A Síria é aqui
Aqui em Goiás, um horror societário acontece cotidianamente com o aval político e econômico do Governo do Estado, com medidas e ações de política econômica que enriquece minorias ricas na exata medida e proporção em que empobrece, mais ainda, o amplo mundo de miseráveis
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O jornal "O Popular" de 11/02/2016 traz como manchete principal o quase grito: "Assaltos disparam 99% na capital". Produzida pela jornalista Rosana Melo com a colaboração de Vandré Abreu a matéria ocupa as páginas 04 e 05 e busca retratar a problemática sem-fim do atual quadro da segurança pública (?) de Goiás.
Impactante e, em certa medida, desesperador, o texto de Melo e Abreu é espécie de "breviário do mal" e que representa a vigorosa e pujante escalada da violência em Goiás.
Com dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública e Administração Penitenciária (SSPAP) e pareceres de entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seção Goiás, o artigo analisa as oito modalidades de crime de maior repercussão e incidência na vida dos goianos: 1. homicídio; 2. tentativa de homicídio; 3. latrocínio; 4. estupro; 5. roubo de transeunte; 6. roubo a residência; 7. roubo a comércio e; 8.roubo de veículos.
Com um quadro analítico muito bem constituído e disposto são analisadas as seguintes regiões: Goiás, Goiânia, Aparecida de Goiânia e Entorno do DF.
Com informações evidentemente sub-notificadas, sobretudo, no quesito estupro, a matéria contribui para discussões outras e correlatas. Por exemplo, para Goiás, o item homicídio, apresenta a série histórica 2011 - 2015 com amplo crescimento, ou seja: 2011: 1984 assassinatos; 2012: 2.426 assassinatos; 2013: 2.583 assassinatos; 2014: 2.575 assassinatos (sensível queda na relação com o ano anterior!) e; 2015: 2.651 assassinatos. Um escandaloso e ameaçador aumento de 33,6% no período.
Essa modalidade de crime para Goiânia se apresenta da seguinte forma: 2011: 479 assassinatos; 2012: 547 assassinatos; 2013: 595 assassinatos; 2014: 628 assassinatos e; 2015: 553 assassinatos (leve redução!). Desta forma, um crescimento expressivo de 15,4% na série analisada.
De outro modo, as demonstrações são verdadeiras abominações que revelam a falência das políticas de segurança pública de Goiás e o pavoroso movimento de crescimento desta mesma tendência caso governo e sociedade não operem imediatamente na construção de outra forma civilizacional. Isso mesmo... Estes dados, como já citado, sub-notificados, indicam a falência de uma sociabilidade, de um tipo relacional prevalecente e da própria forma civilizacional e que nos impuseram.
Gostaria de considerar que as quatro modalidades de crimes que, de fato, e diretamente violentam a vida humana (homicídio, tentativa de homicídio, latrocínio e estupro) representam para Goiás, em 2015, a impressionante cifra de 5.754 crimes. É mais ou menos como se ocorressem 16 crimes estupidamente violentos todos os dias.
Imaginem os telejornais noticiando de primeiro de janeiro a 31 de dezembro dezesseis crimes bárbaros em Goiás acontecidos em todos os seus dias? Não seria estranho?
Estes números não são apenas dados; são signos de morte, sinais de falência, símbolos da ruína societal erigida sob a mediação da mercadoria e do consumo "ad aeternun" para a glória e redenção da "superior" sociedade "de mercados".
O pecado da matéria é que, típico da "emprensa" brasileira, foge-se da politização, da necessária politização de tal tema. Não estou falando de partidarização, mas de politização e em sua maior e melhor acepção pública, social e de interesse comum.
Essas mortes atingem preferencialmente quem? Pessoas brancas? Negras? Homens? Mulheres? Jovens? São pessoas das periferias? De bairros nobres? Empresários morreram? Quantos? E trabalhadores? Desempregados? "Biscateiros"?
Quem perpetrou esses crimes? São crimes aleatórios ou são expressões ativas de organizações criminosas e que faz tempo, tomaram conta de Goiás? Quantos foram mortos pelo braço armado do Estado?
Pois bem, vou cometer um exagero, mas... A Guerra da Síria, ainda em curso e que já dura quatro absurdos anos produziu, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), 240.000 mortos; destes, 12.000 são crianças.
Para esse "moedor de gente" foi preciso de uma crise internacional que jogou os preços do petróleo e derivados nos subterrâneos da economia; de uma onda continental de protestos contra a crise econômica que arrasou com o Oriente Médio e o Norte da África e que fora batizada como "Primavera Árabe"; foi preciso que se derrubassem diversos presidentes desta mesma região; necessário ainda do envolvimento de todos os países do Oriente; mais quatro potências internacionais e nucleares (Rússia, Estados Unidos, China e Israel); grupos terroristas e separatistas como o Estado Islâmico (EI), Al Qaeda, além de grupos menores.
Segundo a OSDH estes números incluem 42.384 mortos entre combatentes sírios (rebeldes, curdos, desertores e jihadistas). A entidade revela ainda que entre combatentes jihadistas estrangeiros o número de mortos chega a 34.375. Desta forma, tem-se portanto e, de fato, um contingente de 76.759 combatentes mortos no conflito. Eu disse combatentes... Gente que, de fato, foi pra guerra... Guerrear!
Com alguma análise geopolítica acerca da Síria, tem-se que este já arruinado país, fronteiriço com países igualmente beligerantes como Jordânia, Líbano, Iraque, Turquia e, é claro, o eterno desafeto Israel enfrenta o pior conflito de sua história milenar a partir de uma ampla convergência de fatores nacionais e internacionais e sem os quais a atual e bestial guerra e que por lá se apetece jamais teria acontecido.
Aqui em Goiás, sob a gestão do tucano Marconi Perillo, um horror societário acontece cotidianamente com o aval político e econômico do Governo do Estado, com medidas e ações de política econômica que enriquece minorias ricas na exata medida e proporção em que empobrece, mais ainda, o amplo mundo de miseráveis de Goiás.
Nossa guerra é feita, tecida e articulada por aqui mesmo; as variáveis são nossas; a geopolítica assimetricamente conformada entre capital e trabalho e potencializada pelo péssimo juízo de governo que dilapida o público, o comum e o possível projeta internamente uma Síria só para nós, uma amarga Síria para uma população entorpecida com tantos impostos, péssimos serviços públicos e de futuro expropriado.
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