu nesta semana com o resultado do processo de discriminação na esfera administrativa, que multou o Colégio Cidade Jardim Cumbica (no município de Guarulhos), em cerca de R$ 106 mil (Foto: Valter Lima)


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Agência Áfricas de Notícias - Após dois anos tentando processar a escola que discriminou o filho, por ele usar cabelo tipo “black power”, a administradora financeira, Izabel Neiva, começa a respirar aliviada. Sua primeira vitória, para provar que Lucas Neiva, hoje com 10 anos de idade, sofreu com o ato racista, saiu nesta semana com o resultado do processo de discriminação na esfera administrativa, que multou o Colégio Cidade Jardim Cumbica (Município de Guarulhos), em cerca de R$ 106 mil, correspondente a 5.000 UFESP – Unidade Federal do Estado, implicando a diretora e a instituição particular de ensino.

O dinheiro, de acordo com a Lei 14.187/2010, que pune atos de racismo na esfera administrativa em São Paulo, deve ser depositado em uma conta do Fundo do Tesouro, após publicação no Diário Oficial do Estado e não será destinado à família. Mesmo assim, Izabel quer criminalizar o colégio e já contratou um advogado para dar prosseguimento no caso. Está marcada para o próximo dia 8, a audiência de instrução na justiça criminal contra a escola e a diretora Alaíde Ugeda Cintra, por ter constrangido e negado a rematrícula do então aluno. O processo será julgado na 5ª. Vara Criminal de Guarulhos. Os pais da criança também querem um processo por perdas e danos. Procurada pela nossa reportagem a diretora da escola, apesar dos recados deixados, não retornou nossos contatos.

A batalha para fazer com que a escola seja responsabilizada por racismo, também resultou num grande desgaste para toda a família de Lucas. “Sofri muita pressão, porque demorou demais para o processo andar. Só agora eu sei por que muita gente não denuncia, é muito difícil”. A mãe disse que encontrou apoio no programa São Paulo Contra o Racismo da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, por meio da Coordenadoria de Políticas para a População Negra e Indígena (CPPNI) e na petição assinada pela Deputada Leci Brandão. “Foi só depois desta petição, que as coisas andaram. Não quero nada mais do que justiça, vou seguir com o processo e estamos com um advogado para que não seja julgado de qualquer jeito”, completou. A mãe de Lucas garante que por causa do problema, tanto ela quanto a criança precisaram de apoio com psicólogo. “Mesmo assim em nenhum momento ele quis cortar o cabelo e para apoiá-lo eu também passei a usar black power”.

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A vida de Lucas

Lucas Neiva tinha apenas 8 anos quando usava cabelo curto, raspado. A mãe diz que um belo dia ele pediu para deixar o cabelo parecido com o cantor Justin Beber, seu ídolo na época. Como ela e o marido, Marcos, um técnico em telecomunicação, sempre conversaram muito com o menino, a mãe resolveu chama-lo e explicar sobre os tipos de cabelos, mas mesmo assim, aceitou o pedido de deixar o cabelo dele crescer. “Mostrei o espelho para ele e disse que ele era lindo”.

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Enquanto corria o processo, a família passou a adquirir livros, fotos e falar mais sobre a negritude. “Meu filho sempre foi muito amoroso, me chocou quando em depoimento ele disse ao delegado que teve vontade de chorar, por que depois que a escola passou a fazer pressão por causa do cabelo, as crianças começaram a fazer chacota e chama-lo de nomes como cabelo de mendigo e cabeça de capacete”. Segundo a mãe ele chegou a perguntar: mãe existe racismo ao contrário?

Hoje Lucas está em outro colégio particular e continua com um bom rendimento. “A nova escola nos apoiou, ele voltou a ser um menino alegre, participa das atividades e está jogando futebol. Fiquei feliz porque outro dia, no almoço em família ele foi brincar numa lousa e fez um auto-desenho, onde se fez gordinho e com o cabelo black power. Hoje ninguém mexe no cabelo dele. Meu filho hoje se orgulha de ser negro”, contou.

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O cabelo black power

Tudo começou em 2013, quando Lucas passou a apresentar comportamento estranho em casa e reclamar do assédio dos coleguinhas por causa do cabelo e por ser “gordinho”. “Estranhei mesmo foi quando recebi um bilhete da professora dizendo que ele estava reclamando do cabelo e se eu podia fazer um corte mais adequado”, disse Izabel. Ela afirma que procurou a escola e como educadora tentou argumentar que não cortaria o cabelo do filho e chegou a ouvir da diretora da escola, que o cabelo do Lucas era “inadequado, volumoso e como ela era gordo, aquele tipo de cabelo fazia ele suar”.

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A mãe diz que a diretora chegou a dizer que o melhor seria era economizar, do que gastar dinheiro com cremes para cuidar do cabelo do menino. “Depois ela pediu para eu ler o manual da escola que proíbe alunos de usar cabelos extravagantes. Eu disse que não ia cortar o cabelo dele, até porque ele era o melhor aluno da sala e em nada estava prejudicando o rendimento escolar”, afirmou Izabel, dizendo que a diretora disse, que por causa da recusa, “poderia não convidar o aluno para a rematrícula, até porque ali era uma escola particular”.

Segundo Izabel, começou assim uma série de mentiras que resultou na negação da rematrícula da criança, simplesmente porque ela se recusou a cortar o cabelo dele. “Percebi que quem estava incomodada com o cabelo do meu filho era a escola, a diretora e não ele. Depois, a escola não me mandou o aviso de matrícula. Foi justamente na semana em que ele ficou internado com infecção bacteriana. Liguei na escola, para avisar, mas como já estava desconfiada, fui pessoalmente e perguntei para a professora porque não haviam me comunicado sobre a matrícula. Ela disse que eu deveria resolver na secretaria. Fui verificar e a filha da diretora, que eu nem conhecia, me perguntou se ele havia causado algum problema para a escola. Em seguida me disse que não tinha mais a vaga dele. Foi quando a diretora entrou na sala, fingindo que não me conhecia, dizendo que não tinha nada a dizer sobre a matrícula”, conta a mãe emocionada. “Meu estado foi de impotência. Voltei para a sala de aula e quis ouvir da professora, que também é afrodescendente, alguma palavra de apoio, ou a verdade, mas ela disse que só a secretaria podia decidir. Eu perguntava se era por causa do cabelo dele e ela não respondeu nada”.

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Izabel voltou à diretoria acompanhada de uma mãe, que ouviu tudo, e ao vê-la chorando se ofereceu para ir com ela à delegacia. “Antes de ir perguntei de novo se o meu filho ficaria mesmo sem rematrícula. Disse que iria à delegacia, porque aquilo era racismo. Foi quando elas começaram a rir e gritar, dizendo para eu ir mesmo. E eu fui”.

Ao saber que a escola será processada pelo que fez a ele, Lucas perguntou se a diretora seria presa. A mãe disse que não e pediu para que o menino nunca deixasse de se defender caso isso aconteça de novo. “Ele me disse, mãe se isso acontecer comigo de novo vou fazer igualzinho você fez”, contou a mãe orgulhosa.

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