Nísia, da Fiocruz: SUS é coesão social, solidariedade

Empossada depois que a comunidade científica se mobilizou em defesa de sua candidatura, apoiada por mais de 60 dos votos, a socióloga Nísia Trindade Lima assume a presidência da FIOCRUZ, uma das mais respeitadas instituições de saúde pública do planeta, numa conjuntura de PEC 55, verbas esqueléticas e ameaças concretas a programas que respondem pela saúde de 75% dos brasileiros; leia sua entrevista ao jornalista Paulo Moreira Leite

Empossada depois que a comunidade científica se mobilizou em defesa de sua candidatura, apoiada por mais de 60 dos votos, a socióloga Nísia Trindade Lima assume a presidência da FIOCRUZ, uma das mais respeitadas instituições de saúde pública do planeta, numa conjuntura de PEC 55, verbas esqueléticas e ameaças concretas a programas que respondem pela saúde de 75% dos brasileiros; leia sua entrevista ao jornalista Paulo Moreira Leite
Empossada depois que a comunidade científica se mobilizou em defesa de sua candidatura, apoiada por mais de 60 dos votos, a socióloga Nísia Trindade Lima assume a presidência da FIOCRUZ, uma das mais respeitadas instituições de saúde pública do planeta, numa conjuntura de PEC 55, verbas esqueléticas e ameaças concretas a programas que respondem pela saúde de 75% dos brasileiros; leia sua entrevista ao jornalista Paulo Moreira Leite (Foto: Paulo Moreira Leite)


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Empossada depois que a comunidade científica se mobilizou em defesa de sua candidatura, apoiada por mais de 60 dos votos, a socióloga Nísia Trindade Lima assume a presidência da FIOCRUZ, uma das mais respeitadas instituições de saúde pública do planeta, numa conjuntura de PEC 55, verbas esqueléticas e ameaças concretas a programas que respondem pela saúde de 75% dos brasileiros.

"Temos problemas mas somos o exemplo do SUS que dá certo", disse ela em entrevista ao 247. Quando grandes pressões privatizantes na saúde nascem na base de apoio do próprio governo, Nísia fala claro: "Não podemos cindir a sociedade brasileira entre um grupo que pode viver mais e melhor e um grupo excluído." Falando de um país dividido como poucas vezes em sua história, ela diz que o SUS "é elemento de coesão social, de solidariedade." A seguir, a primeira parte de sua entrevista ao 247:

BRASIL 247 - A senhora tem uma história profissional em defesa da saúde pública e do Sistema Único de Saúde. Este é o compromisso número 1 de sua candidatura. Como é possível defender o SUS numa conjuntura política desfavorável?

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NÍSIA - Este tema se vincula à resposta que vier a ser dada ao financiamento. Não podemos esquecer que 75% da população depende apenas do sistema público de saúde e que em doenças crônicas e de tratamento caro como câncer esta dependência chega a 90%. Há também atividades como a vigilância, a imunização, entre outras, que abrangem 100% da população. Isso quer dizer que temos melhorar cada vez mais nosso sistema, ampliar seu apoio político e aperfeiçoar seus serviços, para que o SUS seja reconhecido como aquilo que é, um patrimônio nacional.

247 - Como isso pode ser feito?

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NÍSIA - Somos um exemplo do SUS que dá certo. Nossa história mostra que é possível, no Brasil, encarar o exercício de direitos como um fator de desenvolvimento. É desta forma que se conseguirá o apoio da sociedade e a legitimidade política para a preservação e ampliação do SUS. Temos que avançar para mostrar que em cada copo de água, alimento, medicamento consumido existe o SUS. Na vigilância sanitária,  em cada vacina, detecção de doença e organização da atenção básica existe a pesquisa, a inovação e a assistência do SUS.

247 - Qual o papel da FIOCRUZ nessa história?

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NÍSIA - Acredito que a Fiocruz pode ser um fator importante pelo respeito que adquiriu em nossa sociedade. Toda população brasileira tem um pouco da Fiocruz em sua existência, seja nas vacinas que tomou desde a infância, seja na pesquisa que permitiu salvar vidas com o diagnostico precoce, a prevenção e o tratamento de doenças transmissíveis, como Tuberculose, Dengue, Zika e Chikungunya.

247 - Nem todo mundo acredita que isso seja possível.   

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NÍSIA - Há problemas sim e temos muito para melhorar. O importante é pensar  numa melhoria para avançar, para tornar o SUS um patrimônio de nossa sociedade e um direito do cidadão. Não podemos cindir a sociedade brasileira entre um grupo que pode viver mais e melhor e um grupo excluído. O SUS é elemento de coesão social, de solidariedade.

247 - Eu gostaria de voltar ao processo eleitoral e que  a senhora falasse sobre a importância de sua confirmação na presidência da FIOCRUZ. Como entender o resultado?

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NÍSIA - O projeto por mim apresentado foi amplamente acolhido pelos cientistas, pesquisadores, professores, gestores e demais servidores da instituição. Além da expressiva diferença percentual na votação, da ordem de 20%, não custa lembrar que fui eleita em primeiro lugar em 15 das 16 urnas eleitorais e na única em que isto não ocorreu alcancei 40% dos votos. A nomeação é um fato histórico.

247 - Por que?

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NÍSIA - Significa o reconhecimento do processo democrático, respeitando uma tradição inaugurada há 25 anos de nomeação do primeiro colocado, como  sempre ocorreu em governos de diferentes orientações políticas. Desde a definição do mecanismo eleitoral para Presidência da Fiocruz, durante a gestão de Sergio Arouca, apenas na presidência de Fernando Collor de Melo não se acatou este princípio. Ainda assim houve processo de negociação com o Conselho Deliberativo, que concluiu pela  nomeação de um importante cientista de nossa instituição, o pesquisador Herman Schatzmeyer. É um fato histórico também pelo movimento social amplo da comunidade científica, da sociedade em geral, de lideranças políticas de todos os partidos e da comunidade científica internacional em defesa da Fiocruz. Vencidas todas as dificuldades, o resultado foi o fortalecimento da instituição.

247 - A que a senhora atribui o apoio de 60%?

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NÍSIA - Acho que são vários fatores. Em primeiro lugar à importância do legado construído desde a gestão de Sergio Arouca (principal referência em saúde pública do país, falecido em 2003) que promoveu um projeto institucional democrático e a visão da saúde como parte do processo civilizatório. Este projeto foi atualizado nos últimos 16 anos a partir da visão da Fiocruz como Instituição Estratégica de Estado.  A instituição cresceu, diversificou-se e ampliou o seu papel na indução e implantação de políticas nos campos social e científico. No plano institucional, houve importante renovação no quadro de pessoal, com o ingresso de mais de 3000 servidores na última década. Também ocorreram  investimentos significativos, com ampliação da presença no território nacional, o que nos permite contribuir com todas as dimensões da ciência e tecnologia e saúde e do SUS, de forma descentralizada, visando a redução dos desequilíbrios regionais. Em segundo lugar, a campanha e o programa que defendi apresentaram compromissos e ações concretas, refletindo o apoio institucional disseminado para uma Fiocruz unida, diversa e forte para este momento de crise econômica e política, marcado por graves dificuldades nos contextos nacional e internacional. Defendi ainda a atualização da agenda frente aos importantes desafios sanitários por que passa o país, em particular a emergência da tríplice epidemia de dengue, zika e chicungunya.

247 - O que a senhora representa para FIOCRUZ?

NÍSIA - Represento um projeto que, com diferenças ao longo do tempo, reconhece o legado das gestões anteriores e afirma o valor de uma Instituição Estratégica de Estado. Participei, como Vice Presidente de Ensino, Informação e Comunicação, da gestão presidida por Paulo Gadelha, apresentando resultados concretos para a maior qualidade, integração e impacto social das áreas de atuação da Fiocruz. De um ponto de vista mais amplo, considero que meu projeto foi identificado com a perspectiva dos grandes fundadores da Fiocruz, desde Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, que articularam o desenvolvimento científico e tecnológico com as necessidades do País.

(Fim da primeira parte)

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