Esse PT não me serve mais

O PT é, e sempre será, o partido da minha adolescência e da minha juventude (meus amigos, querendo, continuarão sendo meus amigos), mas ele não é mais no que acredito para conduzir esse país a um estágio superior

O PT é, e sempre será, o partido da minha adolescência e da minha juventude (meus amigos, querendo, continuarão sendo meus amigos), mas ele não é mais no que acredito para conduzir esse país a um estágio superior
O PT é, e sempre será, o partido da minha adolescência e da minha juventude (meus amigos, querendo, continuarão sendo meus amigos), mas ele não é mais no que acredito para conduzir esse país a um estágio superior (Foto: Pedro Maciel)


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A decepção ou desilusão é o sentimento de insatisfação que surge quando as expectativas sobre algo ou alguém não se concretizam, a decepção costuma tirar nossa paz.

Estou profundamente decepcionado e ela trouxe consigo uma tristeza que pulsa incômoda, além de uma frustração eloqüente, a qual fala à minha consciência.

A decepção é dor da alma e é proporcional ao tempo, valor simbólico e intensidade da expectativa. Estou me referindo ao que sinto em relação ao PT hoje.

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Esclarecimentos: (i) não sou filiado ao PT; (ii) nunca fui dirigente do partido, mas fui - e ainda sou - visto e identificado com ele, em razão de minha militância intensa e anos anos 80, especialmente na faculdade de Direito da PUC de Campinas e, creio, (iii) também  em razão do afeto genuíno que tenho e mantenho por alguns dirigentes, ex-dirigentes, militantes e figuras consideradas importantes “no ou do” PT, (apesar de ter ao longo da minha vida buscado outros espaços cidadãos de ação política).

Os tempos se nos apresentam caóticos e apesar do caos, da decepção, a esperança me faz crer que esse caos não traz apenas anarquia ou desordem, o caos anuncia uma nova ordem.

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A atual crise política por mais artificiosa que seja, por mais que seja fomentada por setores da imprensa (que inegavelmente trata de forma diferente os iguais), por mais que tenha causas que não são verdadeiras, sendo verdadeiros simulacros, seus efeitos são verdadeiros.

Fato é que está sendo decepcionante constatar a incapacidade de diversos atores políticos, que gozam da confiança de Lula e Dilma, em desconstruir feudos de malfeitos e pior ainda: vê-los acusados de participação ou omissão em diversos casos.

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O PT hegemonizou um processo novo na política brasileira, apresentou políticas sociais de reconhecido sucesso, investiu, multiplicou o PIB, gerou milhões de empregos, retirou duas dezenas de brasileiros da miséria, ou seja, fez o que se espera de um governo social-democrata inserido num mundo liberal.

Há, portanto, legados inegáveis, mas não fez até agora uma autocrítica pública e humilde dos erros cometidos.

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Quais erros? Ora, não se justifica um gerente da PETROBRÁS ter e manter milhões de dólares numa conta no Principado de Mônaco, assim como não se justifica um Diretor da mesma empresa manter “seus” milhões em conta da Suíça. É sobre isso que escrevo hoje.

Penso que quadros do PT não souberam usar do poder concedido pelo povo como legitimo e necessário instrumento de mudança e tornaram-se desprezíveis representantes de interesses e vantagens corporativas e, o que é pior, o PT perdeu a conexão orgânica com os movimentos sociais legítimos e com os setores produtivos éticos.

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E o PT não dá sinais que fará sua mea-culpa, sendo assim não me serve mais, pois alguns de seus quadros traíram milhões de filiados e simpatizantes e macularam sua principal bandeira: a moralidade pública e a transparência em tudo o que faria. Reside ai minha decepção.

Aquele punhado de corruptos e de ladrões do dinheiro público, dentro da Petrobrás (nomeados e mantidos por, praticamente, TODOS os partidos) traiu os mais de um milhão de filiados do PT, traiu os seus simpatizantes, seus militantes anônimos e envergonharam a nação, por isso devem responder por seus atos e pagar por suas escolhas.

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A verdade é que em 12 anos o PT fez muita coisa boa, algumas excepcionais, mas não promoveu nenhuma reforma estrutural necessária; nem agrária, nem tributária, nem política. Por que não fez? Lula chegou a ter mais de 80% de aprovação e folgada maioria no congresso nacional.

O PT “perdeu a mão” e perdendo-se tornou-se um partido igual ou pior, tudo em nome da governabilidade. E a conseqüência foi depender, para a manutenção da tal governabilidade, dos setores não éticos do mercado e do Congresso.

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Se tivesse promovido a reforma agrária, por exemplo, de modo a tornar o Brasil menos dependente da exportação de commodities e favorecido mais o mercado interno dependeria menos dos corruptores e dos corruptos.

Se ousasse fazer a reforma tributária recomendada por juristas, economistas desenvolvimentistas, priorizando a produção e não a especulação teria assegurado a governabilidade prioritariamente pelo apoio dos movimentos sociais e os setores produtivos éticos.

Assim teria sido possível - desde o primeiro dia - dissipar as estruturas de corrupção postas desde antes de sua chegada ao poder.

A decepção reside no fato de o PT, que surgiu para ser um partido diferente, não ter identificado e acabado com a corrupção e vermos parte de seus quadros direta ou indiretamente envolvidos nisso tudo. Se o PT não é o responsável pela implantação da corrupção no país ele falhou nos controles internos.  Penso que agora cabe a Policia Federal, ao Ministério Público Federal e ao Poder Judiciário (sem espetacularizar os fatos) investigar, denunciar e condenar exemplarmente os responsáveis, cada um dos agentes do nojento esquema de corrupção.

O PT envelheceu, burocratizou-se e muitos de seus quadros, como afirmou Tarso Genro, ficaram cada vez mais distantes da sociedade, excessivamente ligados ao governo e à implantação das políticas públicas e eu acrescento: outros se corromperam.

Repito: não estou a ignorar a existência, entre seus quadros, de muita gente boa, políticos honestamente comprometidos com as lutas populares, com o desenvolvimento social e econômico do país, não é isso, mas o Partido dos Trabalhadores precisa de um choque de sociedade e fazer autocrítica. Minha critica estendo a todos, partidos e pessoas, que apóiam acriticamente o Partido dos Trabalhadores.

O PT é, e sempre será, o partido da minha adolescência e da minha juventude (meus amigos, querendo, continuarão sendo meus amigos), mas ele não é mais no que acredito para conduzir esse país a um estagio superior, à social-democracia e por isso nem todo o carinho do mundo pode impedir, e não me impede, as criticas necessárias, pois quem está em paz consigo, está em paz com todos. Postas as coisas nesses termos seguirei defendendo o Estado de bem-estar social, o Estado de Direito e a Democracia.

Pedro Benedito Maciel Neto, 51, advogado, sócio da MACIEL NETO ADVOCACIA, autor de “Reflexão sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007

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