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Saúde

Uso frequente do celular pode afetar a quantidade de espermatozoides, diz estudo

Pesquisadores avaliaram quase três mil homens e constataram o aumento de até 30% no risco de eles terem a contagem do sêmen abaixo dos padrões da OMS

Aparelho celular (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
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Por Fernanda Bassette, Agência Einstein - Usar o celular muitas vezes ao dia pode afetar a produção de espermatozoides no homem, implicando na menor concentração e quantidade total de esperma. A concentração seminal é um dos parâmetros que mostram o potencial reprodutivo – se há a redução da concentração espermática, ela pode impactar a fertilidade masculina. A constatação é de uma pesquisa feita pela Universidade de Genebra, na Suíça, em colaboração com o Instituto de Saúde Pública e Tropical. Os resultados foram publicados na revista Fertility and Sterility e acendem um alerta para os potenciais riscos para a saúde reprodutiva masculina em função do uso excessivo de aparelhos eletrônicos. 

Para chegar aos resultados, os pesquisadores avaliaram dados de 2.886 homens, que tinham entre 18 e 22 anos e foram recrutados para o serviço militar entre os anos de 2005 e 2018. Além de coletar amostras de sêmen dos voluntários, eles também responderam um questionário sobre os hábitos de vida e de saúde no geral, além de questões comportamentais, como com que frequência fazem uso do aparelho celular e onde guardavam o aparelho quando não o utilizavam. 

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Os resultados do estudo mostraram que a concentração média de espermatozoides e sua contagem total foram significativamente menores nos homens que acessavam seus telefones mais de 20 vezes por dia, se comparados com os que usavam menos o aparelho. Isso significa que aqueles que faziam uso excessivo do celular apresentaram, respectivamente, 30 e 21% mais riscos de terem os parâmetros de concentração espermática e a contagem total dos espermatozoides abaixo dos valores mínimos de normalidade, que são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Um dado importante é que o estudo não encontrou associações consistentes entre o uso de telefones celulares e a motilidade (a capacidade de o espermatozoide se movimentar até encontrar o óvulo) ou a morfologia (o formato) dos espermatozoides.  

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“O estudo mostra que houve casos de homens com parâmetros de contagem e de concentração de espermatozoides muito abaixo do estabelecido pela OMS, o que significa que estavam anormais”, diz o ginecologista Roberto de Azevedo Antunes, responsável pelo Ambulatório de Infertilidade Conjugal do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (Sbra). 

O estudo não define, no entanto, o que foi considerado como o tempo de uso do aparelho. Como as respostas foram dadas em um questionário geral, a percepção pessoal de cada voluntário sobre o que é considerado uso poderia ser diferente. “O que é considerado como o uso do celular? Responder uma mensagem de e-mail? Olhar redes sociais? Fazer uma ligação? Ficar com o aparelho na mão por mais de cinco minutos? Não sabemos. Mas, independentemente disso, o ponto relevante do estudo é o número de voluntários e, por mais divergências que possam existir nas respostas, claramente observamos uma associação entre a maior exposição ao celular e a piora nos parâmetros espermáticos”, comenta Antunes.  

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Por que isso acontece? - Apesar de esse estudo demonstrar claramente a associação entre a quantidade dos gametas masculinos e o maior uso do aparelho de celular, ainda não há um entendimento completo de como e por que isso acontece – não é possível afirmar, por exemplo, que o uso do celular é a causa do problema.  

“Uma das hipóteses seria a interferência das ondas eletromagnéticas emitidas pelos aparelhos em uso. Mesmo em stand by, os smartphones mais atuais estão o tempo todo conectados em aplicativos. Ainda não temos um entendimento completo de como essas ondas poderiam prejudicar a produção dos espermatozoides. O que sabemos é que elas podem provocar um aquecimento na região onde está o celular e esse calor poderia ser uma das causas de prejuízo na produção de espermatozoides, já que os testículos preferem produzir espermatozoides numa temperatura mais baixa do que a corpórea”, explica Daniel Suslik Zylbersztejn, urologista especializado em reprodução humana do Hospital Israelita Albert Einstein e médico coordenador do Fleury Fertilidade. 

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Os pesquisadores constataram, por exemplo, que os homens que tiveram menor concentração e contagem total de esperma também eram homens que fumavam e bebiam mais, em comparação com os outros voluntários. Beber e fumar são fatores de risco, associados a hábitos ruins de vida, que podem impactar a saúde como um todo, incluindo a saúde reprodutiva.  

“Esse trabalho tem um impacto interessante. Nem todos os homens nascem com o mesmo potencial de produção dos espermatozoides. E o estudo mostra que eles podem ser afetados de forma mais importante com o uso mais frequente do celular. Em homens já suscetíveis, com uma espermatogênese mais frágil, o uso constante do celular acaba tendo um papel mais relevante na redução do potencial de produção”, sugere Zylbersztejn. 

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Para Antunes, mesmo não sendo possível afirmar que as ondas eletromagnéticas do celular sejam a causa do problema, os resultados servem de alerta para questões que envolvem o estilo de vida do homem. “Vários estudos mostram que, quanto mais tempo usamos as telas, maior o risco de ficarmos acima do peso, mantermos hábitos não saudáveis (como beber e fumar) e não praticarmos exercícios físicos. Isso nos acende um alerta real, afinal, o sedentarismo e a obesidade estão associados à piora da qualidade do sêmen. Independentemente da questão tecnológica, uma coisa leva à outra e o uso excessivo do celular pode ser mais um marcador de risco da piora da saúde reprodutiva”, diz. 

A maioria guarda o celular no bolso da calça - Em relação ao local onde o celular era guardado enquanto não estava em uso, 85,7% dos homens informaram que punham o aparelho no bolso da calça, 4,6% deixavam em suas jaquetas ou em outro lugar e 9,7% mantinham o aparelho em um local fora do corpo. A boa notícia é que o estudo constatou que o volume do sêmen, a motilidade e a morfologia dos espermatozoides não foram associados à posição do celular quando ele não estava em uso. 

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“O estudo mostra que não houve uma diferenciação de acordo com o local onde os homens guardavam o celular com a piora nos parâmetros espermáticos. Mas isso não quer dizer que não haja problema em o celular ficar o tempo todo no bolso da calça, muito próximo da bolsa testicular. Do ponto de vista de cuidado, a gente pede que o homem não deixe o celular em uso dentro do bolso (para ouvir músicas, por exemplo) porque o aparelho aquece, vai liberar mais ondas eletromagnéticas próximas do testículo e isso não é adequado. A nossa orientação é, sempre que possível, tirar o celular do bolso e colocar numa mesa, mais longe do corpo”, alerta Zylbersztejn. 

Segundo o especialista, ainda há poucos estudos em humanos que conseguem fazer essa associação entre o celular e a produção de espermatozoides porque existem muitos fatores confundidores. O que há hoje são basicamente estudos experimentais (feitos em animais), ou in vitro, utilizando o sêmen de humanos.  

“Alguns estudos in vitro mostram que existe a diminuição da motilidade e o aumento da fragmentação do DNA desses espermatozoides quando se utilizam as ondas eletromagnéticas. O estudo suíço não demonstrou isso, mas é importante lembrar que estudos in vitro são completamente diferentes de estudos da vida real. O celular é indispensável, e usamos para absolutamente tudo: trabalho, diversão, mídias sociais e até para falar ao telefone. É muito difícil isolar o efeito único das ondas eletromagnéticas no uso de vida real do telefone. Ainda precisamos de mais estudos para entender o prejuízo real”, finaliza o urologista do Einstein.  

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