O ano em que fascistas definiram alvos e cores

Camisa do PT, bandeira de movimentos sociais ou a simples discordância motivaram agressões por todo o país; políticos e personalidades, como Chico Buarque, foram vítimas da intolerância; artigo de Alceu Castilho

Camisa do PT, bandeira de movimentos sociais ou a simples discordância motivaram agressões por todo o país; políticos e personalidades, como Chico Buarque, foram vítimas da intolerância; artigo de Alceu Castilho
Camisa do PT, bandeira de movimentos sociais ou a simples discordância motivaram agressões por todo o país; políticos e personalidades, como Chico Buarque, foram vítimas da intolerância; artigo de Alceu Castilho (Foto: Alceu Castilho)


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Por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho), do blog Outras Palavras

Em agosto, uma mulher vestiu-se de vermelho e caminhou pela Avenida Paulista, em São Paulo. Foi chamada de “putinha”, “vagabunda”, “corrupta”, “velha doida”. Manteve a dignidade:

17/08 (São Paulo): “Dama Vermelha”: a história da mulher que enfrentou o ódio na Paulista

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Outros que ousaram vestir vermelho – ou defender o governo, ou combater o golpismo – durante manifestações de direita foram xingados, agredidos, expulsos do local. Em muitos casos, com escolta policial absolutamente tolerante às agressões:

15/03 (BH): Em Belo Horizonte, faixas pediam intervenção militar e camisa do PT foi pisoteada por participantes 
15/03 (Manaus): Manifestantes atearam fogo na bandeira do PT em Manaus
16/08 (Rio, São Paulo, Curitiba): Protestos anti-PT registram agressões a quem veste camiseta vermelha
15/03 (Rio): Comunista apanha e sai de camburão

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O ódio mais recente ao Partido dos Trabalhadores (que recicla o velho ódio ao comunismo) foi um dos motores dessas expressões fascistas em 2015. Ao lado da covardia, do espírito de manada que acossa manifestantes pouco instruídos e pouco tolerantes. Mas não o único. Basta discordar:

15/03 (Rio): Nas areias de Copacabana, homem é hostilizado e expulso de protesto contra Dilma por portar bandeira de luta pela moradia 
31/03 (Rio): Jovem diz ter sido agredido por PMs após contestar ato pró-militares no Rio
16/08 (Londrina, PR): Estudantes da UEL são agredidos em protesto contra governo em Londrina
02/11 (Natal): Jovens são agredidos covardemente por líderes pró-impeachment na cara de policiais; manifesto pede punição

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SEM LIMITES

Houve até quem se dispusesse a invadir residências, tamanho o descontrole:

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15/03 (São Paulo): Em São Paulo, manifestantes ameaçam invadir um sobrado ocupado por sem-teto
28/02 (Chapecó, SC): Em Chapecó, invasão para retirar bandeira do MST

Bebê no colo? Fascista que é fascista não está nem aí:

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19/05 (São Paulo): SP: com bebê no colo, ex-CQC é hostilizado por “paneleiros”

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Note-se, aliás, que a intolerância política caminha de mãos dadas com outros obscurantismos:

15/04 (Belo Horizonte): Grávida que posou de lingerie é agredida verbalmente em BH

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SAUDADES DA DITADURA

Em muitos momentos foi como se estivéssemos em 1964. Defensores da ditadura, da tortura, colocaram suas garras para fora, numa escala ainda maior que a dos protestos de 2013 – quando já se desenhava a intolerância obscurantista nas ruas:

15/03 (Recife): Ato em Recife tem hino das Forças Armadas e defensores da ditadura
15/03 (São Paulo): Ex-agente do Deops vira celebridade no 15 de Março paulistano

E, se é para ter saudades do último regime ditatorial, alguns se propuseram a fazer o pacote completo:

31/07 (São Paulo): Instituto Lula é alvo de ataque a bomba

Esta notícia de janeiro mostra que um coronel defensor do nazismo ajudou a incitar a pancadaria da polícia, no Rio:

03/01 (Rio): Oficiais da PM do Rio incitaram pancadaria contra black blocs

Vale assinalar que a pujança intelectual não se revela o forte de alguns desses manifestantes:

12/04 (São Paulo): Integralista xinga Montesquieu e pede fim da divisão dos Poderes

‘HOSTILIZADOS’

A intolerância não ocorre apenas nas manifestações contra o governo. Sair às ruas pode ser motivo para linchamentos morais. E a imprensa nem sempre mostra atenção especial a essas violências.

Observem a palavra utilizada nos títulos abaixo para os insultos sofridos por Chico Buarque, no Rio, e João Pedro Stédile, em Fortaleza:

23/09 (Fortaleza): Líder do MST é hostilizado no aeroporto de Fortaleza
22/12 (Rio): Chico Buarque é hostilizado por grupo antipetista no Rio

No caso de Chico Buarque, boa parte da imprensa falou que o músico se envolveu em um “bate-boca” – quando o vídeo mostra que, mesmo sendo chamado de “um merda”, ele se comportou de modo civilizado.

Outras personalidades foram ofendidas e intimidadas em lugares públicos. Entre eles, políticos. Como o ministro Patrus Ananias, o ex-senador (e secretário dos Direitos Humanos em São Paulo) Eduardo Suplicy e o ex-ministro Guido Mantega. Este último, mais de uma vez. Em um restaurante e em um hospital.

‘ISTO É UMA DEMOCRACIA’

A senhora que vestia vermelho na Paulista lembra, singelamente, que vivemos em uma democracia. As imagens dela sendo agredida pelos manifestantes e a fleuma com que reage às ofensas estão entre as mais significativas de 2015:

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