Depois do fiasco de domingo, o golpe ficou mais difícil

A nova estratégia é adiar a decisão do Congresso para depois do recesso, o que lhes daria mais tempo para a cooptação de novos deputados e trabalhar o desgaste do governo com a valiosa ajuda da mídia



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Atribui-se ao general Charles De Gaulle a frase segundo a qual "o Brasil não é um país sério". A afirmativa, que na época causou indignação entre os brasileiros, parece confirmar-se com o panorama atual do país, onde os absurdos se tornaram normais, estarrecendo quem ainda usa o cérebro para pensar e ama este solo. É espantoso, por exemplo, que enquanto um ex-presidente vendilhão da pátria é incensado pela grande mídia como se fosse herói, outro ex-presidente, que tirou 40 milhões de brasileiros da pobreza e colocou o país entre as grandes potencias mundiais, é caçado como se fosse criminoso. É revoltante que se tente arrancar do poder, através de golpe traiçoeiro, uma presidenta legitimamente eleita que não cometeu nenhum crime. Será que o general francês tinha mesmo razão?

Na verdade, num país sério e democrata um candidato derrotado em eleições livres e limpas aceitaria a vontade do povo e não ficaria tumultuando a vida da Nação, criando um clima de instabilidade e insegurança e provocando recessão. O novo presidente argentino, por exemplo, foi eleito por uma diferença menor do que a registrada nas últimas eleições presidenciais brasileiras, mas o candidato derrotado, longe de contribuir para ampliar as dificuldades do seu país, não apenas cumprimentou o vitorioso como, também, se colocou à disposição para ajudar na solução dos problemas nacionais. Diante desse exemplo, o senador Aécio Neves e sua troupe deveriam envergonhar-se do mal que estão fazendo ao Brasil mas, felizmente ou não, vergonha é algo que só existe na cara de quem é sério e ama o seu país.

O povo brasileiro, ao contrário do que pensam os tucanos e companhia, não compactua com golpistas, como ficou bastante claro nas manifestações do último domingo. Apesar do apoio da mídia e da convocação nas redes sociais e de politicos, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique, o número de manifestantes no ato pro-impeachment foi tão pífio que a TV Globo fez malabarismos na tomada de imagens para mostrar público. Apenas uma pequena parcela de brasileiros ingênuos ainda se deixa influenciar pela mídia que, transformada em partido político, abandonou a sua missão de informar para atacar o governo todos os dias e perseguir Lula, pintando um quadro caótico do país. O saudoso Millôr Fernandes já dizia: "Acho que uma das grandes culpadas das condições do país, mais do que as forças que a dominam politicamente, é nossa imprensa. Repíto, apesar de toda a evolução a nossa imprensa é lamentavelmente ruim".

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Ao convocar o povo para pedir o afastamento da presidenta Dilma Rousseff, o ex-presidente FHC disse que o impeachment "se impõe quando há desrespeito à Constituição e quando, simultaneamente, o governo perde sustentação na sociedade e perde apoio no Congresso". Em seu cinismo crônico ele fala como se o povo fosse idiota e não percebesse que quem desrespeita a Constituição é o seu partido, que quer conquistar o poder de qualquer maneira, tentando afastar a Presidenta sem nenhuma base legal. Dilma não apenas não desrespeitou a Constituição, o que já lhe teria custado o mandato por decisão do STF, como não perdeu sustentação na sociedade e no Congresso, onde tem aprovado todas as matérias do interesse do governo. Em sua senilidade, FHC deve achar que o povo é burro e cego, e não vê as manobras golpistas realizadas pelos tucanos com a participação do vice-presidente Michel Temer e do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara.

Aliás, depois de desmascarado, Temer não mais se preocupou em esconder que vinha há tempos conspirando para derrubar Dilma e assumir a Presidência da República. E parece estar tão confiante na aprovação do impeachment que até já realiza reuniões reservadas com a cúpula tucana e outros partidos oposicionistas, além de empresários, para montar o seu ministério. O que surpreende é o cinismo e a hipocrisia dos conspiradores, entre eles Eliseu Padilha que, não conseguindo mais camuflar a traição ao governo que servia, exonerou-se do Ministério da Aviação para acompanhar o seu chefe. Eles trabalharam tão bem na conspiração que não despertaram suspeitas e prova disso é que Dilma confiou tanto neles que lhes entregou a articulação politica. Agora já se sabe que eles estavam articulando, mesmo, era o afastamento dela.

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Diante do fiasco das manifestações de domingo último, que tirou dos golpistas o argumento do apoio popular, eles buscam agora uma nova alternativa para atingir seus objetivos. A nova estratégia é adiar a decisão do Congresso para depois do recesso, o que lhes daria mais tempo para a cooptação de novos deputados e trabalhar o desgaste do governo com a valiosa ajuda da mídia, contribuindo desse modo para o agravamento dos problemas com o aumento da inflação, o desemprego, a recessão. Para eles, pouco importa as dificuldades enfrentadas pelo povo, desde que conquistem o poder. A esta altura, no entanto, com o desmascaramento da trama para derrubar a Presidenta, mesmo que ela não tenha praticado nenhum crime, a tomada do Palácio do Planalto parece ter ficado mais difícil, pois a esmagadora maioria do povo brasileiro não mais se deixa enganar pelos falastrões, como FHC e Aécio Neves, nem pelo noticiário tendencioso da grande mídia.

Por outro lado, a já desmoralizada Câmara dos Deputados, sob o comando de Eduardo Cunha, não terá autoridade moral para conduzir um processo de julgamento da presidenta Dilma Roussef. Os golpistas, portanto, se quiserem continuar com o processo de impeachment terão primeiro de livrar-se de Cunha, cuja cassação é unanimidade entre a população. E se a própria Câmara não fizer essa cirurgia, através do seu conselho de ética, correrá o risco de ser mais uma vez desmoralizada por uma decisão do Supremo Tribunal Federal determinando o afastamento do parlamentar da presidência da Casa. De qualquer modo, a decisão, parta de onde partir, deverá ocorrer antes do recesso, pois ninguém – nem a mídia, que se acumplicia com qualquer iniciativa destinada a derrubar o governo – aguenta mais ver Cunha, com todas as acusações que pesam sobre seus ombros, manipulando um contingente de mais de 500 deputados para manter-se no cargo e preservar o seu mandato.

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Basta!

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