“Andar de cima” tem de contribuir com ajuste

O Congresso Nacional, que já alterou o seguro desemprego, abono salarial e pensão por morte, tem obrigação de também cobrar a contribuição do 'andar de cima'. É o início de melhorarmos a distribuição de renda pela tributação

O Congresso Nacional, que já alterou o seguro desemprego, abono salarial e pensão por morte, tem obrigação de também cobrar a contribuição do 'andar de cima'. É o início de melhorarmos a distribuição de renda pela tributação
O Congresso Nacional, que já alterou o seguro desemprego, abono salarial e pensão por morte, tem obrigação de também cobrar a contribuição do 'andar de cima'. É o início de melhorarmos a distribuição de renda pela tributação (Foto: Gleisi Hoffmann)


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Do Blog do Esmael

Apesar dos nossos avanços sociais nos últimos anos, que não são poucos, o Brasil ainda é um dos países que apresenta a maior diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres. Uma das causas principais desse resultado é a baixa tributação da parte mais rica da população, que vive da renda do capital (juros, lucros, dividendos) e não da renda do trabalho. Esta é mais tributada no nosso país.

Essa situação nada tem a ver com questões meramente econômicas, mas sim com decisões políticas tomadas ao longo da nossa história. Como diz Thomas Piketti em seu Capital no século XXI "A história das desigualdades é moldada pela forma como os atores políticos, sociais e econômicos, enxergam o que é justo e o que não é... Ou seja, ela é fruto da combinação de forças de todos os atores envolvidos".

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Temos a chance, agora, de começar a mudar essa situação. Nessa semana discutiremos, no Congresso, a Medida Provisória que aumenta o imposto sobre o lucro dos bancos. Enviada pela presidenta Dilma, a MP propõe aumentar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido dos bancos de 15% para 20%. Faz parte do pacote de ajuste fiscal, e visa buscar a contribuição do "andar de cima" para enfrentarmos a crise.

Como relatora da Medida, apresentei duas grandes mudanças ao texto. Passo a CSLL dos bancos para 23%, baixando para 17% para as cooperativas de crédito, e proponho a redução gradual, para o fim em três anos, do chamado Juros sobre Capital Próprio, uma espécie de benefício tributário para reduzir o Imposto de Renda das grandes empresas no Brasil. Uma jabuticaba tributária que só existe aqui.

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Os bancos tiveram, no primeiro trimestre deste ano, lucros elevados, apesar das dificuldades econômicas por que passa o país. Obviamente que a absurda taxa de juros básica de 14,25% contribuiu para isso. Nada mais justo que com esta lucratividade deem uma contribuição maior para a sociedade brasileira.

A alíquota de 23% trará uma arrecadação crescente nos próximos anos, projetada para R$ 6 bilhões/ano em 2017. Se compararmos ao lucro dos bancos no último trimestre deste ano ainda é uma contribuição bastante modesta: o Bradesco obteve seu maior lucro trimestral na história, anunciando ter registrado lucro líquido contábil de R$ 4,473 bilhões. No caso do Itaú-Unibanco, o banco registrou lucro líquido de R$ 5,984. Nos três meses anteriores, o lucro havia sido de R$ 5,73 bilhões. O Banco do Brasil teve lucro de R$ 7,4 bilhões. Já Caixa e Santander lucraram menos, porém, ainda assim, resultados expressivos de R$ 1,5 bilhão e R$ 1,6 bilhão.

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Já o Juro sobre Capital Próprio abre mão de uma arrecadação de cerca de R$ 4 a 5 bilhões/ano. Funciona assim: o acionista, ou dono da empresa que recolhe Imposto de Renda pelo lucro real, recebe juros do governo quando aplica seu capital na própria empresa. É isso ai. Essa taxa é limitada a TJLP (taxa de juros de longo prazo).

Ele multiplica seu capital líquido pela TJLP e desconta o resultado do IR a pagar.

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Isso foi criado por FHC, na implantação do Plano Real e era para ser transitório. Faz 20 anos, e vamos ser sinceros, não foi isso que impulsionou os investimentos das grandes empresas, apenas garantiu uma remuneração maior do capital.

O Congresso Nacional, que já alterou o seguro desemprego, abono salarial e pensão por morte, tem obrigação de também cobrar a contribuição do "andar de cima". É o início de melhorarmos a distribuição de renda pela tributação, enquanto aguardamos, e lutamos, pelo Imposto sobre Grandes Fortunas.

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