Chamar Dilma de petista virou forma de xingá-la

Para Tereza Cruvinel, colunista do 247, o uso pela cada vez mais frequente pela imprensa do adjetivo "petista" para se referir à presidente Dilma Rousseff transformou-se numa espécie de xingamento, "uma palavra que difama, portadora de uma carga de censura comparável a 'machista' e 'racista'"; trata-se, segundo ela, de uma estratégia de "fundir e potencializar desgastes"; "É preciso lembrar o tempo todo que Dilma é filiada ao PT, este que é acusado de ter recebido propinas sob a forma de doações eleitorais, não bastasse o mensalão. Este que é xingado nas ruas, não bastasse a rejeição altíssima à própria presidente", afirma

Para Tereza Cruvinel, colunista do 247, o uso pela cada vez mais frequente pela imprensa do adjetivo "petista" para se referir à presidente Dilma Rousseff transformou-se numa espécie de xingamento, "uma palavra que difama, portadora de uma carga de censura comparável a 'machista' e 'racista'"; trata-se, segundo ela, de uma estratégia de "fundir e potencializar desgastes"; "É preciso lembrar o tempo todo que Dilma é filiada ao PT, este que é acusado de ter recebido propinas sob a forma de doações eleitorais, não bastasse o mensalão. Este que é xingado nas ruas, não bastasse a rejeição altíssima à própria presidente", afirma
Para Tereza Cruvinel, colunista do 247, o uso pela cada vez mais frequente pela imprensa do adjetivo "petista" para se referir à presidente Dilma Rousseff transformou-se numa espécie de xingamento, "uma palavra que difama, portadora de uma carga de censura comparável a 'machista' e 'racista'"; trata-se, segundo ela, de uma estratégia de "fundir e potencializar desgastes"; "É preciso lembrar o tempo todo que Dilma é filiada ao PT, este que é acusado de ter recebido propinas sob a forma de doações eleitorais, não bastasse o mensalão. Este que é xingado nas ruas, não bastasse a rejeição altíssima à própria presidente", afirma (Foto: Tereza Cruvinel)


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Ler o Antonio Prata aos domingos é tomar um sorvete de açaí depois do purgante de notícias ruins na política e na economia. Elas são ruins pelo que informam, pelo que deformam e pelas implicâncias que não escondem. Neste domingo o Prata fala da exumação de uma lembrança, a da menina Madalena que, numa escola da adolescência ele e os outros garotos achavam feia. Mas agora, pensando bem, ele devaneia, em sua simplicidade ela tinha a beleza morena da Camila Pitanga. Eles é que não tiveram olhos de vê-la, olhos então voltados para loiras com a Xuxa e suas espevitadas paquitas. Seguem-se alguns comentários sobre as voltas que o mundo e a cabeça de cada um dá com o passar do tempo e, no final do texto entra em cena o super-ego: “Penso nos comentários que esta crônica irá gerar. Vão me chamar de petista? De machista? De racista?”

Mais uma vez a constatação de que “petista” virou um xingamento,  uma palavra que difama, portadora de uma carga de censura comparável a “machista” e “racista”.  Prata não tem nada com isso, ele só registrou o que está no ar. Ou melhor, nas bocas.  Mas o xingamento  verbal, este que explode nas discussões em família, nos bares, na praia, na lanchonete do trabalho,  é mais compreensível, apesar da carga de preconceito.  Surge no calor das discussões e atende aos comandos da raiva.  Para não ser xingado, aquele petista que enfrentava as discussões saiu de cena. Mais do que de petista, seria chamado de “petralha”. Enfrentar a turma do impeachment na rua, nem pensar. Faz parte.

Mais estranha é uma nova prática jornalística que é uma forma dissimulada de xingar.  Trata-se do costume,   que nunca existiu no jornalismo brasileiro e em pouco tempo tornou-se corriqueiro, de referir-se à presidente Dilma como “a petista”.  Desde quando os presidentes da Republica tiveram seus nomes substituídos pela filiação partidária?  Nos tempos mais recentes, alguém se lembra de ter lido matéria  sobre FHC que dizia: “O tucano declarou também que....”.  E o que dizer de seu antecessor Itamar, que quando presidente nem tinha filiação partidária? Collor jamais foi  chamado de perrenista (seria este o nome de um filiado ao PFR?).  Sarney,  que foi do PDS, filiou-se ao PMDB só para ser vice de Tancredo na transição. Ai de quem, naquele tempo, o chamasse de peemedebista.  E antes dele eram os generais. E antes deles e do golpe,  nunca chamaram Getúlio de “o petebista” nem JK de “o pedessista”.  E para ficar no PT, Lula foi apelidado de tudo mas não era chamado de “o petista”.

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Mas Dilma, como uma insistência notável por parte de repórteres de todas as mídias, é chamada de “a petista”. Quem não tiver notado que confira. As matérias começam  citando “a presidente Dilma Rousseff”, depois fazem referências a “Dilma”, o que é normal, e a seguir tascam um “a petista” isso e aquilo.

Trata-se, é claro, de uma estratégia de “fundir e potencializar desgastes”.  É preciso lembrar o tempo todo que Dilma  é filiada ao PT,  este que é acusado de ter recebido propinas sob a forma de doações eleitorais, não bastasse o mensalão.  Este que é xingado nas ruas, não bastasse a rejeição altíssima à própria presidente. Chamar Dilma de petista é um modo de xingar os dois. Algo assim: o país esta neste miserê por culpa dela, e ela é culpada porque é petista. 

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Que os líderes da oposição ataquem Dilma lembrando sua filiação partidária, é do jogo.  Que tentem colar nela acusações que são feitas ao PT, e não à presidente da República, é da luta política. O que não é próprio do bom jornalismo é participar deste “bulying moral” com esta inovação técnica, a de referir-se ao governante de todos os brasileiros, porque eleito pela maioria, por sua filiação partidária, uma condição que se torna secundária a partir da posse.  Dilma, convenhamos, nem tem sido tão petista ao ponto de justificar a metonímia. Está aí o PT pedindo mudanças na política econômica. 

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