O primeiro 8 de Março depois do golpe contra uma mulher

"É inegável que a quebra da ordem constitucional teve também uma nítida dimensão misógina", afirma o deputado Wadih Damous (PT-RJ), que lembra da "campanha de sabotagem da qual o governo da presidenta Dilma foi vítima"; "E neste primeiro 8 de Março – Dia Internacional da Mulher depois do golpe, se olharmos para trás, os avanços e conquistas extraordinários das mulheres merecem efusiva comemoração. Contudo, os indicadores alarmantes de violência contra o sexo feminino e toda sorte de discriminação de gênero fortemente presente na sociedade brasileira fazem dessa data um dia de luta", diz; "Nenhuma nação que se pretenda civilizada pode conviver com uma realidade como essa. Viva a luta das mulheres!", defende o deputado

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dilma (Foto: Wadih Damous)


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É evidente que o golpe de estado que depôs da presidência da República uma mulher honrada e de inquestionável compromisso público e republicano atendeu aos interesses estratégicos dos rentistas, do agronegócio, dos grandes conglomerados empresariais e dos grupos monopolistas da mídia brasileira.

No entanto, é inegável que a quebra da ordem constitucional teve também uma nítida dimensão misógina. Durante toda a campanha de sabotagem da qual o governo da presidenta Dilma foi vítima, não faltaram charges e montagens gráficas grosseiras no intuito de desqualificá-la por sua condição de mulher. O machismo a serviço do golpe não mediu esforços para passar aos incautos a imagem de uma mulher autoritária, de difícil trato e pouco afeta ao diálogo. Ou seja, uma desequilibrada, como o machismo costuma pintar as mulheres hoje em dia.

E neste primeiro 8 de Março – Dia Internacional da Mulher depois do golpe, se olharmos para trás, os avanços e conquistas extraordinários das mulheres merecem efusiva comemoração. Contudo, os indicadores alarmantes de violência contra o sexo feminino e toda sorte de discriminação de gênero fortemente presente na sociedade brasileira fazem dessa data um dia de luta.

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Luta por isonomia salarial com os homens – na média, exercendo as mesmas funções e com maior escolaridade, elas ganham 70% do recebido pelos homens; luta por empoderamento político – as mulheres, embora sejam 54% da população, ocupam apenas 10% das cadeiras do Congresso Nacional. Algo semelhante acontece nas empresas, no Judiciário, nos governos, em todas as casas legislativas, nas Forças Armadas e demais instituições públicas e privadas.

Mas esse Dia da Mulher deve servir especialmente para denunciar que o Brasil se tornou um dos piores países do mundo para se nascer mulher. A violência contra o sexo feminino não para de crescer em nosso país, conforme consta do relatório sobre violação dos direitos humanos no Brasil em 2016, divulgado pela Anistia Internacional.

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Em que pese contar com um arcabouço legal avançado para a proteção das mulheres, como a Lei Maria da Penha, que está completando dez anos, e a Lei do Feminicídio, as taxas de violência física (inclusive letais) e psicológicas registradas ano após ano no Brasil são motivo de vergonha nacional.

Reportagem publicada pela revista CartaCapital desta semana exibe dados estarrecedores: o Brasil é o 5º colocado no ranking mundial de assassinatos de mulheres, com 13 feminicídios por dia, cujas vítimas, em média, têm entre 15 e 29 anos; 50,3% dos homicídios são cometidos por familiares; entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%; 527 mil estupros acontecem anualmente; 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados, amigos ou conhecidos; em 70% dos casos as vítimas dos estupros são crianças ou adolescentes.

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Entidades feministas e de direitos humanos apontam, entre os fatores responsáveis pelo aumento vertiginoso da violência contra a mulher, a dificuldade para a aplicação da lei, fruto da cultura machista presente na polícia, no Ministério Público e no Poder Judiciário. Com frequência, esses operadores do direito, contrariando todas as evidências, se negam a enquadrar agressores de mulheres na legislação específica, optando por considerá-los autores de lesões corporais.

Nenhuma nação que se pretenda civilizada pode conviver com uma realidade como essa. Viva a luta das mulheres!

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