Abuso afetivo. Quando o amor se transforma em dominação e violência

Quase invisível, de forma imperceptível, o abuso afetivo se configura no momento em que o excesso de amor se transforma em dominação e violência.

Abuso afetivo. Quando o amor se transforma em dominação e violência
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Por: Pascale Senk – Le Figaro Santé 

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Trata-se de um pequeno “excesso” de quase nada. A chantagem de um amigo a outro – “Se você não for ao bar conosco, nós não iremos”- ou o humor fora do lugar de uma avó a suas netas – “Se vocês quiserem uma parte da herança que vou deixar, comecem por me dizer bom dia!”- À cada vez, sob o disfarce de uma banal reflexão, o que se exprime nessas frases é na verdade uma mensagem cheia de coisas não-ditas que, durante muito tempo, ficaram reprimidas.

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As festas familiares, aniversários, casamentos, Natal, são geralmente ocasiões ideias para esses lançamentos de farpas e de cobranças muitas vezes disfarçadas de gentilezas e agrados.

O psiquiatra Christophe André estuda essas maneiras bem humanas de “se morder psicologicamente”, comparando-as ao comportamento de alguns gatos que, quando são acariciados de modo demasiado insistente, se voltam súbita e brutalmente para arranhar a mão que os acaricia... Quando as relações afetivas de uma pessoa em relação a outra tornam-se excessivas, quando vão além da conta, existe sempre o risco de vê-las se transformarem em grosserias abusivas, e até mesmo em lamentáveis estratégias de manipulação e dominação.

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Maus tratos sutis

A psicoterapeuta francesa Aliette de Panafieu se especializou há anos nessa questão das violências psicológicas “comuns”. Ela dirige reuniões e work-shops nos quais cada um dos participantes aprende a identificá-las e sobretudo a compartilhar a experiência, sem ser jugado nem contestado.

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Trabalhando na questão, Panafieu afinou sua percepção desses desconfortos quase invisíveis: “Apesar dela ser sutil ou negada pela nossa cultura, existe violência em algumas situações banais e familiares”. Aliette de Panafieu faz um inventário dos abusos mais frequentes dessa natureza: “Falar de alguém na terceira pessoa como se ele não estivesse presente, como se ele apenas fizesse parte da decoração do lugar”; “fazer uma piada, passar um trote, ou criar uma brincadeira de gosto duvidoso cujo sentido escapa à pessoa concernente”; “os jantares onde os cônjuges acertam as contas”; etc. Tanto nas famílias quanto nos ambientes de trabalho e outros, é comum que uma grosseria sutil e mal educada se instale de modo insidioso.

No entanto, proclamar regras comportamentais não é, segundo Panafieu, a solução, pois ninguém saberia julgar e avaliar o real grau de sofrimento de uma outra pessoa. Nessa matéria, é a emoção – não importa se somos a vítima ou uma simples testemunha – que nos permite identificar se um abuso afetivo está se manifestando. “A primeira etapa de todo um trabalho destinado a tornar consciente tais processos e aprender a controla-los, é treinar a si mesmo para prestar atenção e reconhecer quando a irrupção de algum comportamento abusivo está acontecendo”, explica a psicoterapeuta. “É o momento no qual a ‘bolha’, o tempo-espaço físico, emocional ou psíquico de uma pessoa não está mais sendo respeitado”.

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O indicador é, em primeiro lugar, a emoção que aflora. Assim, em face daquela colega, por exemplo, que lhe diz sem pestanejar: “Então você vai começar um curso intensivo de ioga? Vou me inscrever junto com você, nas mesmas datas!”, sem sequer perguntar a sua opinião a respeito, um sentimento de tristeza e de impotência lhe invade. Ou em face daquele pai que “cutuca” e provoca sem parar a sua filha adolescente, Panafieu observa que no rosto da garota se instala uma expressão sombria.

Identificar a emoção que se instala

Como reagir a essas pequenas punhaladas que surgem no dia-a-dia da relação afetiva? “Encontrando a energia para sair do triângulo vítima-carrasco-salvador”, explica Panafieu. Críticas, discussões, reações à queima-roupa, bem como os julgamentos, não servem para nada. O agressor geralmente age por impulso e não tem consciência clara de como está se comportando. Em revanche, manifestar de modo simples e claro ao agressor o que você está sentindo, ou testemunhando, com frequência permite o restauro da relação.

Estar presente na situação e ser simplesmente capaz de perguntar à vítima “O que você está sentindo?”, ou, quando você for a própria vítima, identificar a emoção que está aflorando e vê-la como um alerta benfazejo, permite uma mudança essencial de paradigma. Para Aliette de Panafieu, trata-se de uma nova ecologia relacional que é possível de ser criada. “Durante muito tempo não víamos os males causados pelo açúcar, ela explica a título de exemplo. Muito bem, no contexto das relações, acontece a mesma coisa”.

 

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